Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto
e desenhos: Claudio Seto)
Esta
é uma versão Shintô (religião original
do Japão) da Lenda de Tanabata. O Jornal Nippo-Brasil publicou
a versão nipo-brasileira desta mesma lenda, neste suplemento
Zashi nos dias 6 a 12 de julho de 2000, com o título A
lenda de Tanabata, a princesa tecelã. Essas duas
versões, são frutos do imaginário japonês
e nipo-brasileiro, em cima de uma lenda de origem chinesa das
estralas Vegas e Altair.
Antigamente,
no tempo em que o Japão era chamado de Yamato, existiu
um nobre cortesão que tinha 3 lindas filhas. Certa ocasião,
quando uma lavadeira que trabalhava para esse senhor estava lavando
roupas num riacho próximo da mansão, apareceu uma
enorme cobra com um pergaminho na boca e disse:
- Minha senhora sou a Nobre Serpente, faça-me o favor de
entregar este pergaminho para seu patrão.
Morrendo de medo a lavadeira pegou o pergaminho e levou para a
mansão e narrou o acontecido ao seu amo. O nobre desenrolou
cuidadosamente a mensagem e mal acreditava no que estava lendo:
Venho
por meio desta pedir a mão de uma das suas filhas em casamento.
Caso não concorde, toda sua família e parentes serão
dizimados e seu clã desaparecerá definitivamente
da face da terra. Assim que decidir qual de suas filhas será
minha esposa, construa uma pavilhão de 90 metros quadrados
no lago que fica no sopé da montanha do sul e leve a noiva
para lá. A contar de hoje, no terceiro dia irei buscá-la.
O nobre
se viu diante um grande dilema. Se não atendesse o pedido
da Cobra Grande toda sua família seria exterminada pelo
monstro, por outro lado, como pai jamais cederia a mão
de uma das filhas para uma víbora.. Como estava num beco
sem saída, resolveu conversar com a sua família,
que incluía irmãos, tios, sobrinhos e explicou o
que estava acontecendo.
- Prefiro morrer do que me casar com a Cobra Grande, disse a filha
mais velha assim que o pai acabou de contar o que estava se passando.
- Eu também, disse a segunda filha.
Como
só restou Tanabata Hime, a terceira filha, para dar sua
opinião, todos da família voltaram para ela com
olhar interrogativo. Tanabata a caçula, além de
sua incomparável beleza era conhecida por ter uma bondade
infinita. Depois de meditar sobre a situação, respondeu
que se casaria com a Cobra Grande.
Todos
respiraram aliviados. O pai e a mãe entenderam o sentimento
da filha que se sacrificava para proteger o resto da família.
Os três choraram abraçados porém não
havia outra saída para a questão. Assim foi imediatamente
construído uma casa de no local indicado pela cobra. No
terceiro dia a construção estava terminada e Tanabata
foi deixada sozinha no pavilhão, vestindo um lindo traje
de noiva. Ela chorando sem parar pois era grande o seu medo e
a incerteza do futuro.
As
horas foram passando e a princesa estava com as mangas de seu
quimono ensopadas de tanto enxugar as lágrimas. A noite
chegou e junto dela uma tempestade. A ventania arrancava gemidos
das árvores e fortes pancadas dos pingos de chuvas castigavam
o telhado da casa recém construída. Os clarões
dos raios cortavam o negrume da noite, enquanto os trovões
com seus barulhos ensurdecedores faziam estremecer as montanhas,
aumentando mais e mais o medo da pobre princesa.
No
meio da tempestade, entre as ondas turbulentas do lago, apareceu
a Cobra Grande e entrou rastejando seu enorme e escamoso corpo
para dentro da casa. Tanabata que estava acuada num canto da sala,
paralisada de medo, foi rodeada completamente pelo corpo flexível
da serpente. Ela já estava a ponto de desmaiar, quando
a cobra falou numa voz suave, que nada havia o que temer. Assim
que a princesa recuperou o fôlego, a cobra perguntou:
-Você
tem algum objeto cortante?
-Sim, uma espada no meu enxoval.
-Interessante, uma noiva com espada no enxoval! E para que seria
essa arma?
Por um momento a princesa Tanabata ficou muito receosa em dar
a resposta, porém resolveu contar a verdade:
- Meu
pai colocou esta espada para me defender de você, caso tente
me maltratar.
- Admiro sua sinceridade, agora vamos testar a sua coragem. Degole-me
com a espada. Ordenou a Cobra Grande.
Mesmo
no escuro a princesa conseguiu encontra o baú onde estava
a espada e conforme ordenada, cortou pouco abaixo da cabeça
da cobra, que rolou pelo assoalho. De repente, como num passe
de mágica, a casa foi tomada de um imenso clarão,
a medida que a casca da cobra caía ao chão e de
dentro surgia uma bela figura de um jovem deus. O divino rapaz
abraçou Tanabata e disse:
- Desculpe-me pelo medo que fiz você passar. Era uma provação
necessária e você se saiu muito bem. Meu coração
está infinitamente agradecido por isso. Meu nome é
Ama no Wakihiko, um tenjin (ser celeste) à serviço
na terra.
Em
seguida o belo deus levantou os braços invocando os poderes
de Amatererassu Omikami, a Augusta Deusa Sol, e transformou a
casa num belo e suntuoso palácio.
-Esse será nosso lar - disse o divino ser.
O lindo
castelo fazia lembrar a famoso Ryugyu, o Palácio do Dragão,
que todos diziam existir no fundo do lago. Tanabata começou
a viver dias maravilhosos ao lado de seu bondoso deus.
Passado um tempo Wakahiko comunicou a Tanabata que teria que ir
para Takama no Hara (Alta Planície Celeste) para prestar
contas de sua missão na terra à Amaterassu Omikami,
a Augusta Deusa Sol, mas que voltaria em 14 dias ou no máximo
em 21 dias.
- Se
você não voltar passados os 21 dias? Perguntou a
princesa.
- Então vá a uma casa que existe no lado leste do
lago e peça a uma mulher que mora alí, um objeto
chamado ichiya hisagoto, suba nesse objeto que ele a transportará
até a Alta Planície Celeste (Takamá no Hara).
Lá chegando é só perguntar por mim.
Quando chegou o dia de partir, Wakahiko fez uma recomendação:
- Até
que eu volte quero que guarde esse caixinha com todo cuidado.
Não abra em hipótese alguma, pois é um presente
da Augusta Deusa Sol e contém o fluído dos três
planos: Céu (Shin), Homem (Soe), Terra (Tai) que me permite
transitar em várias dimensões. Uma vez aberta a
caixinha cósmica, o fluído poderá voltar
para o céu e eu perco a ligação com a Terra
e com os homens.
Com
essas palavras, Wakahiko entregou uma caixinha enfeitada de pérolas
e despediu-se da princesa, subiu num objeto que saiu flutuando
em direção ao céu. Tanabata que estava apaixonada
pelo seu divino marido, chorou de saudades quando este desapareceu
no infinito azul.
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