(Por
Claudio Seto)
A
LUZ DO LUAR
E assim passaram quatro anos desde que Hime foi encontrado
no toco de bambu. As propostas de casamento continuaram chegando
mas ela continuou recusando, dizendo estar muito feliz em companhia
do casal de velhinhos. Porém a partir do dia de seu quarto
aniversário, a mocinha teve uma visível transformação
comportamental. Ela foi deixando de ser uma garota espontânea
e alegre, para dar lugar a um ar melancólico. Nas noites
de luar ela ficava horas e horas olhando pensativa para a lua.
Percebendo
que a lua causava estranha atração na filha, a velhinha
perguntou:
-Você está bem? Parece preocupada...
-Não é nada mamãe... logo estarei bem.
Hime
tentou disfarçar sua aflição para não
deixar seus pais preocupados. Porém, quando chegou a lua
cheia, ela não conseguiu segurar mais e desabou em choro.
-Filha o que foi?
-Estou
muito triste porque vou ter que me separar de vocês, na
próxima lua cheia que será no dia 15 de agosto.
Sou uma habitante da lua que recebeu permissão para passar
um tempo aqui na terra. Mas no próximo mês termina
o prazo que me concederam e tenho de voltar para a lua.
-Mas filha você precisa mesmo ir?
-Sim,
eles virão me buscar num grande carro. O tempo que passei
aqui fui tão feliz pelo carinho e amor que me deram. Gostaria
até de ficar morando aqui para sempre, mas não posso
porque vim na condição de que voltaria passado quatro
anos e não posso quebrar esse acordo. Eu estava triste
porque não tinha coragem de contar isso a vocês,
pois sei que ficarão muito tristes.
Os
velhinhos ficaram inconsoláveis com a notícia. Isso
despertou a atenção dos moradores do vilarejo e
a notícia acabou chegando no palácio imperial. O
imperador mandou o ministro conselheiro para descobrir se era
verdadeira a notícia de que no dia 15 de agosto a princesa
partiria para o céu.
O velhinho
suplicou ao ministro para que não deixassem os habitantes
do céu levar sua filha. O Imperador também ficou
muito triste e prometeu mandar seus melhores guerreiros para proteger
a casa contra os que viriam buscar a Princesa Cintilante.
Um
mês depois, quando começou a anoitecer, dois mil
guerreiros cercaram a casa dos velhinhos. Haviam pessoas armadas
de lanças, arcos e flechas por toda parte; dentro e fora
da casa, e até sobre o telhado, dispostos a expulsar os
homens do céu que viessem buscar a Princesa Cintilante.
Vendo os mais famosos guerreiros do Japão de prontidão
para proteger Hime, todos comentavam:
-Ninguém atreverá a se aproximar da princesinha
com tantos bravos à postos.
CARRUAGEM
CELESTE
O momento fatídico se aproximava. A lua cheia
apareceu enorme e brilhante por de trás da montanha e foi
subindo. Um silêncio mortal tomou conta da multidão
de guerreiros e curiosos que cercavam a casa dos velhinhos. Com
olhos estalados todos olham na mesma direção: a
lua. As horas foram passando e nada acontecia. E eis que à
meia-noite em ponto, uma nuvem brilhante vem descendo do
céu e pára sobre a casa de Kaguya Hime. Uma
fresta se abre na nuvem e um feixe luminoso de luz é projetado
sobre a casa. Os guerreiros apontaram suas flechas, lanças
e espadas para o alto. Nisso o feixe de luz ficou tão intenso
irradiando um clarão misterioso e todos ficaram paralisados
na posição em que se encontravam.
Embora
imobilizados, todos puderam observar que dentro da nuvem luminosa
havia um carro celeste. De seu interior sugiram vários
tennin (habitante do céu) com roupas brilhantes e suntuosas.
Eram lindas ninfas celestes parecidas com Kaguya Hime. Desceram
flutuando até o interior da casa, onde a princesa estava
junto do casal de velhinhos.
-Faz
tempo que alteza está sob os cuidados desse bondoso casal,
é chegada a hora de retornar para seu reino. Princesa suba
na carruagem celeste por favor. É seu dever disse
uma das ninfas.
Os
velhinhos queriam pedir para que não levassem Kaguya Hime,
mas estavam paralisados como os demais e nada puderam fazer. Vendo
as lágrimas brotar do rosto imobilizado de sua mãe,
A princesa disse chorando:
-Mamãe,
papai, quero agradecer por tudo que fizeram por mim. Gostaria
de ficar aqui para sempre em companhia de vocês, porém,
isso está acima de minha vontade.
As
ninfas celestes começaram a flutuar para o alto, em direção
ao carro cósmico e Kaguya Hime, aos prantos, as seguiu.
Assim que ela estava bem no alto, todos em volta da casa recuperaram
os movimentos mas já era tarde demais. O casal Taketori
correu para o quintal e viu por alguns segundos, Kaguya Hime embarcando
na carruagem celeste. Em seguida, as luzes foram ficando distantes
até confundir com as estrelas.
O
ELIXIR DA VIDA ETERNA
O pequeno vilarejo nos arredores de Heian-kyo voltou
a calma costumeira. Uma sensação de vazio imenso
tomou conta da casa do casal de velhinhos. Os dois passavam quase
o dia inteiro no quarto de Hime, apreciando as roupas e objetos
que um dia pertenceram a ela. Entre os objetos encontraram duas
cartas. Uma dirigida ao casal e outra ao Imperador do Japão.
Também havia um pequeno embrulho junto as cartas.
-Papai
e mamãe, minha gratidão por vocês é
infinita. Muito obrigado pelo amor e carinho que deram a mim.
Deixo para vocês um frasco de Fussi (imortalidade), o elixir
da longa vida, para que vivam felizes por muitos e muitos anos.
O
casal resolveu dar a poção mágica, da vida
eterna, ao imperador, já que ele era a pessoa mais importante
do Japão e poderia fazer melhor uso. Enviou então
o frasco junto a carta.
A carta do Imperador continha uma poesia waka, no formato tanka
( 37 sílabas), que ao ler ele chorou de emoção,
pois dizia:
Kimi
ga yowa
tiyoni yati yoni
Sazare ishi-no
Iwa oto narite
Koke-no mussu made
Uma
poesia que assim como o elixir da vida eterna, que fala (kimi
ga yowa) sobre a vida familiar, social, regional, nacional e de
toda terra. Infinitamente por mais de mil ou oito gerações
(tiyoni yati yoni). Pedriscos que com o passar dos tempos tornam-se
rochas (sazare ishi-no ), significa harmonizar-se e tornar-se
Uno (Iwa oto narite). Nesta rocha até que formem a nova
vida musgos- durante a convivência harmoniosa durante
a vida (koke-no mussu made).
O imperador
pegou o elixir da vida eterna chamado Fussi e mandou queimar na
cratera vulcânica de um bonito monte sem nome que existia
no Japão, dizendo:
-Não
quero viver eternamente num mundo onde não existe mais,
Kaguya Hime. A poesia que ela mandou terá vida eterna,
pois será cantada de gerações em gerações.
Dizem
que quando atiraram o frasco do elixir no alto do monte, em uma
cratera vulcânica em atividade, uma fumaça azul subiu
ao céu na mesma direção em que foi Kaguya
Hime. O imperador havia escolhido jogar no alto aquele monte,
porque era o lugar mais próximo do céu de todo Japão.
A partir dessa data, todas as vezes que o povo se referia ao monte
dizia:
-Lá
no monte onde queimaram o Fussi. E de tanto repetirem o nome Fussi,
o monte passou a ser chamado de Fuji. Dizem que ainda hoje é
possível ver uma fumacinha azul subindo para o céu.
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