Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto e desenhos: Claudio Seto)
Os
dias foram passando e o lenhador foi ficando preocupado, impaciente.
- Deve ter acontecido alguma coisa... Ela pode estar passando
mal...Por que tanto silêncio?
No sétimo dia ouviu o choro de uma criança.
-O
bebê nasceu! Kirei saiu correndo emocionado e esqueceu o
que havia prometido. Entrou bruscamente no depósito e ficou
paralisado com o que viu. Sua mulher era uma enorme serpente.
Ela estava carinhosamente enrolada em torno da criança.
Naquele momento o lenhador entendeu porque sua amada as vezes
agia de modo estranho e não podia responder algumas perguntas
pessoais. Chorando por ter quebrado a promessa, ele correu para
o meio da floresta.
No dia seguinte Kihei deparou com a serpente de deixava o depósito.
-Você
quebrou a promessa e desfez o encanto, por isso não posso
mais continuar na forma de mulher. Se não tivesse me visto
eu continuaria sendo sua mulher para o resto da vida. Fui muito
feliz ao seu lado, mas agora preciso de seguir meu caminho, pois
o sonho acabou. Cuide bem da criança.
Em
seguida, num tremendo esforço a cobra fez seu olho saltar
para fora e cair na mão de Kihei, que levou um enorme susto.
-A
criança vai chorar de fome, nessa ocasião você
dá meu olho para ela chupar. Assim ele vai crescer forte
e sadio e não vai passar fome. Adeus meu amor, cuide bem
do menino.
O lenhador caiu em profunda melancolia. Lamentou a sua imprudência
que resultou na quebra de promessa. :Por ele gostaria de ter vivido
o resto de sua vida ao lado da amada. O que amenizava um pouco
sua solidão era o garoto que cuidava da melhor maneira
possível. Sempre que chorava dava o olho que a mãe
havia deixado e assim foi crescendo.
Passado
alguns anos, o tamanho do olho foi diminuindo, diminuindo até
desaparecer completamente. O menino começou a chorar e
não parava mais, pois não tinha o olho para chupar.
Kihei fez de tudo para distraí-lo mas o garoto continuou
berrando aos prantos. Desesperado o lenhador, carregando o filho
saiu a procura da mãe montanha a dentro.
Chegando na beira de um lago, Kihei começou a gritar apelando
para ela aparecer, pois não sabia o que fazer para o menino
parar de chorar. Ouvindo o choro da criança a serpente
a beira do lago emocionada.
-Quanta
saudade, fico feliz que ambos então bem. Se o olho acabou
darei o outro que me resta. Dizendo isso ela fez um grande esforço
e o olho saltou para fora. Kihei ficou emocionado em saber que
o amor de mãe estava acima de qualquer sacrifício.
-Você
ficou sem olhos, podemos fazer algo para ajudá-la? Perguntou
o lenhador.
-Cega não saberei se é dia ou noite. Como vou saber
a idade de meu filho sem poder contar o tempo ? Tudo que peço
é que bata diariamente um sino, ao amanhecer e ao entardecer.
Dizendo isso a serpente mergulhou no lago desaparecendo nas profundezas.
A partir
daquele dia, as badaladas de um sino se fez ouvir diariamente
ao amanhecer e ao entardecer na montanha. Mesmo depois que o garoto
cresceu e não precisou mais chupar os olhos da mãe,
os sinos continuaram soando. O fenômeno espalhou-se por
todas as montanhas do Japão e ainda hoje, passado milhares
de anos, os sinos continua soando ao amanhecer e ao entardecer
na terra do sol nascente.
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