(Por
Claudio Seto)
No
tempo em que o Japão era chamado de Ashi Hara no Mizuho
no Kuni (País dos Campos Juncos e das Espigas de Arroz)
havia dois deuses que representavam as forças da natureza.
Haruyama no Kasumi no Mikoto (Príncipe da Névoa
da Montanha da Primavera) e Akiyama no Shitabi no Mikoto (Príncipe
da Montanha Rubra de Outono). O primeiro era agitado e impetuoso,
voava sobre as nuvens, cavalgando nas costa de dragões
e provocava brigas por onde passava. Já havia enfrentado
o deus Trovão e desentendido com Shiyozuchi no Kami, o
deus do Mar. O segundo era calmo, bondoso e gostava muito de música.
Seu maior prazer era tocar flauta na montanha e a sua melodia
deixava as folhas de ácer (momiji) rubras de emoção.
Os dois apesar de irmãos raramente se encontravam, pois
moravam relativamente distantes um do outro.
Naquela
época vivia na região nordeste do País, onde
hoje está localizada a província de Akita, uma bela
princesa (Hime), as margens do lago Towada. Por isso era chamada
também de Donzela do Lago Towada. Ela adorava tomar sol
e cantar, por isso, enquanto trabalhava em seu tear ao ar livre,
soltava a voz que penetrava nas matas, atravessava rios e ecoava
nas longínquas serras.
AKIYAMA,
DEUS FOLHAS DE OUTONO
Certa
ocasião quando o calor começou a diminuir, Akiyama,
que tocava flauta na beira do mar, foi surpreendido por uma brisa
que carregava uma voz melodiosa. O príncipe da Montanha
de Outono, tirou a flauta da boca e apurou os ouvidos. Descobriu
então, que o vento que descia da montanha era quem trazia
até ele, a bela e envolvente voz feminina. Guiado por um
inexplicável entusiasmo, correu até o topo da montanha
na tentativa de descobrir a origem da bela voz. Do alto, Akiyama
pôde avistar além da cadeia de montanhas, um lago
brilhante que refletia a luz do sol, tendo nas proximidades uma
floresta de altas árvores. Imediatamente ele caminhou para
aquela direção, pois deduziu que a voz vinha daquela
região.
Ao
aproximar-se do lago, Akiyama viu Hime, a bela princesa cantando
enquanto trabalhava em seu tear. Ele imediatamente se apaixonou
pela bela donzela. Foi um amor a primeira vista. A partir de então,
Akiyama escalava a montanha, atravessava o vale, os campos, as
florestas tocando flauta e visitava diariamente a Princesa que
morava na beira do lago. No seu percurso, as folhas verdes se
emocionavam e ficavam avermelhadas por serem testemunhas de um
grande amor. Os dois formavam um belo casal, enquanto ela cantava
no tear, ele a acompanhava tocando uma flauta. Tudo era muito
lindo e harmonioso.
HARUYAMA,
DEUS NÉVOA DA PRIMAVERA
Numa
ocasião, quando as neves das montanhas começaram
a derreter aumentando o volume de águas do rio Oirasse
em prenúncio à primavera, Haruyama no Kasumi no
Mikoto (Príncipe da Névoa da Montanha da Primavera),
que andava mal humorado e provocando tempestades com muitas ventanias
foi correndo para o monte Hakoda e chutou o topo quebrando um
pedaço (Por isso até hoje o monte tem o formato
de um planalto no topo). Haruyama pretendia chutar mais montes
e provocar mais fenômenos atmosféricos, porém,
ouviu uma canção cuja voz era bonita demais.
A
música serenou seu acesso de fúria e Haruyama sentiu
uma agradável sensação de paz e tranqüilidade
jamais experimentada. Deixando-se levar em direção
a voz, atravessou vales, escalou montanhas e transpôs matas
nativas, chegando as margens do lago Towada. Quando viu a dona
da voz cantando enquanto trabalhava no tear, ficou paralisado
de emoção. Ela era tão linda quanto sua voz.
O jovem
deus Haruyama foi tomado por uma grande paixão. Ficou perdidamente
apaixonado e tudo na vida. Só tinha sentido se fosse em
referência a ela. Quando colhia frutas levava para ela em
grande quantidade, quando caçava javali carregava nas costas
e dava de presente à sua amada, Haruyama era um tanto exagerado
e até baleia foi caçar, trazendo o enorme mamífero
para o lago Towada. Sua visita à Donzela do Lago cavalgando
em dragões tornou-se freqüente.
Haruyama
e a Donzela do Lago batiam longos papos onde ele narrava suas
loucas aventuras, desafiando o mar revolto em dias de tempestade
ou sobrevoando o céu acima das nuvens. A cada encontro
o jovem ficava mais apaixonado e estava certo de que sem ela não
conseguiria mais viver.
Continua...
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