Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto e desenhos: Claudio Seto)
Há
muito e muito tempo, quando ainda o Japão era chamado de
Ashi Hara no Mizuho no Kuni (País dos Juncos e dos Campos
das Espigas de Arroz, vivia no monte Takachihô, na ilha
de Kyushu, uma misteriosa ninfa chamada Kogyoku Hime (Princesa
de Jade). Contam os relatos antigos que essa lendária criatura
era bela como a primeira nuvem da manhã. E como uma
concha recoberta de algas, tinha apenas por veste a longa cabeleira
esparsa. Vivia à beira de um riacho tranqüilo,
cantando lindas canções em homenagem à Konohana
Sakuya Hime, a princesa Floração. Sua voz era mais
suave que o canto da brisa nos yanagui-no-yu (salgueiros em flor)
e encantava a todos os habitantes da floresta.
Um
dia, dois oni (demônios) feios que só eles, resolveram
conquistá-la à força, já que ela sequer
olhava para eles.
Os
dois foram até as margens do riacho e a surpreenderam cantando
distraidamente. Um dos oni agarrou ela pela cintura e saiu carregando-a
em direção de sua caverna. O outro então
tentou puxá-la para si e os dois começaram a lutar
disputando aquele belo troféu. Foi uma luta violenta e
sanguinária. Durante horas os demônios agrediram-se
mutuamente, sem chegar a um resultado, pois a força deles
eram equilibradas. A briga só teve fim, quando depois de
muito machucados, perceberam que a vítima já havia
desaparecido enquanto se agrediam.
Resolveram
então que cada um deveria agir sozinho. E dividiram o tempo
para não dar tréguas a bela ninfa.
O primeiro
oni esperou a hora em que o orvalho se cristaliza sobre a rosa,
e saiu sorrateiramente em busca da princesa Kogyoku. Mas, em vez
da ninfa encontrou um pequeno arbusto coberto de flores miúdas
e rosadas. Era a hortênsia. Depois de esperar muito tempo,
o demônio desistiu do seu intento e voltou para sua caverna.
Ao
entardecer o outro oni tentou aproximar-se da ninfa. Foi até
a beira do riacho e encontrou-a transformada num arbusto coberto
de flores azuis. Como dizem que os demônios não gostam
de flores, o oni desistiu de procurá-la. Kogyoku Hime tinha
a beleza misteriosa e sem defeitos, por isso
narra a lenda - a hortênsia não tem defeitos nem
espinhos e, apesar da falta de aroma, é uma flor encantadora.
Aliás, a hortênsia é símbolo do encanto
feérico.
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