Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto
e desenhos: Claudio Seto)
Tarô
era um jovem pescador que amava a natureza. Levava uma vida tranqüila
numa pequena ilha, que pelo fato de estar atrás de outra
ilha em relação a antiga capital do Japão,
Heian Kyo, era chamada de Urashima (a Ilha do Fundo). Na época
os pescadores japoneses e pessoas comuns não tinham sobrenome,
mas como a história de Tarô ficou famosa em todo
Japão, passaram a chamá-lo de Urashima Tarô
.
Certa
ocasião Tarô caminhava pela praia e encontrou três
meninos que na maior algazarra judiavam de uma pequena tartaruga.
Um puxava o bicho pelo rabo enquanto outra cutucava com um pedaço
de pau e um terceiro chutava o casco do pobre animal. Com a barriga
virada para cima, o indefeso bichinho esperneava atormentado.
- Não
maltratem esse ser tão inofensivo. Ele fez algum mal a
vocês?
- O que você tem a ver com isso? Não se meta onde
não é chamado responderam os moleques
Essa tartaruga é nossa, fomos nós que a encontramos.
Assim,
sem se importar com a reclamação do pescador, continuaram
a judiar do bichinho.
Percebendo que as palavras eram inúteis e não suportando
mais ver o animalzinho ser maltratado, o pescador sacou as únicas
moedas que tinha no bolso e ofereceu aos meninos.
- Quero comprar essa tartaruga. É tudo que tenho
disse Tarô estendendo o dinheiro.
Os moleques entregaram a tartaruga sem pestanejar, apanharam o
dinheiro e saíram correndo felizes da vida.
O pescador
acariciou o casco do bichinho, colocou-o na areia e aconselhou:
- Agora está tudo bem, mas da próxima vez que vir
a praia, cuidado para não se aproximar muito do povoado.
Ao soltar na areia molhada, a tartaruga saiu apressada em direção
das ondas e desapareceu mergulhando.
Sete
dias depois, quando Tarô pescava como de costume em seu
barco, ouviu uma voz que o chamava:
- Tarô-san, Tarô-san, Urashima no Tarô-san!
O pescador levou um susto ao ouvir vozes na solidão do
alto mar e olhou para todos os lados para ver se havia mais algum
barco de pesca nas proximidades. Como só havia em seu redor
céu e mar, Tarô pensou que estava imaginado coisas
e voltou a pescar calmamente.
Novamente ouviu a voz que o chamava:
-Tarô-san, Tarô-san, Urashima no Tarô-san!
Desta
vez a voz estava mais próxima e nítida. O bom som
dava conta que não se tratava de imaginação.
Mas por incrível que possa parecer, vinha de uma enorme
tartaruga que se aproximava do barco. Como não havia ninguém
além dele e da tartaruga, o pescador perguntou:
- Só para ter certeza de que não estou ficando louco,
foi você que me chamou?
- Sim.
Não está me reconhecendo? Sou a tartaruga que você
salvou daqueles meninos malvados. Quero lhe agradecer por tudo
que fez por mim.
-
Ora não é necessário agradecer, se você
está bem fico feliz. Só quero saber como você
cresceu tanto em apenas 7 dias, você está enorme
!
- No
lugar de onde venho o tempo não existe. Você é
ou torna aquilo que sente. Aliás, contei para Toyotama
Hime (Princesa Alma Luxuriante), filha de Shiyozuchi no Kami,
o deus do mar, como você salvou a minha vida , e ela mandou
convidá-lo para visitar o palácio de seu pai, pois
quer lhe agradecer pessoalmente por ter salvado este súdito
do Palácio do Dragão (Ryugu).
- Já ouvi falar desse palácio, dizem que é
muito bonito, todos os pescadores tem a curiosidade de conhecê-lo
um dia.
- Então
suba nas minhas costas e vamos ao Palácio do Dragão.
Tarô
montou no casco da tartaruga um tanto temeroso e deixou se levar
entre as ondas do mar. Nadando suavemente a tartaruga chegou ao
alto mar e começou a mergulhar para as profundezas. O mundo
marítimo que descortinou diante dos olhos do pescador era
maravilhoso. Peixinhos coloridos, e riquíssimas algas marinhas
formavam uma bela e inusitada paisagem. Entre as pedras, exóticas
flores e estrelas do mar davam um toque de mágica e beleza.
Pouco depois, Tarô avistou um enorme clarão de luz.
Ao aproximar mais um pouco, o pescador pode visualizar um enorme
palácio, cercado de corais brilhantes e com lindos telhados
pontiagudos. A entrada era enfeitada de pérolas cintilantes
e as paredes cobertas de ágatas e pedras preciosas de todos
os tipos.
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