Antigamente,
em uma pequena aldeia litorânea do Japão, havia um
jovem pescador chamado Shijira. Ele vivia numa modesta casa com
sua mãe, uma senhora de idade avançada e de pouca
saúde.
-Mãe,
estou saindo para pescar.
-Tome cuidado, filho.
Devido a uma longa estiagem que se abateu sobre o Japão,
aquele foi um péssimo ano para a plantação
de arroz e verduras. Isso provocou a alta no preço dos
cereais. Shijira, que era pobre, ficou sem condições
de comprar arroz e outros mantimentos. Ele e sua mãe passaram
a sobreviver se alimentando apenas com o que conseguiam pescar
diariamente no mar.
Shijira
era um bom filho. Por isso, quando conseguia pescar pouco, preparava
para a mãe e, ele mesmo, ficava muitas vezes sem comer.
Fazia massagens nos ombros dela e costumava dizer com carinho:
-Mãe
viva bastante, o pai já se foi e só me resta você.
Não vá me deixar sozinho na vida.
Certo dia Shijira saiu para pescar em seu barco. Passou o dia
inteiro tentando mas não conseguiu pegar nada. Já
estava ficando desanimado quando sentiu que algo estava beliscando
a isca. Deu um puxão na vara e viu que havia apanhado uma
linda concha.
-Ora,
uma concha apenas de nada adianta. Dizendo isso atirou a concha
de volta ao mar. Pouco depois sentiu novamente que algo estava
beliscando a isca. Deu novo puxão e mais uma vez havia
pescado uma concha.
-Engraçado
parece a mesma concha...Assim pensando, jogou-a novamente ao mar.
E pela terceira vez percebeu que algo continuava beliscando a
isca. Novamente puxou a linha e viu que tinha na sua ponta a mesma
concha.
-Algo estranho está acontecendo. É a mesma concha!
Não é possível a mesma concha ser fisgada
três vezes seguidas.
Shijira
colocou a concha no barco e começou a observá-la.
A concha começou a crescer, a crescer, a crescer, ficou
enorme, ocupando quase todo o barco e adquiriu um brilho de inexplicável
beleza.
-Meu Deus o que está acontecendo ?! Que negócio
é este?
De repente, a concha se abriu e dentro dela havia uma moça
lindíssima, sentada e com trajes em seda pura.
Assustado,
Shijira chegou a fazer reverências, pensando que era uma
deusa do mar.
-Oh! É a princesa Otohime, do castelo do Rei Dragão!
Quanta honra recebê-la em meu barco. Perdoe-me por meu barco
estar tão sujo...
Então,
a linda visitante respondeu:
-Não sou Otohime. Sou alguém que não tem
para onde ir. Estou perdida. Por favor, deixe-me ficar em sua
casa.
-Mas...
minha casa é pobre e velha. Não é digna para
receber uma pessoa da nobreza como você.
Shijira ficou com vergonha de receber em sua casa uma moça
tão fina, mas ela insistiu tanto que ele acabou cedendo.
Remando com grande emoção conduziu o barco até
a praia.
-Espere
um pouco, disse Shijira, e correu em direção à
sua casa. Lá chegando, contou à sua mãe tudo
o que havia acontecido.
-Uma bela princesa não se deixa esperando, meu filho. Vá
buscá-la correndo. Dizendo isso, a velhinha logo começou
a limpar, apressadamente, a casa.
Como
ela estava descalça, Shijira carregou-a nos braços
até a casa. A mãe do rapaz recebeu a bela donzela
feliz da vida dizendo:
-Princesa, você pode ficar o tempo que quiser em nossa casa.
E quem sabe tornar-se a esposa de meu filho.
A fama
de que a bela princesa que saiu de dentro de uma concha ia se
tornar a esposa do pescador Shijira correu de boca em boca por
todos os lugares. De várias regiões vieram pessoas
visitar Shijira só para ver a tal princesa. Todos traziam,
infalivelmente de presente, duas coisas consideradas de grande
utilidade na época: rolo com linha de seda e uma tigela
de arroz.
A casa
do pescador ficou abarrotada de arroz. Mãe e filho ficaram
muito felizes, pois depois de muito tempo, puderam encher a barriga
com o arroz que tanto gostavam.
-Ah!
Como é gostoso o arroz branco! Isso foi possível
graças à princesa Hanaguri que veio a nossa casa,
para ser sua esposa, filho... dizia a velhinha que não
cansava de tentar arranjar uma esposa para Shijira.
Continua...
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