Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto
e desenhos: Claudio Seto)
Esta
é uma lenda muito antiga, do tempo em que a civilização
japonesa dava seus primeiros passos na história, e foi
registrado no capítulo 21 de Kojiki, o mais antigo livro
do Japão.
Na ilha Oki, situada na costa oeste do arquipélago japonês,
morava um coelho branco que vivia sonhando em atravessar o pedaço
de mar que separa a pequena ilha Oki da grande Honshu, a principal
ilha do Japão.
O coelho
passava dias e dias na praia imaginando como poderia chegar ao
outro lado do mar, onde tudo parecia maior e mais verdejante.
Um dia observando a enorme cabeça de um tubarão
que sobressaía das ondas. ocorreu-lhe uma idéia.
Então chamou o habitante do mar e puxou conversa tentando
ganhar sua confiança.
Durante
o bate papo, o coelho foi dirigindo a conversa para o lado que
desejava até que, como pretendia, o tubarão perguntou:
- Coelhinho, você deve gostar muito de mar, pois já
o vi olhando durante horas para nossas águas.
- Realmente, passos dias olhando para o mar, porque estou tentando
contar quantos tubarões existem no mundo, pois dizem que
existem mais coelhos que tubarões.
- Acho
que não, disse o orgulhoso tubarão, nós somos
em grande número, mais, muito mais que os coelhos. Acontece
que como vivemos no fundo do mar, somos poucos vistos por vocês
que vivem em terra firme.
- Desculpe-me senhor Tubarão, mas continuo achando que
existem mais coelhos que tubarões, pois somos considerados
os animais mais férteis da terra.
- Se
houvesse um jeito de contar você veria que tenho razão,
insistiu o tubarão.
- Tenho uma idéia e á a única maneira de
tirar isso a limpo. O senhor junta todos os tubarões e
coloca em fila daqui até a praia de Inaba. Daí eu
vou pulando em suas costas e contando um por um. Chegando do outro
lado, chamo meus companheiros e eles vão ficar enfileirados
na beira do mar e vocês contam em quantos coelhos somos.
O tubarão concordou com a proposta do coelho e mergulhou
para ir chamar todos de sua espécie. O coelho suspirou
aliviado, pois finalmente havia uma possibilidade de realizar
seu sonho a grande travessia!
Decorrido
várias horas, o mar começou a borbulhar como uma
grande caldeira fervente. Do meio da agitação foram
surgindo, um atrás do outro, milhares de tubarões
que formaram uma enorme fila serpenteada até o outro lado
do mar.
O coelho mostrou-se admirado com a grande quantidade, dizendo
que jamais tinha imaginado que houvesse tantos tubarões
no mar. Assim começou a contagem, pulando de dorso em dorso,
e tentando disfarçar sua grande felicidade:
- Um, dois, três, quatro...
Quando
chegou pulando próximo da praia de Inaba, o coelho não
cabias em si de contentamento, pois estava prestes a realizar
o grande sonho de sua vida. Dando gostosas gargalhadas de alegria
e continuou pulando, porém esqueceu completamente da contagem,
tal era sua euforia.
Os tubarões então perceberam que foram enganados
e ficaram furiosos. O último tubarão então,
abocanhou o rabo do coelho e resolveu dar-lhe uma lição.
Como castigo arrancaram todos os lindos e brancos pelos do coelho
e o deixaram na praia literalmente pelado.
Com
os pêlos arrancados à força e a pele ardendo
tanto, o coelho ficou chorando sem saber o que fazer.
Nisso
um grupo de 4 jovens irmãos que passavam pela praia, vendo
o coelho sem pelo, caíram na gargalhada pois acharam ridículo
um coelho pelado. Então o mais gozador dos irmãos,
disse:
-Pare
de chorar coelho idiota, vou lhe ensinar como você vai recuperar
seus pêlos perdidos.
- Esperançoso o coelho ouviu o conselho dos rapazes e conforme
recomendaram foi se lavar nas águas do mar, para depois
se secar no vento da montanha. Em seu desespero, mal sabia que
os rapazes estavam lhe pregando uma peça. Molhando se com
água salgada e ficando exposto ao vento sua pele começou
a arder, mais e mais, até que seu corpo ficou completamente
vermelho de ardor. Percebendo que foi enganado, ficou chorando
de dor.
Nesse
momento passava pela praia de Inaba o jovem Ookuni Nushi no Mikoto
(O Grande Mestre da Terra) carregando um enorme saco nas costas.
Ao ouvir o choro do coelho, a divindade perguntou: - Seu corpo
está todo em chagas, que aconteceu com você meu bom
coelhinho?
Ao
ver Ookuni Nushi o coelho a princípio ficou temeroso, que
pregassem outra peça e se recusou a responder , porém
a voz calma e pausada da divindade terrestre, fez perceber que
havia sinceridade nas palavras dele. então o coelho contou
tudo que aconteceu.
Ookuni
Nushi recomendou que ao coelho que lavasse seu corpo esfolado
em um riacho de água pura e deitasse sobre uma forração
feita com algodão de gamá (taboa), que logo seus
pêlos voltariam a crescer. Depois disso a divindade terrestre
seguiu viagem carregando o enorme saco que continha vestes e objetos
de seus 4 irmãos mais velhos (os mesmos que pegaram peça
no coelho) e seguiu viagem.
Fazendo
o que Ookuni Nushi recomendou, em pouco tempo o coelho ficou curado
e seus pêlos cresceram brancos como eram antes. Satisfeito
com o resultado, o coelho disse profeticamente: Esse jovem
que hoje carrega o fardo de seus irmãos, um dia será
reconhecido como a pessoa mais nobre deste país!
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