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Arquivo NippoBrasil - Edição 090 - 8 a 14 de fevereiro de 2001
 
Tarai Kaburi Hime: A Princesa Cabeça de Tina - Parte 2

(Por Claudio Seto)

O PRÍNCIPE CAÇULA
Furotaki Hime acordava bem cedo e tirava baldes e baldes de água do poço. Ela cuidava dos banheiros dos nobres e também da criadagem. Corria o dia todo lavando banheiros e esquentando a água para que todos pudessem tomar um gostoso banho quente. Somente depois que a última pessoa tomasse seu banho ela podia descansar. Por isso, às vezes, ficava trabalhando até altas horas da noite. Cansava-se muito e tinha as mãos toda machucada de tanto rachar lenha e carregar baldes de água.

Às vezes, enquanto assoprava o fogo lembrava-se de como tinha sido feliz na mansão de seu pai, o nobre Kawachi no Sanetaka, sempre cercada de criados prontos para servi-la, começava a chorar. Agora eram os criados que a maltratavam e a obrigavam a trabalhar sem parar. Tudo era muito difícil para seu corpinho esguio que nunca conhecera trabalhos pesados. Um dia, enquanto derramava lágrimas olhando para suas mãos machucadas e cheio de calos, o filho caçula de daimyô aproximou e lhe entregou um pequeno pote de creme.

- Passe esse creme que vai aliviar a dor de suas mãos. Tenho observado o quanto é trabalhadora. O serviço é muito pesado para você, mas agüente firme que dias melhores virão.
A partir da data, diariamente o Príncipe Caçula vinha conversar com Hime procurando confortá-la. A presença dele era um bálsamo dentro daquela vida sofrida e humilhada que a moça levava. Assim, o príncipe começou a gostar dela, mesmo sem nunca ter visto seu rosto.

Mas esse afeto não agrava a família do jovem príncipe, que era o único solteiro entre quatro irmãos. Os pais e os irmãos mais velhos se reuniram e resolveram mandar a moça da tina na cabeça embora do castelo.

Ao saber da decisão da família, o Príncipe Caçula ajoelhou-se diante do pai e suplicou:
- Honorável senhor, o que será da orfã Furotaki Hime se mandarem embora? Ela é uma menina maravilhosa, eu quero para minha esposa. Peço o seu consentimento.
- Quer se casar com ela? Está maluco Príncipe Caçula? disse o daimyô assustado.
- Como? Com aquela criada que tem tina no lugar de cabeça? – gritou indignada a mãe do príncipe.

A corte ficou em alvoroço quando o príncipe declarou que se mandassem a menina embora, ele iria junto. Diante o impasse criado, os pais que não queriam perder o querido filho caçula, resolveram deixá-la no castelo, até encontrar uma solução satisfatória à todos.

DE COMO AFASTAR UMA INDESEJÁVEL
Todos os conselheiros da corte foram convocados. O senhor feudal exigiu que encontrassem um modo de afastar a garota com tina na cabeça, do castelo sem que o Príncipe Caçula percebesse ou ficasse ofendido. Os sábios puseram a cabeça para pensar, mas nenhuma idéia genial brotou delas.

Muito amargurada, a senhora do castelo, conversando com a velha e fiel governanta perguntou:
- Será que não existe alguma feitiçaria para afastar a Cabeça de Tina do meu filho?
- Claro que existe, senhora – disse a governanta. – Que tal promover um encontro cultural como fazem na entrada das estações do ano. Peça para seu filho caçula convidar a Cabeça de Tina, para ir acostumando com os membros da família, já que ele a quer para futura esposa. Claro que ela não virá, pois não tem vestimenta adequada para tal ocasião. A única roupa que ela tem é uma velha roupa de criada. Mesmo que tivesse um quimono luxuoso, como alguém seria capaz de se apresentar a um encontro cultural com uma tina na cabeça?

- Se não comparecer, não poderá mais permanecer no castelo pois fez a afronta de recusar o convite de Senhor Daimyô. Observou a senhora.
- E se for tão descarada a ponto de comparecer usando seu esfarrapado vestido, o Príncipe Caçula ficará envergonhado vendo-a perto das cunhadas luxuosamente vestidas. E ficará totalmente decepcionado quando começar a reunião cultural, pois que talento literário ou musical pode ter uma pobre criada? Ele nunca mais vai querer saber dela!

Todos da família acharam ótima a idéia da velha governanta. E assim ficou resolvido. Quando o convite para participar da reunião chegou aos ouvidos de Hime, ela baixou a cabeça e disse tristemente:
- Sei o que pretendem com essa reunião cultural. Vou embora para bem longe.
O príncipe tentou dissuadí-la, mas Hime não via outra saída. Então o príncipe resolveu ir junto e ela chorou de alegria e gratidão. Era uma grande demonstração de amor, mesmo sem nunca ter visto seu rosto.

Os dois deixaram o castelo de madrugada. Já haviam andado boa distância quando o clarão do sol os alcançou. Iluminada pelos raios solares, ela juntou as mãos e fez reverência em direção do Templo Hase, pedindo proteção aos dois, para a deusa Kannon. Nesse momento, como por encanto, a tina desprendeu de sua cabeça e rolou ao chão.

O Príncipe Caçula ficou paralisado de emoção. O lindo rosto que estava oculto pela tina resplandeceu aos raios do sol. Hime era realmente uma princesa. Dentro da tina havia uma caixa laqueada que abriu ao cair no chão, mostrando todo seu conteúdo que eram jóias e moedas de ouro. Ao apanhá-las Hime compreendeu o que sua mãe disse antes de morrer e agradeceu chorando de alegria.

A princesa contou quem era e tudo que aconteceu ao príncipe. Ele ficou feliz ao saber que era uma princesa de verdade e quis leva-lá de volta ao castelo. Porém, resolveram que era melhor irem até a capital, Heian-kyo, comprar vestimentas adequadas ao encontro cultural e assim seguiram viagem.

O ENCONTRO CULTURAL
O desaparecimento do príncipe causou certa preocupação na família, porém logo todos se acalmaram ao saber do conselheiro-mor que o Caçula logo voltaria, pois não havia levado dinheiro nenhum.

Como o encontro cultural estava formalmente marcado e o pessoal do cerimonial já havia providenciado boa parte dos preparativos, resolveram fazer mesmo sabendo de antemão que Cabeça de Tina não viria. Para surpresa geral, no dia marcado, o Príncipe Caçula retornou ao castelo e foi se vestir adequadamente para o evento. Sabiamente resolveram que ninguém deveria interrogá-lo a respeito de Cabeça de Tina, para não fazê-lo lembrar da garota. Ignorá-la seria a melhor forma de demostrar desprezo.

Na hora marcada, o grande salão estava lotado de ricos convidados. Os filhos dos senhor feudal, um a um, por ordem de idade, entraram no luxuoso recinto acompanhados das respectivas esposas, magnificamente trajadas de ricas vestimentas.

Quando chegou a vez do caçula, todos olharam com sorriso disfarçado de chacota, e logo se transformou em um grande estupor: eis que surge na porta o Príncipe Caçula acompanhado de uma mocinha belíssima e luxuosamente vestida. A aparição dela ofuscou a todos.
- Parece uma tennin (ninfa celeste)!- observou um dos convidados.

No local reservado ao Príncipe Caçula só havia uma almofada, o próprio daimyô apressou em sinalizar que os servos colocassem uma almofada para a princesa. No grande salão só se ouvia suspiros de admiração a beleza e postura de Hime. Isso deixou as três noras do mandatário inconformadas de ficar em segundo plano diante a formosura da Cabeça de Tina.

- O que não faz uma boa e luxuosa vestimenta! O Príncipe Caçula deve ter comprado para ela na capital. Disse a nora mais velha.
Mas ela será humilhada assim que começar a competição cultural. Uma criada, aquecedora de banheiro, jamais saberá tocar um instrumento musical como biwa (mandolina), shô (flauta) tsuzuri (tamborete) ou koto (instrumento de treze cordas). Observou a segunda nora.

No concerto musical, cada uma pega um instrumento e vamos deixar o koto, que é o mais difícil, para ela. Sugeriu maldosamente a terceira nora.
O Príncipe caçula estava visivelmente preocupado quando deram o koto para Hime tocar. Mas quando ela começou a dedilhar as cordas, uma música maravilhosa invadiu e tomou conta do ambiente. No final do concerto, todos os aplausos foram para Hime.

Em seguida, procedeu-se a competição poética. Cada princesa com um pincel e um papel tinha que criar uma poesia waka no formato tanka (31 sílabas) sem errar na grafia. Para Hime foi pedido uma poesia que citasse as flores de pelo menos, três estações. As noras sabiam que desta vez a “Cabeça de Tina” ficaria envergonhada, pois essa prova, não só exigia inspiração poética como domínio completo da caligrafia. Letras feias e sem firmeza seriam um fiasco. E naquela época, apenas os nobres sabiam ler e escrever.

Quando Hime começou a escrever, todos ficaram maravilhados, pois, apresentou com sua harmoniosa e elegante letra o seguinte poema:

Primavera é sakura
Verão é tachibana
Outono é kiku
Em qual das flores
O orvalho pousará?

(sakurá = flor de cerejeira, tachibana = malvaísco –flor perfumada, kiku=crisântemo)

Assim, de surpresa em surpresa, Hime venceu todas as provas. O senhor feudal ficou encantado com a noiva do Príncipe Caçula e não parava de lembrar que foi ele quem a trouxe para o castelo. Quando Hime revelou que era filha de Kawachi no Sanetaka todos entenderam porque ela tinha tantos predicados e educação refinada. Conforme observou os conselheiros, Sanetaka tornou-se um grande herói na guerra e ao retornar foi homenageado pelo imperador.

- É impossível que ele tenha retornado, minha madrasta me disse que meu pai morreu em combate.

Imediatamente o daimyo mandou mensageiros averiguar o que tinha acontecido à Sanetaka. Simultaneamente construiu uma enorme mansão para o Príncipe Caçula e Hime morarem.
Os mensageiros retornaram meses depois com a notícia de que realmente Sanetaka havia retornado às suas terras como herói, condecorado pelo imperador, porém tempos depois desapareceu misteriosamente e seu castelo estava abandonado.

GOVERNADOR DE PROVÍNCIAS
Hime, as vezes ficava pensativa lembrando de seu pai. O desencontro teria origem quando ela andou sem rumo por vários anos pensando que ele foi morto na guerra. Fora isso o casal vivia muito feliz. Depois que foram morar na nova mansão, o Príncipe Caçula foi convidado à prestar serviços ao Imperador. Satisfeito com a dedicação do jovem, o Imperador lhe presenteou com o título de governador de três províncias.

Para agradecer essa graça recebida, o casal foi rezar para a deusa Kannon no templo Hasse em Osaka. Enquanto rezavam, Hime notou um velho monge com vestes esfarrapadas. Olhando direito viu que se tratava de seu pai, estava com a cabeça raspada e bastante envelhecido.
- Pai! Sou eu Hime...

O velho monge espantado num primeiro momento, derreteu-se em lágrimas logo a seguir.
- Minha princesinha, você está bem?... Tenho procurado por você todos esses anos.
Os dois choraram abraçados até os sinos do templo Hase soaram anunciando a chegada do anoitecer. Sanetaka contou que, quando ele voltou da guerra, a segunda esposa lhe disse que Hime havia abandonado o lar em companhia de um teatro mambembe. Desde então, cada vez que ouvia dizer que havia um teatro ambulante em determinada região, corria para lá para ver se encontrava sua filha.

Assim seu castelo ficou abandonado e sua esposa voltou para a casa dos pais. Como o dinheiro acabou, tornara-se monge para sobreviver mendigando enquanto procurava Hime.

O pai e a filha agradeceram à deusa Kannon por proporcionar aquele encontro. Sanetaka foi morar com o casal, tornando-se um dos conselheiros do governador Príncipe Caçula e viveu feliz o resto de seus dias rodeado de netos.

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