Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto
e desenhos: Claudio Seto)
Você
já ouviu falar em Papai Noel não é mesmo?
Pois bem, Papai Noel é o Velhinho do Natal.
Assim como ele, nas lendas japonesas existe o Velhinho da
Primavera que é o Hanasaka Jiji, literalmente significa
Velhinho Floração, um personagem que todos os nipônicos
conhecem e gostam. Sempre que a vida de uma pessoa está
triste e solitária como galhos secos de uma árvore,
os japoneses exclamam: Ah! preciso da ajuda do Velhinho da Primavera,
quero florir minha vida.
Tudo
começou do seguinte modo: há muitos e muitos anos,
viviam numa pequena aldeia, um casal de velhinhos, pobre e sem
filhos. Para amenizar a solidão, tratavam Shirô como
se fosse um filho. Shirô, era uma cachorro branco e tinha
esse nome óbvio, porque shirô em japonês significa
branco.
Certo
dia, quando o velhinho trabalhava em sua horta, Shiro começou
a latir e a cavar insistentemente um determinado local, como quem
indica a existência de ossos ali enterrados. O velhinho
então resolveu dar uma mãozinha e cavou o local
indicado. Buraco feito, para surpresa do ancião, haviam
moedas de ouro, que uma vez desenterradas, brilharam com grande
intensidade.
O velhinho
encheu uma cesta com o reluzente achado e levou para casa feliz
da vida. Do dia para a noite o casal ficou rico e consideraram
o achado uma dádiva Divina. Pois com o avanço da
idade, a labuta diária na roça havia se tornado
muito pesada e o rico achado veio então a calhar. Nem é
preciso dizer que com essa nova situação financeira
da família, o esperto Shirô passou à comer
do bom e do melhor e levar uma vida nada canina.
Acontece
que na casa vizinha morava outro casal de velhinhos, com fama
de gananciosos. Quando este segundo casal percebeu a considerável
melhora no padrão de vida dos vizinhos, e um cãozinho
idiota sendo tratado como rei, não tiveram dúvidas.
Concluiram que o faro do quadrúpede detectava fortunas.
Dirigindo-se
para a casa ao lado, o velho ganancioso foi logo pedindo o cachorro
emprestado. Alegou que todos eram filhos de Deus, portanto todos
tinham também o direito de ficar ricos, inclusive ele e
sua mulher. Diante do velho argumento, o bondoso velhinho concordou
plenamente em emprestar o animal de estimação. Acontece
que Shiro não queria acompanhar o vizinho. Então,
este amarrou uma corda no seu pescoço e levou-o arrastando
para a roça.
Lá
chegando, como o cachorro não indicava lugar nenhum, o
velho malvado o arrastou por toda horta. Num sufoco terrível,
Shiro se debatia, esperneava, grunhia e fazia das patas freios
de mãos e pés. Mesmo assim, o impiedoso homem continuava
puxado a corda com toda sua força.
- Seu
cachorro teimoso, mostre-me onde tem ouro ou lhe mostro o que
é bom pra tosse.
Existem situações que nem cachorro agüenta.
Por isso revoltado, Shirô latiu contra o tirano com todo
ar de seus pulmões. Porém, cego pela ganância,
o latido soou como música nos ouvidos do malvado. Pois
ele entendeu que Shirô estava indicando o local do tesouro
Com
os olhos estalados de ambição, o vizinho começou
a cavar feito um doido. Depois de muito esforço e suor,
só encontrou pedras e cacos de telhas na escavação.
Quando já estava a ponto de desistir, viu algo que brilhou
em meio as terras. O ganancioso então, certo de que fosse
ouro, atirou-se de corpo e alma ao fundo do buraco. Cavou apressadamente
com as mão o restante das terras. Nisso o buraco cedeu
aos seus pés, e o velho do vizinho se viu atolado em monte
de fezes. O coitado havia encontrado um antigo e soterrado fosso.
Em
meio a toda aquela melequeira ele entendeu então, porque
dizem que nem tudo que reluz é ouro.
Shirô
deu boas gargalhadas como fazem os cachorros da lendas. Porém,
ao sair enfurecido do fosso, o velho malvado com a enxada deu
um golpe fatal na cabeça do cachorro.
Notificado
do ocorrido, o velhinho bondoso, sentiu-se culpado pôr ter
emprestado seu estimado cão a um vizinho de má fama.
Ao recolher o cadáver, pediu perdão a Shirô,
pois filho não se empresta. Chorando, o casal enterrou
o pobre cachorro no canteiro principal do jardim de seu quintal.
Sobre a cova do bichinho plantou uma semente de pinheiro.
Diariamente
o casal de velhinhos chorava na sepultura do filho (cachorro)
e as lágrimas regavam a terra. Assim, como que pôr
magia, o pinheiro cresceu rigorosamente, tornando-se em pouco
tempo uma enorme árvore.
Então,
o velho, consultando seu coração, disse à
mulher:
- Minha velha, essa arvore é um milagre do nosso Shirô.
Creio com muita fé que seu espírito está
dentro desse tronco.
A velhinha,
que concordava com o ponto de vista do marido, sugeriu:
- Shiro gostava tanto de moti, que tal fazer deste tronco um ussu
(pilão) assim o espírito de Shiro ficará
sempre perto de seu prato predileto.
Certo
de que Shiro iria aprovar a idéia, resolveram cortar a
árvore e fazer um belo pilão. Quando foram testar
o pilão socando nele o arroz glutinoso, a cada batida do
malhete, mais e mais aumentava a quantidade de moti, e com apenas
um punhado de arroz, fizeram uma montanha de bolinhos.
O casal
vizinho que a tudo assistiu do buraco da cerca, veio imediatamente
pedir emprestado o pilão. Sem ter coragem de dizer não,
mais uma vez o bondoso velhinho atendeu o pedido. Ao chegar em
casa, a dupla gananciosa, começou a socar o arroz no pilão,
esperando o milagre da multiplicação de moti. Mas
para surpresa e desgosto da dupla gananciosa, o arroz transformou-se
numa tremenda meleca de mal cheiro. O pior de tudo é que
a sujeira não parava de aumentar e a cozinha transformou-se
numa lagoa de imundices.
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