(Por
Claudio Seto)
O
MANTO DE PELE DO RATO DE FOGO
Ao príncipe n0 3 coube a missão de trazer
da China um manto confeccionado com pele de Rato de Fogo. Conforme
a lenda, os ratinhos nascidos no ano do Rato de Fogo do horóscopo
Oriental, tinham a pele resistentes e não queimavam com
a chama.
Nessa
época, na costa oeste do Japão, ao norte da ilha
de Kyushu, alguns navios chineses aportavam carregado de mercadorias
para vender aos comerciantes japoneses. Sabendo disso, o príncipe
n0 3 resolveu encomendar aos chineses para lhe trazer o manto
de tal pele. Assim, daria menos trabalho e evitaria demorados
contatos diplomáticos, caso um príncipe japonês
fosse à aquele país.
Contatado
um comerciante chinês, este respondeu que já ouviu
falar dessa pele, porém não sabia onde encontrar.
Devido a insistência do príncipe n0 3, o chinês
aceitou procurar o manto, em troca de uma fabulosa soma em moedas
de ouro. Sem outra saída, o príncipe entregou uma
verdadeira fortuna, alertando que se não trouxesse sua
encomenda na próxima viagem, não mais permitiria
sua presença nos portos japoneses.
Quase
um ano depois, quando os homens do príncipe já estavam
cansados de esperar no porto, o navio chinês voltou carregado
de mercadorias.
-Trouxe a pele que o príncipe encomendou?
-Sim,
está nessa fina caixa laqueada. Um verdadeiro tesouro!
Deu trabalho para encontrar, mas consegui com a ajuda do imperador
da China. Trata-se de um manto sagrado de pele de Rato de Fogo
que pertenceu a um venerável monge hindú. Para adquirir
tive que pagar uma verdadeira fortuna, e o dinheiro que seu príncipe
me deu, não foi o suficiente. Para levar vocês terão
que me pagar a diferença.
Como
o manto de pele era muito importante para o príncipe, seus
vassalos pagaram mais dinheiro ao chinês e levaram a caixa
de laca apressadamente para a capital do Japão. O príncipe
n0 3 recebeu a mercadoria com grande alegria. Agora , com
certeza ele seria eleito noivo da bela princesa, pensou.
Com o mínimo de esforço, apenas gastando muito dinheiro
ele tinha comprado a felicidade. Mandou enfeitar a caixa laqueada
com muitas flores e colocou num luxuoso carro puxado por bois
e foi para a casa do velho Taketori, acompanhado pelos servos.
Ao
abrir a luxuosa caixa, Hime encontrou um bonito manto de pele,
de cor levemente esverdeada. Era realmente uma peça de
beleza encantadora. Uma tonalidade antes nunca vista pela princesa
e seus pais. Certamente legítima pele de Rato de Fogo!
Assim sendo não queimaria mesmo colocando no fogo. E o
próprio príncipe se ofereceu para mostrar a façanha
à todos. Apanhou o manto e colocou num pote de brasas.
Qual não foi a surpresa ao ver o manto de pele arder em
chamas e transformar-se num punhado de cinzas.
-Ahhhh!...
fui enganado, paguei uma fortuna para o chinês e vejam no
que deu lamentou o príncipe.
-Então você não foi à China conforme
pedia sua tarefa? Observou a princesa.
Assim, o príncipe n0 3 saiu da parada, restando apenas
dois concorrentes.
A
JÓIA DO REI DRAGÃO
Ao príncipe n0 4 coube a tarefa de trazer
o tamá (uma jóia esférica) pertencente ao
Rei Dragão. Reuniu vários vassalos e deu-lhes dinheiro
para trazerem, custe o que custar, a jóia que esta pendurado
no pescoço do Dragão, o rei do mar.
-Vocês
devem percorrer todas as ilhas que formam o arquipélago
japonês e trazer informações de onde fica
o Ryugyu, o palácio do Rei Dragão. Depois vamos
matar essa fera e tirar a jóia que está em seu poder.
Os enviados do príncipe n0 4 saíram em todas as
direções mas, como estava difícil de conseguir
informações precisas, resolveram abandonar a missão
e ficar com o dinheiro.
Furioso
porque ninguém retornou passado um ano, ele próprio
resolveu procurar a morada do dragão em alto mar. Fretou
um navio e contratou os melhores arqueiros do Japão para
acompanhá-lo.
-Vamos
encher o dragão de flechas e retirar seu tamá.
A medida que o navio avançava, o mar ia escurecendo e desabou
uma terrível tempestade. O mastro partiu com a força
do vento, pessoas e objetos eram arrastados pelas águas,
que invadiam a proa ao sabor dos balanços das ondas enfurecidas.
De minutos em minutos fortes clarões riscavam o céu,
cegando os marujos e estrondosos trovões ensurdeciam os
homens que se agarravam onde podiam para não serem arrastados
para o mar.
- O
Rei Dragão está furioso gritavam os marujos
ele sabe da intenção que o príncipe
tem, de matá-lo à flechadas. Por favor alteza, arrependa-se
e peça perdão ao Rei Dragão, senão
vamos morrer todos nessa tormenta.
Imediatamente
os arqueiros atiraram seus arcos e flechas no mar mas a tempestade
não acalmou. O orgulhoso príncipe que estava morrendo
de medo, ajoelhou-se e pediu mil perdões, jurando que nunca
mais tentaria matar o dragão. Aos poucos a tormenta foi
passando e no terceiro dia, o barco chegou arrastado pelas ondas
ao porto de partida. Completamente arrasado o príncipe
desembarcou e foi direto para seu palacete onde se trancou por
um bom tempo.
AS
CONCHAS QUE AS ANDORINHAS BOTAM
Ao príncipe n0 5 coube a tarefa de trazer
umas conchinhas que, segundo dizem, as andorinhas botam junto
com seus ovos. Era a tarefa mais fácil de todas, afinal,
quando chega a primavera, em todas as partes do Japão,
as andorinhas aparecem em bando.
O príncipe
mandou seus subordinados procurar por todos os cantos e milhares
de ninhos foram vasculhados. Para infelicidade do príncipe,
ninguém conseguiu encontrar as tais conchinhas.
-Vocês
são mesmo uns incompetentes! Comentava o príncipe
quando notou que uma andorinha tinha feito ninho em seu palácio.
O conselheiro do príncipe informou que quando uma andorinha
bota ovo, costuma levantar o rabo e girar sete vezes. Portanto
deviam ficar observando de baixo para não espantar a ave
e agir no momento certo.
O plano
foi instalar uma roldana na ponta de um andaime e amarrar uma
corda com cesto, onde alguém dentro dele seria içado
até a altura do ninho. O príncipe gostou da idéia
e resolveu que ele mesmo iria subir no cesto, pois seus subordinados
não estavam servindo para nada.
Assim,
todos ficaram de olho no rabo da andorinha. No terceiro dia, ela
levantou o rabo e fez um movimento giratório. Então
o príncipe entusiasmado gritou:
-Vamos seus incompetentes, puxem a corda!
O príncipe
foi içado até a altura da beirada do telhado onde
estava o ninho. Introduziu a mão embaixo do telhado e agarrou
alguma coisa dura no fundo do ninho.
-Peguei. Peguei a conchinha! gritou entusiasmado, pulando
de alegria. Os pulos balançaram o cesto que desequilibrado
despencou para baixo. Com o impacto da queda, o príncipe
ficou desmaiado por alguns minutos. Só recuperou o sentido
com um balde de água fria na cabeça. Ainda meio
atordoado disse:
- Pelo
menos valeu a pena, a conchinha está aqui na minha mão.
Quando abriu a mão para mostrar, todos caíram na
gargalhada, porque o que o príncipe segurava firmemente,
era estrume de pássaro, seco e duro.
Assim todos os príncipes acabaram por renunciar à
mão da linda Kaguya Hime.

O
IMPERADOR
A fama da beleza de Kaguya Hime continuou crescendo
e chegou até os ouvidos do imperador. Um dia, um importante
ministro conselheiro da corte imperial chegou a casa do velho
Taketori com um convite para Hime visitar o palácio. Ao
ser notificada do convite, a princesa recusou prontamente:
-Por
favor, eu não quero visitar ninguém.
O ministro não acreditou no que estava ouvindo. Ninguém
em tempo algum, havia recusado o convite de um imperador do Japão.
-Menina
você sabe o que está dizendo? Ninguém em sã
consciência recusa o convite do imperador do Japão.
São poucos os mortais que tem a honra de receber tão
digno convite. Sua Majestade é a pessoa mais importante
do País e por cima, descendente de Amaterassu Omikami,
a Augusta Deusa Sol. O convite dele é uma divina ordem,
ninguém pode recusar.
-Eu não quero ir. Repetiu Hime.
Atordoado
com o que estava acontecendo, o ministro conselheiro retirou-se
sem mais palavras. Recusar o convite do imperador era uma situação
completamente inusitada, que tamanho absurdo, deixou a alta personalidade
da corte sem condição de raciocinar. Chegando ao
palácio, relatou o acontecido e perguntou ao Imperador
se deveria mandar decepar a cabeça de todos da famílias,
pela imperdoável ofensa.
O Imperador
riu e disse que qualquer dia iria conhecê-la pessoalmente.
Todos riram pensando que se tratava de uma brincadeira de Sua
Majestade. Porém, certo dia, voltando de uma caçada,
ele resolver parar na casa dos velhinhos para ver com os próprios
olhos, a propalada beleza de Kaguya Hime.
Quando
viu a figura do imperador adentrando sua casa, o velho Taketori
caiu de joelhos, abaixou a cabeça até o solo em
reverência . Mal podia acreditar que tamanha honra fosse
possível de acontecer naquele vilarejo. Sem ser anunciado
o imperador foi direto para dentro da casa a procura da bela princesa.
Quando viu a mocinha, exclamou pasmo:
-Sua beleza é celestial! És muito mais bonita do
que as palavras podem descrever. Gostaria que viesse comigo para
morar no palácio.
O pedido
do Imperador era uma ordem. Kaguya Hime começou a chorar
e de seus lindos olhos lágrimas escorreram. Ela pedia suplicando
que a deixasse ficar com seus pais que tanto amava. O Imperador
ficou muito comovido e atendeu o pedido. Porém, exigiu
que ela respondesse as poesias que lhe enviaria. Pois no período
Heian (794 a 1192) era moda trocar cartas com poesias. Dizem que
o Imperador mandou alguns Waka (poesia do tipo Tanka) e ela respondeu
com lindos poemas que deixaram Sua Majestade muito feliz.
Kaguya
Hime, continua e será divida em 3 partes
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