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Panorama
da época
O budismo
foi introduzido ao Japão por volta de 538 (ou 552, segundo
algumas teorias) pelos migrantes (torai-jin), quando no país
já existia o shintoísmo, fé nativa. Desde
o século V, os intelectuais liam o Analecto de Confúcio
(uma coleção de escritos e ditos célebres
de Confúcio) trazido por Wani, um torai-jin coreano de
Kudara, recebendo, inclusive, estudiosos que chegaram à
terra japonesa para ensinar a doutrina confuciana.
Na
corte de Yamato, houve um conflito entre os partidários
que defendiam o budismo (clã Soga) e os que o repudiavam
(clã Mononobe). Em 587, o clã Soga derrota o clã
Mononobe, e uma mulher é indicada para ocupar o supremo
cargo, a imperatriz Suiko. Assim como nos tempos de Himiko, ela
obteve muitos êxitos na construção de uma
nação melhor estruturada, respaldada por seu sobrinho,
o príncipe Shôtoku, nomeado seu regente. Juntos,
ao longo de 36 anos, eles modernizaram o sistema político,
econômico e diplomático e ainda colaboraram para
a difusão do budismo.
Perfil
do príncipe Shôtoku
O ídolo
da História Antiga do Japão nasceu em 574, tendo
como pai o imperador Yômei e como mãe Anahobe. O
seu verdadeiro nome, Umayado (literalmente, porta do estábulo),
deve-se, segundo a lenda, ao fato de Anahobe ter começado
a sentir as contrações do parto na frente do estábulo
real. Após a idade adulta, Umayado recebeu o cognome de
Toyotomimi (ouvidos sábios), por sua inteligência
aguçada e sabedoria ímpar. Uma lenda diz que ele
conseguia ouvir reinvidicações de dez pessoas ao
mesmo tempo e encontrar soluções satisfatórias
para todas.
Desde
a tenra idade, ele dedicava-se aos estudos, demonstrando rara
inteligência. Era totalmente devotado ao budismo e, juntamente
com sua tia, a imperatriz Suiko, realizou inúmeras reformas
políticas.
Shôtoku,
cujo sentido literal é virtude sagrada, foi
o cognome que se irradiou após o seu falecimento, em 622,
devido aos seus feitos. Na velhice, afastou-se da política
e dedicou-se à difusão do budismo, escrevendo obras
sobre as interpretações de sutra, entre elas, San-gyôgisho.
Kani
jûnikai (doze graus de hierarquia burocrática)
Este
foi o primeiro sistema hierárquico do Japão, criado
em 603 pelo príncipe Shôtoku que, por sua vez, recebeu
forte influência da China. Chamou-se kani (hierarquia
por chapéu), porque a distinção das hierarquias
era feita pelo uso de chapéu de diferentes cores, e jûnikai
(doze classes), por causa da divisão em 12 classes hierárquicas.
Estas eram concedidas para pessoas de real valor e não
eram hereditárias. No início, destinavam-se aos
súditos diretos da corte, ou ainda aos chefes de clãs
da região de Nara e suas imediações, onde
se instalou a corte imperial. Porém, com o passar do tempo,
essas classes hierárquicas foram estendidas aos chefes
de clãs de todo o Japão.
Criação do Kenpô Jûshichi-jô
(17 códigos da Constituição)
Não
se pode dizer que esta seja uma constituição
em seu real sentido, ou nos moldes atuais, e sim preceitos morais
que serviam de diretriz para a conduta dos funcionários
públicos.
No
Kenpô Jûshichi-jô, nota-se nitidamente a forte
influência dos pensamentos budista e confucionista.
A ênfase
à conduta conciliatória é bastante peculiar
dentro do sistema de imperialismo absoluto.
Difusão
do budismo
Por
incentivo do príncipe Shôtoku, vários templos
foram construídos no Japão. As construções
proporcionavam a difusão em larga escala de técnicas
de confecção de papel, pintura e outras formas de
arte. O Templo Hôryû-ji (província de Nara),
considerado o mais antigo templo de madeira do mundo, foi construído
em 607. No início, era uma espécie de templo-escola
para estudar o budismo. O templo Shitennô-ji (província
de Osaka) foi alvo de admiração das delegações
chinesas e coreanas que contemplaram, de seus navios, a sua magnífica
construção. Nesse período, foram introduzidos
no arquipélago muitos livros sobre budismo, astronomia,
etc., iniciando-se a compilação da História
do Japão tal como Tennô-shi (História dos
Imperadores).

Cinco missões foram enviadas pelo príncipe à China
Relações
diplomáticas
Em
607, o príncipe enviou o alto funcionário da corte,
Ono-no-komachi para Sui como portador do documento credencial,
abrindo, dessa forma, o caminho para relações diplomáticas
em pé de igualdade com a China. Foram enviados os promissores
funcionários jovens e monges eruditos para absorverem a
cultura avançada da dinastia Sui (China). Esses preciosos
recursos humanos levaram à Reforma de Taika.
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Kenpô
Jûshichi-jô
Código 1 Deve-se respeitar a harmonia e a hierarquia.
A política deve ser conduzida com cooperação.
Código 2 Deve-se cultuar os três tesouros,
que são: Buda = o sábio; as leis = os ensinamentos
do Buda; sacerdote = o grupo que aceita com alegria os ensinamentos
e os pratica.
Código 3 Deve-se obediência ao seu senhor.
O senhor é o Céu, e o súdito é a Terra.
Código 4 Os funcionários da corte devem
ser cordiais com o povo.
Código 5 Ao julgar a queixa (denúncia)
do povo, deve se proceder com imparcialidade.
Código 6 Fomentar o bem e aplicar o corretivo
nos maus atos servirá de exemplo ao povo. Elogiar o superior
e falar mal dos erros de seus súditos não é
ser fiel ao seu senhor.
Código 7 Cada um tem a sua missão a cumprir,
e tudo sairá bem se o cargo público for ocupado
por alguém competente.
Código 8 Os funcionários da Corte deverão
chegar cedo e voltar tarde. Se chegarem tarde, não conseguirão
atender aos imprevistos e, se voltarem cedo, não conseguirão
terminar o serviço do dia a contento.
Código 9 Se os funcionários forem íntegros,
qualquer empreendimento terá êxito. A integridade
é a base da justiça.
Código 10 Deve-se conter a ira e deixar de lado
o ódio, não se aborrecendo por causa da discórdia.
Código 11 Observe atentamente o bem e o mal.
Sempre se deve premiar o bem e castigar o mal.
Código 12 Os chefes de comarcas não poderão
receber presentes, nem recrutar mão-de-obra por conta própria.
Para o povo, não deve haver dois senhores.
Código 13 Todos deverão estar a par dos
trabalhos realizados pelos colegas, pois não se deve deixar
parado um trabalho, caso alguém tenha que faltar por estar
doente.
Código 14 Os funcionários da corte não
deverão ter ciúme, pois ele cega-os perante a competência
alheia.
Código 15 Deve-se procurar os benefícios
públicos, abandonando os sentimentos pessoais.
Código 16 Deve-se recrutar o povo levando em
consideração a época. Utilizem o trabalho
do povo no inverno, quando há mais tempo livre. Da primavera
a outono, é a época de trabalho no campo ou da sericultura.
Código 17 Os problemas graves devem ser discutidos
exaustivamente entre os funcionários, para a busca de uma
solução.
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