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Arquivo NippoBrasil - Edição 082 - 7 a 13 de dezembro de 2000
 
A Lenda de Ajisai, a hortênsia

Adaptação livre de Claudio Seto
(Texto e desenhos: Claudio Seto)

Há muito e muito tempo, quando ainda o Japão era chamado de Ashi Hara no Mizuho no Kuni (País dos Juncos e dos Campos das Espigas de Arroz, vivia no monte Takachihô, na ilha de Kyushu, uma misteriosa ninfa chamada Kogyoku Hime (Princesa de Jade). Contam os relatos antigos que essa lendária criatura era “bela como a primeira nuvem da manhã. E como uma concha recoberta de algas, tinha apenas por veste a longa cabeleira esparsa”. Vivia à beira de um riacho tranqüilo, cantando lindas canções em homenagem à Konohana Sakuya Hime, a princesa Floração. Sua voz era mais suave que o canto da brisa nos yanagui-no-yu (salgueiros em flor) e encantava a todos os habitantes da floresta.

Um dia, dois oni (demônios) feios que só eles, resolveram conquistá-la à força, já que ela sequer olhava para eles.

Os dois foram até as margens do riacho e a surpreenderam cantando distraidamente. Um dos oni agarrou ela pela cintura e saiu carregando-a em direção de sua caverna. O outro então tentou puxá-la para si e os dois começaram a lutar disputando aquele belo troféu. Foi uma luta violenta e sanguinária. Durante horas os demônios agrediram-se mutuamente, sem chegar a um resultado, pois a força deles eram equilibradas. A briga só teve fim, quando depois de muito machucados, perceberam que a vítima já havia desaparecido enquanto se agrediam.

Resolveram então que cada um deveria agir sozinho. E dividiram o tempo para não dar tréguas a bela ninfa.

O primeiro oni esperou a hora em que o orvalho se cristaliza sobre a rosa, e saiu sorrateiramente em busca da princesa Kogyoku. Mas, em vez da ninfa encontrou um pequeno arbusto coberto de flores miúdas e rosadas. Era a hortênsia. Depois de esperar muito tempo, o demônio desistiu do seu intento e voltou para sua caverna.

Ao entardecer o outro oni tentou aproximar-se da ninfa. Foi até a beira do riacho e encontrou-a transformada num arbusto coberto de flores azuis. Como dizem que os demônios não gostam de flores, o oni desistiu de procurá-la. Kogyoku Hime tinha a “beleza misteriosa e sem defeitos”, por isso – narra a lenda - a hortênsia não tem defeitos nem espinhos e, apesar da falta de aroma, é uma flor encantadora. Aliás, a hortênsia é símbolo do encanto feérico.

 
Adaptação livre de Claudio Seto
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