Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto
e desenhos: Claudio Seto)
Acaba
de ser descoberta uma fonte da juventude no Japão. Conforme
moradores da região de Miho (que no futuro vai tornar-se
conhecida como província de Guifu) um ex-velhinho, agora
um jovem formoso, embrenhou-se na mata para matar a saudade de
seu tempo de lenhador na juventude e acabou descobrindo uma fonte
de água milagrosa.
Essa
reportagem conseguiu apurar em primeira mão que um casal
de velhinhos, habitantes do vilarejo Miho, viviam se lamentando
porque não quiseram ter filhos na juventude. Agora com
a idade avançada, estavam arrependidos pois a vida da dupla
passou a ser o que pode ser chamado de solidão à
dois. Para consolar o irremediável, o casal mergulhava
nas lembranças românticas e trazia à tona,
saudosos momentos dos tempos dourados da mocidade.
Essa
semana, o velho Yoshida-san, vamos chamá-lo assim, saiu
para catar lenha no mato e, levado por nostálgicas lembranças,
resolveu percorrer as antigas trilhas de seu passado, como bravo
lenhador. À medida que caminhava foi notando que a paisagem
estava se tornando diferente do que conhecia, até que em
dado momento, já não sabia onde estava.
Cansado
de tanto andar, parou junto a uma fonte de águas cristalinas
e resolveu matar a sua sede. Com as mãos em formato de
concha, bebeu lentamente aquela água gostosa, que desceu
molhando a garganta seca. De repente sentiu que toda sua canseira
havia passado e que seu corpo experimentava uma sensação
de vigor há décadas perdida.
Yoshida-san
olhou para sua imagem refletido na água e levou um susto.
Sua farta barba branca havia desaparecido juntamente com as rugas.
No lugar da pele flácida e envelhecida com o tempo, vibravam
músculos cheio de energias. Um milagre! O velhinho havia
recuperado toda sua mocidade! Estava novamente com aspecto de
quem tem 18 a 20 anos!
Feliz
da vida, com um sorriso que só os descobridores da fonte
da juventude tem, voltou para casa. Lá chegando quase matou
a velha Fumie, sua esposa, de susto. Ela não acreditava
no que via. Aquele moço lindo por quem se apaixonara há
cerca de 50 anos atrás, estava sorridente em carne e osso
à sua frente.
O ex-velhinho
tratou de tranqüilizá-la contando toda sua milagrosa
história. A velha Fumie botava as mãos na cabeça
e dizia eufórica: Onde é que fica essa fonte?
Dessa água eu beberei aos monte!. Yoshida explicou
o caminho detalhadamente e dormiu, porque o dia foi por demais
em emoções.
A pobre
velhinha chorava e ria ao mesmo tempo. Não conseguia dormir,
pois estava ansiosa em saber que no dia seguinte, também
ela se tornaria bela e formosa. Antes mesmo do sol raiar, Fumie
saiu em busca da juventude perdida.
Ao
despertar com o canto dos pássaros, Yoshida percebeu que
sua mulher tinha saído em busca do rejuvenescimento, nas
límpidas águas da milagrosa fonte e ficou em casa
preparando um gostoso almoço para comemorar uma nova lua
de mel. Porém, o tempo foi passando, passando, passando,
a comida esfriando, esfriando, esfriando, e nada da velhinha voltar.
Não agüentando mais a pressão da ansiedade,
o remoçado ex-velhinho correu para a floresta.
Correndo
a largos passos ele ia imaginando aquela cena romântica,
que no futuro os leitores poderão assistir em comerciais
de televisão, onde um casal de enamorados, ao por do sol
na praia, em câmara lenta, se abraçam apaixonadamente.
Mas, chegando à fonte milagrosa: Cadê a velhinha?
Olhou para todos os lados e só viu vegetação.
Nada de mulher; nem velha nem moça.
Aos
gritos chamou pela companheira mas só o eco da floresta
respondia: -Fumieeeeeeeee! Fumieeeeeeeee!
Desacorçoado
ele se conformou:
- É... Fumie se fumiu.
Desiludido
na procura, Yoshida sentou-se a beira da fonte e ouviu misturado
ao murmúrio da água, um choro de bebê. No
primeiro momento pensou que tratava-se de sua imaginação,
mas como o choro persistia resolveu verificar.
Entre
capins que margeavam a fonte havia uma criancinha abandonada.
Uma menina com pouco meses de vida. Quem teria feito uma
coisa desalmada dessa ? Dizendo isso, Yoshida pegou o bebê
nos braços.
A menina
era tão novinha que ainda não sabia falar, mas havia
um magnetismo nos olhos que revelava uma experiência de
longa data. Tomado de profunda emoção, o moço
entendeu tudo:
- Essa
não! É você minha velhinha...foste muito afoita
à fonte e bebeste água demais. A sede da eterna
juventude fez você beber com exagero, agora és uma
recém nascida.
Yoshida
deu um suspiro e caminhou de volta à casa. O amor romântico
que o casal tanto sonhara não seria mais possível.
Com a menina nos braços enquanto caminhava, o rejuvenescido
lenhador, começou a sentir um amor paterno. Compreendeu
que era hora de cuidar e proteger como pai, aquela que por tanto
tempo foi sua companheira. Um presente Zen da natureza... uma
filha que nunca quiseram ter.
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