(Por
Claudio Seto)
CAMPANHAS
SEM FIM
Cada vez que voltava à capital, imediatamente
era enviado por seu pai para empreender novas campanhas. Assim
ele chegou a idade adulta, incessantemente dirigindo-se de uma
região para outra. Seu pai, aparentemente receava tê-lo
a seu lado, devido à disposição impetuosa
do príncipe. Desta forma, para garantir a segurança
do Estado, o príncipe foi forçado a viver uma existência
de dificuldades, tristeza e saudades de sua terra natal. O Kojiki,
o mais antigo livro histórico do Japão, contém
poemas atribuídos a Yamato Takeru no Mikoto, onde ele relembra
sua terra:
Deixem
que aqueles cuja vida é segura
retirem folhas dos grandes carvalhos dos montes Heguri
(atapetados de juncos) e as usem nos cabelos
Oh! Rapazes!
O
Kojiki apresenta com grande força e efeito o drama dos
seres humanos que vivem plenamente e que lutam e resistem ao se
defrontarem com o avassalador poder do destino. Yamato Takeru
poderá ser melhor visualizado, não como um indivíduo
real, mas como figura heróica simbolizando toda a era,
uma encarnação das emoções das pessoas
comuns como um todo. Muitas vezes foi sugerido que sua história
representa uma combinação de um certo número
de lendas de heróis. Nos poemas antigos ele é retratado
como destemido e impetuoso, enquanto as poesias de
sua autoria, revelam a ingenuidade e a doçura de sua natureza
íntima. O seu mais famoso waka (poesia de 31 sílabas)
composta quando ele recordava sua terra natal diz o seguinte:
Yamato
é a parte mais alta do mundo;
Suas montanhas verdes divisórias
Arranjadas em camadas superpostas.
Aninhada em meio às montanhas,
Como é bela Yamato!
OTOTACHIBANA
HIME
A passagem de sua vida que mais amargurou o príncipe
Takeru foi quando levava seus guerreiros em viagem marítima
a Kazussa no Kuni. Durante a expedição, quando iniciava
a travessia da baía de Tóquio, vendo a outra margem,
disse arrogante: Este mar é tão pequeno que
se poderia pular de uma margem para outra.
Quando
a nau atingiu o meio do caminho, foi envolvida por uma violenta
tempestade. Incontrolável o naufrágio era Iminente.
A princesa Ototachibana, esposa do príncipe Takeru, que
o acompanhava na jornada guerreira, decidiu se sacrificar para
acalmar a ira dos deuses do mar.
No
livro VIII do Nihon Shoki, o segundo registro histórico
mais antigo do Japão, a passagem é narrada da seguinte
maneira:
A princesa
Ototachibana , filha do senhor de Oshiyama, do clã dos
Hoizumi, dirigiu-se ao príncipe nestes termos: Eis
que o vento se levantou, que as ondas se enfurecem. Seu navio
está prestes a soçobrar. Tudo isto é obra
do deus do mar. Peço-lhe permissão para entrar no
mar em troca da augusta vida de Vossa Alteza! Quando acabou
de falar, mergulhou nas ondas. A tempestade no mesmo instante
se acalmou e o navio pôde atingir a costa.
O herói
e seus homens puderam desembarcar com segurança. Porém,
o suicídio de Ototachibana aumentou ainda mais a amargura
no coração do guerreiro angustiado. O semblante
do príncipe apresentava uma sombra de melancolia. Tornara-se
um combatente solitário. Passava horas e horas com triste
olhar para o mar, na direção onde Ototachibana havia
desaparecido.
Em
Owari no Kuni tomou conhecimento de que no monte Ibuki existia
um Warui Kami (Deus Malvado) e por essa razão todos da
localidade estavam passando mal. Takeru resolveu capturar essa
entidade malevolente para ajudar o povo local e subiu o monte
Ibuki. No meio da floresta deparou-se com um enorme javali branco.
Os guerreiros que o acompanhavam ficaram todos assustados e o
príncipe disse:
-
Ora não se assustem com esse bicho, deve ser o mensageiro
do Warui Kami. E seguiu subindo o monte. Porém o animal
era o Deus da Floresta e não gostou nada de ser chamado
de mensageiro do mal e atacou Takeru com suas enormes presas.
Sendo travado uma luta feroz entre dois titãs. Num dado
momento o javali branco desapareceu e Takeru estava bastante enfraquecido.
Foi se arrastando até um pequeno riacho para beber água
gelada e refrescar sua cabeça que estava zonza. Enquanto
descansava sentiu vontade louca de voltar para Yamato, sua terra
natal.
REBELIÃO
DOS DEMÔNIOS
Após outras aventuras, Takeru voltou para
Yamato e ouviu falar de uma rebelião de Oni. Seres humanóides
de outra raça (provavelmente Vikings), que por desconhecer
na época a existência de países ocidentais,
os japoneses os consideravam demônios. Novamente seu ânimo
guerreiro se sentiu atiçado a enfrentar o desafio. Mas
desta vez não teve sucesso. Ao travar contato com os demônios
foi tomado por maus espíritos que o fez arder
em febre (a gripe era uma doença desconhecida no Japão).
Enfraquecido, conseguiu chegar em Ise no Kuni. Numa localidade
chamada de Nobono, não conseguindo mais se mover e faleceu
em 90 aC. , com 30 anos de idade, olhando para o vale de Yamato.
Conta
a lenda que na corte de Yamato, ao chegar a notícia da
morte de Takeru, todos correram para Nobono para preparar o funeral
do príncipe. Quando a primeira porção de
terra foi atirada na sua cova, um pássaro cantou. Na segunda
e terceira pás de terra o fenômeno se repetiu. Em
seguida, de seu túmulo saiu uma enorme ave branca, sobrevoou
a praia e subiu ao céu.
A ave
voou para Kawachi no Kuni e ficou sobrevoando em círculo
um determinado local. O povo cavou uma cova para o Príncipe
Valente e a ave voou cada vez mais alto até desaparecer
no infinito. Era a alma do guerreiro angustiado que viveu e morreu
solitário.
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