Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto e desenhos: Claudio Seto)
O
RETORNO
Ubirajara logo notou que muitas coisas haviam mudado
por lá. Onde existiam pequenos casebres de pescadores estavam
cheios de prédios de apartamentos. As ruas beira mar haviam
se transformado em largas avenidas ajardinadas, asfaltadas e iluminadas.
As pessoas que encontravam pelo caminho eram todas diferentes
das que ele conhecia.
- Incrível,
como pode ter mudado tanto em tão pouco tempo se pelos
meus cálculos devo ter ficado no Palácio do Dragão
no máximo três meses? A mudança era tão
grande que ele não conseguia encontrar seu barraco.
- Informação
por favor. o senhor sabe onde fica a casa do pescador Ubirajara
Tarô ?
- Eu nasci aqui e não conheço ninguém com
esse nome. Respondeu o transeunte.
- Impossível,
a julgar por aquele morro lá no fundo da cidade, devia
ser por aqui. Insistiu Ubirajara.
- É... pensando bem, acho que quando eu era criança,
ouvi dizer que existiu um pescador com esse nome. Os velhos comentavam
que um dia, ele saiu para pescar e nunca mais voltou. Comentavam
até que Iemanjá, a Rainha do Mar o levou junto das
oferendas da sua festa. Mas isso é uma história
tão antiga que já nem sei direito, disse o homem
meio na dúvida.
- E a casa dele, como ficou?
- Ora,
como ele morreu no mar, construíram um shopping center
no terreno dele, que fica logo ali.
Ubirajara Tarô compreendeu então, que ao invés
de três meses já haviam passado dezenas de anos.
Caminhou em direção onde morava para ver a situação.
Ao chegar no shopping foi reconhecido por três senhores
elegantes, com cara de empresários.
- Meu
Deus - disse um deles - como você se parece com um pescador
que morava aqui!
- Pois sou eu mesmo, Ubirajara Tarô.
- Impossível,
se Tarô estivesse vivo teria mais de 100 anos e você
ainda é um moço.
- E como você percebeu que sou parecido com ele?- Perguntou
o pescador.
- Há
muitos e muitos anos atrás, quando nossos pais ainda eram
garotos, eles encontraram uma tartaruga - disse um dos empresários.
- Eles cuidavam da tartaruguinha com muito carinho e amor!, completou
o outro empresário.
- Nisso
apareceu o pescador Ubirajara Tarô e vendo aquela tartaruga
tão bem tratada, ficou com vontade de tê-la como
animalzinho de estimação e comprou de nossos pais,
pagando muito mais do que ela valia - Contou o terceiro empresário,
lembrando que: Ubirajara levou um azar danado, porque assim que
pagou, a tartaruguinha escapou de suas mãos e fugiu para
o mar.
- Mas
nossos pais tiveram sorte, porque aplicaram o dinheiro dele em
fundos de rendimentos e a grana foi aumentando. Quando cresceram
eles já tinham dinheiro suficiente para iniciar negócio
próprio. Como Ubirajara Tarô tinha desaparecido,
montaram uma casa de comércio no terreno dele, que foi
crescendo até transformar-se neste shopping.- Esclareceram
os empresáraios.
- Achamos
você parecido com o Ubirajara Tarô porque temos a
foto dele, que foi encontrada, quando nossos pais demoliram a
casa dele para constuir esse belo prédio, comentaram.
- Acontece que sou Ubirajara Tarô e posso provar fazendo
exame de impressão digital. - disse o pescador.
- Olha
meu jovem, o que você está dizendo é complemente
absurdo, pois se você fosse o Ubirajara, teria mais de 100
anos, pois quando nossos pais o conheceram , eles ainda eram garotos.
e o pescador tinha mais ou menos a sua idade - Comentou um dos
empresários.
- Mesmo que fosse, o que é totalmente impossível,
não teria mais direito ao terreno, pois agora é
nosso por uso capião, lembrou o outro.
- Antes
de pedir que se retire de nossa propriedade, por acaso você
não quer fazer uma compra, aqui no shopping? Temos loja
que vendem peixinhos coloridos e tartarugas -disse em tom de gozação
- Quero
comprar todas as tartarugas para soltar - disse Ubirajara.
- Mas você tem dinheiro para pagar ?
- Sim, em moedas de ouro vejam.
Ao
ver as moedas, os olhos dos empresários brilharam de ganância.
Então Tarô contou toda história para eles.
Os três concluíram que de onde veio aquelas moedas
douradas, deve existir muito mais, pois Tarô contou que,
até as paredes do palácio eram de ouro.
Pensando
na possibilidade de encontrar e dinamitar o palácio, para
trazer toda aquela fortuna para eles, os empresários propuseram
ao pescador trocar o shopping center por aquela caixinha, pois
supunham que lá dentro estava o mapa para se chegar ao
Palácio do Dragão, ou um controle remoto para trazer
o robô-tartaruga de volta.
Como
Tarô ainda conservava a juventude, pensando em aproveitar
o dinheiro que tinha, aceitou a proposta. Assim que passaram as
escrituras, os empresários receberam a caixa de Tarô,
e abriram babando de ganância.
Qual
não foi a surpresa ao constatar que dentro da caixa só
havia uma fumaça branca, que cobriu os três empresários.
Nesse momento ocorreu uma transformação. Os três
foram ficando com os cabelos os brancos e a cara cheia de rugas.
Em questão de segundos pareciam que tinham mais de 100
anos.
De
longe Ubirajara Tarô observou como ele teria ficado se tivesse
aberto aquela caixinha. Aliás, os três ficaram exatamente
com a aparência da idade real de Ubirajara.
O jovem pescador, agora dono de um shopping center e várias
moedas de ouro, deu um sorriso maroto e completou:
- Ainda
bem que eu conheço a lenda de Urashima Tarô que minha
avó japonesa sempre contava. Caso contrário, eu
teria aberto aquela caixinha com bafo de dragão e não
teria dado um jeitinho brasileiro para ter este final feliz.
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