Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto
e desenhos: Claudio Seto)
Para
amenizar um pouco sua solidão, a princesa Tanabata enviou
uma comitiva de criados para trazer suas irmãs a passarem
um temporada com ela. Quando as duas chegaram aceitando o convite,
a princesa ficou muito contente, pois estava sentindo muitas saudades
de seus familiares. As irmãs, que foram recepcionadas com
um almoço suntuoso, preparado pelos cozinheiros do palácio,
estavam admiradas com tanto luxo lá existente.
- Puxa
que surpresa! Pensávamos que você estivesse casada
com uma cobra horrível e nunca com um deus jovem e maravilhoso.
E por cima morando num palácio com tanta riqueza e inúmeros
criados, disse a irmã mais velha.
- Somos
a família mais rica da província, porém nossa
casa comparado a este palácio não passa de uma cabana,
e nós não passamos de duas pobretonas perto de você,
observou a segunda irmã.
- Podem
levar de presente o que quiserem, objetos não valem nada
comparando com o amor que sinto pelo meu marido, disse Tanabata.
As duas irmãs ficaram tão felizes pela oferta da
caçula e saíram pelo palácio recolhendo pedras
preciosas, tecidos de fina seda, perfumes, cristais e tudo que
viam pela frente. Já estavam sobrecarregadas de presentes,
mas não estavam satisfeitas porque também queriam
a caixinha enfeitada de pérolas que Tanabata guardava com
todo cuidado.
- Essa
caixinha não posso dar, é muito importante, nem
sequer posso abri-la.
Com a curiosidade aguçada, uma das irmã tirou a
caixinha das mãos de Tanabata e correu com ela em tom de
brincadeira. Quando Tanabata conseguiu alcançá-la,
ela atirou a caixinha para outra e caíram na risada. Enquanto
a princesa corria entre as duas, elas se divertiam vendo o desespero
da irmã caçula.
- Por favor, antes de Wakahiko viajar, ele pediu que não
abrisse essa caixinha em hipótese alguma.
Sem
dar ouvidos a ela, as irmãs continuaram com a brincadeira,
até que a caixinha caiu sobre o assoalho de mármore
no pátio e se abriu com a pancada. De dentro saiu uma pequena
fumaça branca que subiu para o céu diante os olhares
atônitos das três.
- Tanto mistério e não tinha nada dentro a não
ser uma fumacinha, disse uma delas, fazendo pouco caso.
Assim
as duas foram embora levando um monte de presentes com a ajuda
dos servos.
A princesa Otohime caiu em prantos vendo aquela caixinha vazia.
Wakahiko avisou que sua volta à Terra tornaria impossível
se a caixinha fosse aberta. Passaram-se 14 dias que ele se ausentara
mas a divindade não voltou. Ela continuou esperando até
o vigésimo primeiro dia e antes que a lua completasse um
ciclo, partiu para o lado leste do lago a procura da casa descrita
pelo divino marido. Lá chegando, pediu para a mulher que
ali residia o objeto chamado itiya hissagoto. Era um objeto relativamente
simples em forma circular. Bastou ela subir no objeto que este
começou a levitar em direção ao céu.
Pouco depois estava num local de incrível claridade. Como
tudo era maravilhosamente cintilante e belo, Tanabata concluiu
que estava em Takama no Hara (Alta Planície Celeste).
Após
sobrevoar nuvens reluzentes a princesa começou a ficar
preocupada, pois o céu era tão grande, tão
grande, que não tinha começo nem fim. Jamais
conseguirei encontrar meu divino Wakahiko nessa planície
infinita, pensou Tanabata. Nesse momento um deus de barba
branca e cabelo grisalho chamado Zenchi no Mikoto surgiu montado
num cavalo branco de asas e indicou a localização
da residência de Wakahiko através de um jogo de adivinhar:
- O macrocosmo é igual o microcosmo, portanto o céu
não é tão grande como você imagina.
Sinto que você ama Wakahiko, portanto ele mora no seu coração.
- Meu coração? Não entendi, pode me explicar
melhor?
- Entenderá,
respondeu Zenchi no Mikoto com simpático sorriso nos olhos,
despediu-se dela e desapareceu tão misteriosamente quanto
apareceu. Tanabata começou a pensar...kokoro (coração)
também pode se pronunciar shin (centro, origem, mente,
essência)...então é isso, ele mora no centro
da Alta Planície Celeste, que deve ficar perto do palácio
de Amaterassu, a Augusta Deusa Sol.
Assim concluindo a princesa voou em direção do brilho
do sol e quando chegou bem próximo do palácio solar,
ouviu uma vez tão conhecida chamando por ela:
- Tanabata! Tanaba! que bom que você veio.
Era
o deus Ama no Wakahiko que corria em sua direção
para abraça-la.
- Eu estava tão triste por não poder mais voltar
a Terra, temia que não tornaria a vê-la.
A princesa Tanabata ficou muito feliz ao encontrar seu marido
e os dois foram ao palácio onde ele morava para matar a
saudade. Na manhã seguinte Tanabata disse a Wakahiko que
não queria nunca mais se separar dele.
-
É exatamente nisso que eu estava pensando e algo me preocupa.
Lá na Terra isso não tinha importância, porém
aqui no céu, nossa união pode trazer problemas.
- O quê tanto te preocupa, meu amor?
- Meu pai detesta seres humanos, e costuma maltratá-los,
pois ele é um oní (demônio). Não sei
se conseguirei esconder você dele por muito tempo. Pois
temo que sofra eternamente seus mal tratos.
- Te
amo muito e jamais o abandonarei por mais cruel que sejam os maltratos
inflingidos pelo seu pai.
Nesse momento o casal ouviu pesados passos. Era o demônio
que atraído pelo cheiro de ser humano veio em direção
deles. Wakahiko usando seus poderes mágicos transformou
Tanabata num travesseiro. O oní entrou no quarto do filho
e saiu cheirando tudo.
- Esse
travesseiro é estranho, tem cheiro de ser humano.
- O senhor deve estar enganado disse Wakahiko. Os dois
ficaram discutindo horas a respeito do cheiro dos seres humanos.
Até que o velho demônio ficou com sono e resolveu
dormir ali mesmo. Enquanto ele puxava o ronco, Wakahiko trocou
o travesseiro. Quando despertou de seu sono matinal, cheirou o
travesseiro e não sentindo mais o cheiro humano, foi embora.
No
dia seguinte o demônio retornou a casa do filho reclamando
mais uma vez do cheiro humano. Para esconder a princesa, Wakahiko
havia transformado Tanabata em um leque. Após procurar
por todo aposento e não encontrar ninguém, o demônio
foi embora, porém muito desconfiado.
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