(Por
Claudio Seto)
O yamabushi Take no Kuma, um mago da seita Shuguendô parou
certa manhã numa taberna à beira da estrada. Enquanto
bebia sake quente, outro yamabushi que lá estava puxou
conversa. Horas depois, num animado bate papo a respeito de kannagara
no michi, ou via dos deuses, descobriram que tinham um modo semelhante
de pensar. Ficou combinado então que seguiriam viagem juntos,
já que ambos iam escalar o monte Fuji conforme manda a
tradição dos ascetas.
Depois
do almoço deixaram a taberna. Após uma longa caminhada
com o sol já bem alto, pararam na beira de um rio onde
a estrada terminava num ponto de travessia. Porém naquele
momento o balseiro acabara de levantar as âncoras que cruzavam
o rio já estava bem longe. O asceta que acompanhava Take
no Kuma começou então a andar sobre as águas
enquanto o mago sentava-se no barranco à espera da volta
da balsa. Andando até o meio do rio, o asceta gritou:
- Venha
mago, você também pode fazer isso. Tenha fé
e venha.
O outro gesticulou a cabeça dizendo não e continuou
sentado no mesmo lugar.
- Se sentir medo eu vou ajudá-lo a atravessar. Pode vir.
Novamente
o yamabushi respondeu que não e continuou sentado esperando
a volta do balseiro. O asceta continuou sua caminhada sobre as
águas, e chegou na outra margem. O yamabushi não
tinha pressa.
Tempos depois balsa voltou finalmente e o asceta embarcou. Ao
chegar do outro lado, o sorridente mago pergutou-lhe:
- Por
que você ficou lá atrás?
- E o que você ganhou com toda essa pressa? - respondeu
o mago se eu soubesse que eras um exibicionista, que gosta
de mostrar seus poderes sem motivo, eu não viria em sua
companhia.
Na manhã seguinte estavam em destinos diferentes. Cada
um para o seu lado.
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