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Arquivo NippoBrasil - Edição 093 - 1º a 7 de março de 2001
 
A gratidão da Garça (Tsuru no Ongaeshi) - Parte 3

Adaptação livre de Claudio Seto
(Texto e desenhos: Claudio Seto)

 
O barulho que era forte
De repente o ritmo perdeu
E como se houvesse um corte
O som quase desapareceu

O moço ficou preocupado
Com a saúde da amada
Sabia agora que ela estava
Totalmente abalada

Pensou em abrir a porta
Da cabana do tear
Mas lembrou-se da promessa
E teve que se segurar

Porém o tempo foi passando
A ansiedade foi aumentando
E o nervo à flor da pele
Nada mais segurou ele

Enorme susto levou
Abrindo a porta de repente
Quem no tear trabalhava
Era uma garça e não gente


Que vida sacrificada!
A pobre garça cansada
Com a própria pena arrancada
Para tecer usava desfiada


O susto foi tão grande
Que moço quase perde a fala
Estava casado com uma garça ?
Que enigma ! Que mandala !

A garça responsável pela charada
Ao ser vista em sua forma original
Ficou por demais envergonhada
E transformou-se na esposa angelical

O susto inicial passado
Tudo ficou explicado
- Sou aquela garça ferida
Que você salvou a vida

- Graças a grande bondade
Desse seu enorme coração
Fiquei livre da armadilha
Onde eu estava tolhida

- Para mostrar minha gratidão
E amenizar sua solidão
Tornei-me uma garça encantada
Para ser a sua amada



- Queria minha gratidão mostrar
Para meu espírito apaziguar
Pois para sempre a vida lhe devo
E quero muito lhe pagar

- Mas isso tornou-se impossível
Pois você quebrou a promessa
Continuar assim é dor de cabeça
Não posso por mais que você peça

- Você me viu como animal
Em minha forma original
Devo viver daqui para frente
Como sou ao natural

- É a lei da selva, a lei da magia
Pois seu ato quebrou o encanto
Agora sem fazer simpatia
Devo curtir o desencanto

Aos poucos ela foi mudando
Numa garça transformando
E voou para o infinito
Deixando o moço aflito


O desespero foi aumentando
O coração acelerando
E o rapaz saiu na corrida
Gritando - Volte querida

- Não quero dinheiro
Muito menos ser festeiro
Não sonho com mesa farta
Só lhe peço que não parta

- Sem você não sei viver
É de morrer, acordar e nào te ver
Não quero sofrer assim
Só quero você perto de mim !

O moço caiu de joelho
Exausto de tanto correr
No gelo que se fez espelho
Viu a garça desaparecer

 

COMENTÁRIO
“A Gratidão da Garça” ou Tsuru no Ongaeshi como é chamada em japonês é uma antiga lenda que tem como tema principal o on - uma questão ética e moral muito enraizada na cultura do povo. Essa palavra, ou conceito, pode ser traduzida por aproximação como dívida de gratidão (que inclui favores ou benefícios recebidos, graça, bondade e benevolência). O on como conceito é muito amplo, podendo a dívida de gratidão ser uma obrigação moral hierárquica em relação ao imperador (ko on), aos pais (oya on), ao chefe (nushi no on), ao professor (shi no on) ou on circunstânciais durante a vida, como no caso desta lenda. A garça foi salva de uma armadilha deixada por um caçador, e tornou-se devedora de on ao jovem da montanha. E ele em relação a ela passa a ser seu onjin (Homem do on).

Na ética japonesa on é uma dívida que precisa ser paga custe o que custar. Portanto é um pesado fardo a ser carregado e nem sempre pagável durante uma vida inteira. O pagamento desta dívida de gratidão chama-se ongaeshi (que é o título desta lenda) e o ato ou empenho que uma pessoa faz no sentido de cumprir essa obrigação de pagar é considerado virtude. Portanto esta lenda que numa tradução literal chamaria “O Pagamento da Dívida de Gratidão da Garça” poderia muito bem ser traduzida como “A virtude da Garça”.

É interessante observar que por desconhecimento desse antiga código de ética moral, muitos contos ou novelas românticas japonesas, quando traduzido para línguas ocidentais, são interpretadas erroneamente como submissão da mulher japonesa. Outra característica das lendas e contos do Japão é que raramente terminam em happy end como acontece no ocidente. Nesta lenda por exemplo, a garça encantada não conseguiu pagar devidamente sua dívida de gratidão, porque um imprevisto surgiu no meio da história: a ganância. E o rapaz que era bondoso, humilde e solitário, viveu por alguns dias momentos nunca experimentado de felicidade à dois. Mas na preocupação de dar melhor condição (material) para sua amada e para sí, deixou-se levar pela imprevista ganância. E como acontece em muitas lendas japonesas os dois foram infelizes para sempre.

 
Adaptação livre de Claudio Seto
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