Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto e desenhos: Claudio Seto)
Há
muito tempo, vivia no Japão, um casal de Salmões
conhecidos pelos nomes de Osuke e Kosuke. Todo dia 15 de novembro,
o casal subia o rio Shinano conduzindo um cardume de salmões,
e cantando Ô abre alas que eu quero passar. Abram
alas, nós vamos passar.
Ambos
os peixes mediam três metros de comprimento e tinham ao
longo do corpo linhas prateadas reluzentes, de mística
beleza. Os pescadores da região considerava o par como
casal real e instituíram um acordo segundo
o qual não se lançariam nenhuma rede de pesca no
dia 15 de novembro.
Na
vila de Niigata, situada às margens do rio, vivia um milionário
chamado Tamase, proprietário de muitos campos de arroz
e dezenas de embarcações. Tamase era famoso por
conseguir tudo o que desejava.
Num
certo dia 15 de novembro, Tamase notou que nenhum barco havia
saído para pescar e perguntou o motivo a seus pescadores.
Estes responderam que era o dia dos Salmões Sagrados subirem
o rio e deviam respeitar. Naquele dia, o milionário concordou
com o ponto de vista dos pescadores. Porém com o passar
dos anos, Tamase começou a se incomodar com o fato e disse:
- Isso é um absurdo! São simples peixes e
a crendice de vocês me irrita.
No
ano seguinte, logo no começo do mês de novembro,
o milionário convocou todos os seus pescadores, instruindo-os
para que pescassem os salmões também no dia 15.
Os pescadores contudo retrucaram: - Isso não podemos fazer,
é uma coisa muito terrível ! Se cometermos um desrespeito
desse porte, teremos que pagar muito caro.
Tamase
foi inflexível nessa questão. Deu a ordem e exigia
cumprimento. Aquele que não o obedecesse estaria desempregado.
No
dia 15 de novembro, o rico senhor estava ansioso para ver os pescadores
apanharem os tais reis dos peixes. As redes foram
lançadas mas sempre voltavam vazias. Por mais que os pescadores
atirassem as redes, não conseguiam pescar nenhum peixe.
Tamase corria como um louco a beira da água, gritando desesperadamente:
- seus idiotas, lancem as redes. Mais e mais. Por mais que o poderoso
senhor gritasse, a rede sempre voltava vazia.
Como
o resultado era sempre o mesmo, os pescadores cansados de trabalhar
em vão, acabaram desistindo da pesca e deixando o mandante
sozinho, se retirando para suas casas.
A noite
chegou eTamase ficou olhando fixamente para as águas. De
repente viu uma velha mulher à sua frente, fitando-o silênciosamente.
Tremendo de frio, Tamase tentou dizer alguma coisa em vão.
A velha começou a caminhar em direção ao
rio. O rico senhor chegou a ouvir o chapinhar da água enquanto
se sentia desfalecer.
Abram
alas, eu quero passar. Abram alas,nós vamos passar-
conduzido por Osuke e Kosuke, os salmões vinham subindo
o rio ao mesmo tempo em que o milionário sucumbia em silêncio,
envolto pela escuridão à sua volta.
|