(Por
Claudio Seto)
A
DISPUTA
Em muitas ocasiões os três se divertiam cantando
e dançando animadamente. Às vezes um sentia ciúme
do outro e começavam a discutir. Quando chegou o inverno
a Donzela do Lago estava muito preocupada porque a discussão
entre os dois deuses tornara-se constante e um já não
suportava a presença do outro as margens do lago. Ela com
sua vez não conseguia decidir com quem ficar, pois gostava
de ambos, cada um por sua maneira de ser. Amava Akiyama pelo seu
coração puro e bondoso e sua refinada educação.
E amava Haruyama por sua valentia e seu modo impetuoso e aventureiro
de viver.
As
discussões tornaram-se empurrões e, finalmente,
resolveram duelar e o vencedor ficaria com o amor da Donzela do
Lago. O combate foi anunciado porque Haruyama cantava aos quatro
ventos sua possível vitória e a conquista definitiva
de seu amor.
No
dia marcado vários deuses que habitavam na região
compareceram para assistir o grande embate e se instalaram no
alto do monte Iwaki, de onde se tinha visão privilegiada.
A assistência estava dividida em duas nítidas torcidas.
Akiyama apareceu com uma grande manada de alces e Haruyama montado
em quatro dragões.
Era
uma manhã escura de inverno. Ventos cortantes assobiavam
entre as árvores e levantavam ondas altas no lago Towada.
Tremores de terra e uma tempestade com raios e trovoadas tornavam
o clima medonho. A atmosfera estava do jeito que os torcedores
barulhentos de Haruyama adoravam. Um bando de rudes guerreiros,
indisciplinados que pulavam e gritavam a qualquer movimento de
seu duelante preferido. Os valentões pularam tanto que
o lado direito do monte Iwaki onde eles estavam desmoronou (por
isso até hoje o lado direito é mais baixo que o
esquerdo).
Foi
um duelo de titãs. Os deuses lutaram bravamente sem parar
e era difícil dizer se algum deles estava levando vantagem.
Mas a medida que o tempo ia decorrendo, Haruyama que era mais
violento, começou ganhar terreno. Com golpes certeiros
de sua espada, foi liquidando os alces que protegiam Akiyama.
O embate com espadas entre os dois demorou bom tempo, porém
quando Akiyama começou mostrar cansaço, Haruyama
o atingiu gravemente.
Sangrando
muito, Akiyama fugiu para a península de Oga, manchando
a terra de sangue. Assim a luta terminou tendo Haruyama como vencedor.
Este levantou a espada e de cima dos dragões festejou sua
vitória voando cada vez mais alto.
Depois,
quando voltou a calmaria e a paisagem ficou linda como sempre,
Haruyama desceu para as margens do lago para se encontrar com
sua amada. Seu grande prêmio pela vitória. Procurou
por toda parte e não a encontrou. Então o deus do
lago que tinha assistido a tudo, disse:
-Não
adianta procurar pela donzela, ela ficou preocupada com o ferimento
de Akiyama e foi atrás dele na península de Oga.
Você venceu a luta, mas perdeu o prêmio.
Haruyama
ficou muito abatido quando soube que sua amada foi atrás
de seu rival. Inconsolável saiu andando para Tsugaru de
cabeça baixa, como se toda canseira da batalha manifestasse
de uma só vez. Quando chegou em Tsugaru, havia neve por
toda parte. Ele chorou ao sentir que passaria um pesado inverno
sozinho e numa explosão de ira, gritou com todos os pulmões
para descarregar o peso em seu coração. Seu grito
foi tão intenso que a vibração causou um
grande terremoto. A terra rachou na ilha principal do Japão,
separando Hokkaido. Na parte em que rachou o mar avançou
criando o estreito de Tsuruga.
Haruyama
no Kasumi no Mikoto (Príncipe da Névoa da Montanha
da Primavera) passou a ser então um deus triste e calmo.
Por isso, atualmente quando surge a névoa na primavera,
existe um clima de calma com certa melancolia.
Já
Akiyama no Shitabi no Mikoto (Príncipe da Montanha Rubra
de Outono) e a Donzela do Lago Towada, casaram-se e foram felizes
para sempre. Por isso, quando a folhas avermelham no outono, existe
no ar um certo clima de romantismo.
Fim
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