(Por
Claudio Seto)
O
príncipe passou dez dias fechado em sua tenda procurando
encontrar uma maneira de vencer a astúcia do inimigo. Na
madrugada do décimo primeiro dia, encontrou a solução.
Ele inventou um aparelho que indicava sempre o sul, ao qual deu
o nome de shinansha. Dessa forma poderia orientar-se no meio da
mais densa neblina que o mago adversário fizesse cair sobre
seu exército. Naquela época, a bússola ainda
não existia.
Waka
Mikenu pôs o shinansha, que era carregado por quatro homens
na frente do exército, e foi de encontro ao inimigo que
estava acampado nas proximidades. Essa nova batalha foi tão
sangrenta quanto a anterior, os guerreiros combateram corajosamente
até o sol se pôr. Novamente para proteger a retirada
de seus homens, o mago fez baixar uma densa neblina sobre a planície.
Mas, desta vez, os homens do príncipe não se preocuparam,
pois sabiam que seguindo a direção indicada pelo
aparelho encontrariam o rastro dos inimigos.
Na
manhã seguinte quando Waka Mikenu saiu no encalço
do adversário, deparou com novo obstáculo. Durante
a noite havia chovido muito na montanha e um rio transbordou na
planície, impedindo a passagem de seu exército.
O príncipe
começou a caminhar nervoso pelas margens do rio, pois se
esperasse até a água abaixar, que poderia levar
de dois a três dias, o inimigo ganharia uma boa dianteira,
tornando impossível alcançá-lo depois. De
repente, viu uma rã flutuando na enchente sobre um pedaço
de galho. Essa cena deu uma grande idéia ao príncipe.
Ordenou seus soldados que abatessem árvores da floresta
e pusessem troncos para boiar. E sobre jangadas improvisadas o
exército navegou em direção à outra
margem.
O exército
inimigo que a tudo assistia da margem oposta cavou trincheiras
e preparou os arqueiros com afiadas flechas apontadas em direção
à margem. Quando o exército de Waka Mikenu desembarcou
e iniciou a marcha para o combate final, o mago fez baixar a mais
forte de todas as neblinas e a planície chegou a escurecer.
As flechas choveram em direção dos guerreiros de
Waka Mikenu, que não conseguiam ver os inimigos, tal a
densidade da neblina. O combate estava totalmente desfavorável
para o exército do príncipe,que tombava atingido
pelas flechas vindas não se sabe de onde. A situação
era calamitosa, pois nem recuar podiam, pois havia um rio cheio
e não era mais possível de ver as toras de madeiras
que os levaram até lá. Nesse momento de desespero
houve um milagre: como um raio de luz, uma águia desceu
das alturas e pousou sobre o arco do bravo príncipe. Os
raios de luz emanados pela ave sagrada não só clarearam
toda planície mostrando onde estavam entrincheirados os
inimigos como tiraram a visão do exército adversário,
tal era a intensidade da luz. Por isso, a imagem da Águia
Sagrada foi muito usada para representar a Nação,
assim como o crisântemo simboliza a família imperial.
O exército
do mago foi finalmente derrotado. Após longo período
de batalhas, Waka Mikenu conquistou todo o território de
Yamato. Essa região corresponde atualmente à província
de Nara. O príncipe Waka Mikenu ergueu o palácio
de Kashi Hara, e aí subiu ao trono como primeiro Imperador
de Yamato (hoje Japão) no dia 11 de fevereiro de 660 a.C.,
assumindo o nome de Kamu Yamato Iwarehiko no Sumera Mikoto. Casou-se
com a princesa Hime Tamo Isuzu Hime no Mikoto (bisneta de Suzano-o
no Mikoto o Deus Tempestade; neta de Ookuninushi no Mikoto
Divindade Grande Protetor do País, filha de Kotoshiro
Nushi no Mikoto e Tamagushi Hime) e passou para a história
com o nome de Jinmu Tenno.
A lenda
conta que Jinmu Tenno governou com sabedoria e justiça.
Um belo dia, já muito velho, com barba e cabelos brancos,
o Imperador passeava no bosque ao redor do palácio apoiado
em grande cajado. De repente, surgiu no horizonte uma águia
brilhante como ouro, que se aproximava rapidamente. Ao chegar
perto do palácio, ela começou a descer lentamente,
com amplos giros, e foi parar aos pés do Imperador.
Mensageiro
da Augusta Deusa Sol veio me buscar para ir morar em Takama no
Hara (Alta Planície Celeste)?, indagou o velho Imperador.
A águia
balançou a cabeça afirmativamente. Então
o nobre Imperador despediu-se de todos os seus súditos
que se ajoelharam em reverência e, chorando, abraçaram
seus pés e joelhos. Jinmu Tenno subiu na garupa da águia
que, abrindo suas imensas asas, levantou vôo e lançou-se
em direção ao céu. Foi-se distanciando até
virar um pontinho no firmamento e desaparecer entre os raios do
sol.
Quem
o substituiu no trono foi seu filho Suizei Tenno, o segundo imperador
do Japão.
Fim
...
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