(Por
Claudio Seto)
O
jardim do templo Ryoanji de Kyoto é tido como um dos melhores
exemplos do jardim zen, kare-sansui (paisagem seca, com pedras
e sem água) do Japão. Ryoanji foi construído
como templo particular de Hosokawa Katsumoto, um poderoso senhor
feudal que tinha grande influência na corte do shogun (generalíssimo)
Ashikaga Yoshimasa, por volta de 1450.
Esse
jardim é uma obra prima da simplicidade Zen, sendo constituído
de uma extensão de areia branca texturizada com um rastelo,
tendo quinze pedras dispostas assimetricamente, algumas das quais
rodeadas de musgo. Essas pedras estão colocadas em dois
grupos: o primeiro de 5, 2 e o segundo de 3, 2, 3, com o grupo
maior perto da entrada. Em síntese é uma toalha
de areia branca de onde emergem cinco grupos de pedras pardas.
Na areia, uns riscos paralelos como que desenham as vagas regulares
do mar - deformam-se ao rodear cada grupo de pedras, semelhando
a espuma da água ao bater contra as ilhotas e os recifes.
O jardim
está enquadrado entre edifícios do mosteiro e uma
muralha. Fala-se em duas interpretações possíveis
para as pedras: ou representam um tigre fêmea guiando seus
filhotes através de um rio (o tigre, imagem de nossa vontade
suprema de despojamento e de pureza feroz, implacável,
essa vontade que nos leva para além do rio da impermanência,)
ou os picos das montanhas a surgirem das nuvens (a permanência
do espírito puro defronte o turbilhão do mar impermanente.
Contraste entre a pedra, que confunde os séculos, e a areia
movediça incessantemente é uma imagem da nossa relatividade,
deste mundo efêmero). Provavelmente é mais sensato
não aceitar qualquer tipo de explicação,
mas procurar, como é próprio dos ensinamentos Zen,
a nossa interpretação própria segundo a intuição.
A concepção
desta obra despojada foi atribuída ao mestre Soami. Segundo
a lenda em torno do Ryoanji, no dia da inauguração
o jardim tinha 16 pedras, divididas em dois grupos de oito, pois
os japoneses consideram o 8 um número da sorte. O generalíssimo
Ashikaga Yoshimasa era um amante das artes, e quando foi convidado
pelo daimyô Hosokawa para a inauguração do
jardim Zen, achou por bem chamar Sua Majestade o Imperador, para
prestigiar esse grande evento.
O imperador
ficou encantado com o jardim e fez uma observação
cortês:
-
Sem dúvida nenhuma este é o mais lindo jardim de
todo o Japão. E aquela a mais bela pedra do jardim.
Ouvindo
o comentário do imperador, Soami tirou a pedra que o imperador
havia elogiado e a jogou fora. Todos os presentes ficaram pasmos
com o tamanho atrevimento do mestre Zen e sua grande falta de
respeito com o divino imperador.
-Ah!
Agora o jardim está perfeito observou Sua Majestade.
Não há nenhuma pedra mais bonita que as outras
e o jardim pode ser visto em toda sua plenitude. Um jardim, assim
como a vida, precisa de ser apreciada por inteiro. Se fixarmos
nossos olhos na beleza de um detalhe, todo o resto, corre o risco
de ser ignorado.
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