Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto e desenhos: Claudio Seto)
Era
uma vez, um pescador que morava no litoral paranaense. Seu nome,
Ubirajara Tarô um jovem que vivia numa deliciosa preguiça
vendo a vida passar, sem se preocupar em ter sucesso financeiro.
Andava meio desgostoso da profissão é verdade, porque
os turistas tinham espantado todos os peixes daquela localidade.
Um
dia, caminhando tranqüilamente pela praia, viu três
pestinhas judiando de uma tartaruga. Tarô deu uma bronca
na molecada e mandou que deixassem a tartaruga em paz.
Mas,
as crianças não concordaram porque estavam adorando
aquela brincadeira. Ver a tartaruga esperneando desesperada, com
o casco da barriga virada para o céu, era melhor que ficar
em casa assistindo o programa da Xuxa pela tevê, ou desenho
dos Tartarugas Ninjas.
Como
a lenda tem tema aquático, Taro pensou em dar uns cascudos
nos meninos, mas notando que por perto haviam dois grandalhões,
verdadeiros bois marinhos, que bem podia ser os pais dos garotos,
pensou em outra saída, não tão honrosa, mas
usual até em Brasília, para salvar tartarugas.
- Eu
compro essa tartaruga, -disse Tarô, num gesto humanitário.
- Tá vendido. Passa a grana!
Foi uma negociação tão rápida, que
Tarô sequer teve tempo para pechinchar. Então acariciando
a tartaruguinha, soltou-a no mar, desejando-lhe mais sorte da
próxima vez, até porque, sua grana andava curta
e não daria para comprar novamente a liberdade do animalzinho.
A tartaruguinha
que normalmente é vagarosa, saiu correndo feito carro de
fórmula 1 e mergulhou apressadamente no mar. Enquanto via
sua protegida desaparecer no meio das ondas, Taro pensou em ter
notado um tchauzinho de agradecimento por parte da tartaruga.
No
dia seguinte quando Ubirajara Tarô pescava solitário
numa praia deserta, de repente, ouviu uma voz chamando-o. Então
pegou o celular e respondeu:
- Alô!, alô!. Mas o telefone dava apenas sinal de
linha. - Gozado... pensei ter ouvido uma voz...acho que estou
ficando pirado. Preciso parar de assistir novelas na televisão.
- Assim pensando continuou pescando.
Nisso
ouviu novamente, aquela a voz que chamava por ele:
- Tarô-san, Tarô-san, sou eu. Estou aqui na água
O Ubirajara ficou perplexo ao ouvir aquele modo de chamá-lo.
Tarô-san, era o modo como sua avó japonesa
o chamava quando criança. Havia mais de 20 anos que ninguém
se dirigia a ele daquele modo. Isso encheu o seu lado japones
de seu sangue de emoção. O pescador ficou contente
e disse em direção da voz:
- Obaatian
onde está a senhora ?
- Obaatian é sua vovozinha, - respondeu a voz.
Taro ficou mais perplexo ainda, ao perceber que estava conversando
com uma tartaruga.
- Espera aí, tem coisa errada nessa história, tartaruga
não fala ! - Disse o pescador assustado.
- Como não, isso aqui é uma lenda, e nas lendas
não existem preconceitos verbais contra os animais - disse
a tartaruga, que perguntou logo em seguida:
- Está
lembrado de mim?
- Devo?
- Sim sou aquela tartaruga que você salvou nesta praia dias
atrás.
- Mas como cresceu tão de repente, de um dia para outro?
Você está enorme !
- Não
confunda, eu não cresci nada. Sou a voz que você
está ouvindo, o que você está vendo é
uma tarataruga-robô made in Japan. Minha voz está
sendo transmitida através dela daqui do Palácio
de Dragão. Aliás, contei para a Deusa do Mar como
você salvou a minha vida, e ela pediu para convidá-lo
à visitar seu palácio, pois quer lhe agradecer pessoalmente.
Aquilo
despertou grande curiosidade ao pescador, porque sua avó
japonesa, contava uma lenda nipônica a respeito desse palácio.
- Então o Palácio do Dragão realmente existe?,
-perguntou Tarô entusiasmado.
-
Existe sim, mas você é o primeiro brasileiro convidado
a vir aqui, os outros preferem o paraíso fiscal. Suba nas
costas do robô- tartaruga que ele vai trazê-lo para
cá.
Assim
que Ubirajara Tarô montou no casco da tartaruga atômica,
iniciou uma suave viagem ao alto mar. Depois, a voz pediu para
ele abrir um pequeno compartimento nas costas do robô e
tomar a pílula de respirar dentro dágua. Assim,
a tartaruga atômica mergulhou ao fundo do mar. Foi uma viagem
inusitada e maravilhosa. Um caminho sem leito, mas cheio de peixinhos
coloridos e estrelas do mar. Pouco depois, Ubirajara chegava a
uma enorme e iluminada redoma de vidro que abrigava uma cidade
futurista, tendo ao centro um lindo palácio.
Na
entrada do palácio o pescador foi recebido por uma linda
deusa.
- Você é a Iemanjá ? - Perguntou Taro.
- Não. Meu nome é Toyotama Hime, bem vindo a Ryugyu
(Castelo do Dragão) - respondeu a bela divindade de traços
orientais.
Tarô
sentiu-se no paraíso. Tudo ali era lindo e maravilhoso
e muito mais moderno do que os cenários da lenda que sua
avó contava. A deusa agradecida por ter salvo a vida de
um dos seus súditos submarinos, disse que ele poderia ficar
como hóspede quanto tempo quisesse.
No
palácio havia festa a toda hora e Tarô encantado
com tudo aquilo foi ficando. Em compania da princesa conheceu
toda beleza do fundo do mar, em longos passeios à dois,
nadando entre corais, plantas e peixes das mais exóticas
cores. Assim, Tarô esqueceu-se completamente de sua casa
e do local onde nasceu e cresceu.
Passado
algum tempo, Taro começou a ficar enjoado daquela vida
de festas e mais festas. Sentiu que apesar de maravilhoso, não
tinha muito sentido como modo de vida. Em sua praia, apesar de
pobre, podia pelo menos praticar uma boa ação, como
salvar uma tartaruguinha e outros bichinhos.
Despediu-se
da deusa, alegando que apesar das praias paranaenses não
serem aquelas coisas, estava com saudade delas. Ao agradeceu a
hospedagem maravilhosa, recebeu da Deusa do Mar, várias
moedas de ouro e uma caixinha chamada Tamatebako, com a seguinte
recomendação:
- Ubirajara
Tarô, como você quer viver entre os humanos, leve
estas moedas de ouro, que vai lhe garantir uma vida tranqüila.
Leve também essa caixinha, mas nunca a abra. Se o fizer,
mesmo que queira, jamais poderá voltar aqui. Adeus.
Com
as moedas num saquinho e a caixinha debaixo dos braços,
sentado no casco da tartaruga, Ubirajara Taro, rapidamente retornou
a praia onde morava. Assim que se desceu do robô-tartaruga,
foi embora em direção da sua casa.
Continua...
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