(Por
Claudio Seto)
Na
era Heian (794 a 1192), quando a capital do Japão era Heian-kyo
(hoje Kyoto), chamada carinhosamente pelo povo de Kyo no Miyako,
havia um casal de velhinhos que vivia na periferia da cidade.
O velhinho era Taketori, um colhedor de bambu profissão
muito respeitada na época, porque dependendo da planta
que era retirada do bambuzal, as mais novas poderiam crescer vigorosas
e retas. Portanto cortar bambu era uma arte e o profissional que
se dedicava a esse trabalho, embora não fosse uma profissão
rentável, vinha de anos no aprendizado e dedicação.
O objetivo principal era o de ser útil ao próximo,
pois naquele tempo o bambu fornecia matéria-prima para
os principais artefatos domésticos, que iam desde portas,
mesinhas, armários, garrafas, cestas, peneiras até
pequenos objetos como pentes, cálices, anzóis, agulhas,
pincéis e centenas de utensílios caseiros. Também
o broto de bambu era um alimento apreciado até na corte
imperial.
Certo
dia o velhinho Taketori foi colher um pé de bambu maduro
para fazer um cesto que lhe haviam encomendado. Andando pelo bambuzal
notou que um toco de bambu cortado emitia um brilho fascinante.
Passado o susto inicial, o velhinho se aproximou movido pela curiosidade
e levou um susto ainda maior. Havia uma menina pequenina, mas
tão pequenina que cabia na palma da mão, acomodada
no corte do bambu.
Taketori
e sua esposa formavam um casal de idade avançada. Durante
anos e anos desejaram ter uma criança para cuidar, mas
nunca conseguiram ter um filho ou adotar uma criança. Ao
ver aquela pequena menina abandonada no bambuzal, entendeu o bom
velhinho, que Deus havia ouvido suas preces. Feliz como nunca
sentira, pegou a menina nas palmas das mãos e a levou para
casa.
Sua
mulher ao ver a criança ficou felicíssima e, com
todo carinho, pegou um cesto e improvisou uma caminha e rapidamente
costurou um acolchoado. O casal não se cansava de apreciar
aquela linda criaturinha.
-Seu
nome será Kaguya Hime, que significa Princesa Cintilante.
Pois você nasceu de um bambu do brilho fascinante- decidiu
o casal.
A partir
daquele dia, um estranho fenômeno começou a ocorrer
todas as vezes que Taketori ia ao bambuzal. Um gomo de bambu começava
a brilhar e ele cortava para ver se não havia outra criancinha,
e encontrava algumas moedas de ouro. Assim, em pouco tempo eles
ficaram ricos.
-Não precisamos mais fazer cestos para sobreviver. Deve
ser nossa princesinha que trouxe tanta sorte. Comentou a velhinha.
A menina
cresceu rapidamente e tornou-se uma linda mocinha. Sua beleza
chamou a atenção da vizinhança. Os rapazes
da aldeia viviam passando em frente da casa para poder vê-la.
A beleza ganhou fama e até o pessoal da capital começaram
a dirigir para o vilarejo movido pela curiosidade. O casal de
velhinhos passava o dia inteiro atendendo pessoas que queriam
ver a Princesa Cintilante, a todo custo. A princesa
ficava acanhada diante de estranhos e se escondia no quarto dos
fundos e não atendia ninguém. Quanto mais ela se
escondia, mais aguçava a curiosidade dos visitantes. Algumas
pessoas ficavam de plantão em frente da casa na esperança
de ver a linda princesinha.
Muitos
jovens ficaram apaixonados pela beleza de Kaguya Hime, inclusive
cinco poderosos príncipes. Os cinco foram a casa de Taketori
e pediram para ver a princesa, pois todos alegavam que estavam
na idade de casar.
-Pai,
eu não quero casar com ninguém, peça para
irem embora, por favor.
-Filha, eu não posso mandá-los embora sem mais nem
menos. Eles são filhos de poderosos senhores da corte imperial,
pelo menos deixe que eles a vejam.
Kaguya
Hime foi apresentada aos cinco príncipes e todos eles suspiraram
diante da beleza dela. Imediatamente eles se mostraram apaixonados
e teceram mil elogios à sua formosura. Nos dias que se
seguiram, todos os cinco enviaram cartas ao velho Taketori pedindo
formalmente a mão da princesa. Para ela enviaram poemas
de amor e ricos presentes. Porém ela não respondia
os poemas, como era de costume na época.
Como
os príncipes vinham diariamente cobrar resposta do pedido
de casamento, Taketori tentava convencê-los de que ela não
podia se casar, porque nascera de uma cápsula de bambu
e portanto não era humana. Mesmo assim eles não
desistiam, cada vez ficavam mais apaixonados e Taketori não
sabia mais o que fazer.
-Hime,
temos um grande amor por você, gostaria que morasse conosco
para o resto da vida, porém, achamos justo que você
se case e forme uma família. Por outro lado, estamos muito
preocupados com os príncipes que você está
recusando. Temos medo que eles fiquem ofendidos e despejem suas
fúrias sobre nós e nosso vilarejo. Aí todos
os moradores vão sofrer sem culpa de nada.
-Não
quero que nada de mal aconteça à vocês meus
pais, nem ao povo da vizinhança. Portanto concordo em me
casar. Como a escolha é difícil, para cada um dos
cinco farei um pedido. Aquele que conseguir atender meu pedido,
será meu esposo.
Na
manhã seguinte quando os pretendentes chegaram à
casa de Hime, o velho Taketori sorteou um número para cada
príncipe e leu os pedidos que lhe coube, lembrando que
aquele que cumprisse a tarefa seria esposo da filha dele. Os príncipes
imediatamente partiram para executar a missão.
O
VASO QUE PERTENCEU AO BUDA
Ao
príncipe nº 1 foi dado a missão de viajar para
a Índia e trazer um vaso que pertenceu ao grande Buda.
Consultando os marinheiros ele percebeu que era uma missão
quase impossível. Era longe demais para ir de navio, e
não havia nenhuma segurança atravessar o oceano
pertencente aos dragões. Por terra teria que atravessar
o grande continente chinês e isso levaria anos e anos.
A Índia
ficava tão longe e mesmo que chegasse lá, não
saberia por onde começar, como e onde procurar esse objeto
sagrado. Resolveu então procurar mesmo no Japão,
algo que pudesse passar pelo vaso que pertenceu ao Buda. Andou
com seus servos em vários templos budistas que estavam
começando a ser implantados no País, em um deles
deparou com um velho vaso de pedra jogado num jardim. Mandou recolher
e embrulhou em tecido de seda e levou para a casa de Hime.
-Trouxe
da Índia o vaso que pertenceu ao grande Buda!
Quando o príncipe nº 1 desembrulhou o vaso, Kaguya
Hime fez uma observação.
-Esse é um vaso antigo mas não tem brilho. Consta
que o vaso do Buda tem brilho encantador. Alteza deve ter-se enganado.
Constrangido e envergonhado, o príncipe nº 1 foi embora
e saiu do páreo.
A
ÁRVORE COM FRUTOS DE PÉROLAS
Ao
príncipe nº 2 coube a tarefa de ir ao monte Horai,
e fazer um yamadori (busca e coleta de planta nativa) para um
bonsai de takará no ki (árvore do tesouro). Segundo
a lenda essa árvore tem o tronco de prata, folhas de ouro
e que dá frutos de pérolas.
-Partirei
imediatamente - disse o príncipe e reuniu seus guerreiros,
dirigindo ao porto de Osaka. Embarcou no navio e mandou rumar
para o mar do leste. Porém, no porto seguinte, desembarcou
secretamente reuniu alguns dos melhores artesãos da região.
-Quero
que confeccionem uma árvore anã com essas especificações-
disse o príncipe entregando um papel aos mestres do artesanato.
Os homens trabalharam dia e noite para fazer uma árvore
perfeita. Assim que ficou pronta, os servos levaram o bonsai
cuidadosamente para a casa da Princesa Cintilante.
-Veja a bela árvore que você pediu, minha linda princesa
disse orgulhosamente o príncipe nº 2.
Realmente
era uma obra de arte. Não só o velho Taketori e
sua esposa como a Princesa Cintilante ficaram maravilhados com
a pequena árvore de ouro, prata e pérolas. Percebendo
que todos estavam visivelmente maravilhados com a árvore
artificial, que parecia natural, o príncipe começou
a contar vantagens, na tentativa de demonstrar sua bravura para
ganhar admiração.
-Não
foi fácil trazer essa jóia da natureza. Para início
de conversa, ninguém sabia dizer exatamente em que ilha
fica o monte Horai. Depois de navegar dias por mares revoltos,
minha intuição guiou -nos até uma ilha distante.
Caminhamos por uma floresta fechada e cheia de animais selvagens.
Somente dias depois atingimos o pé do monte. A escalada
então, foi ainda mais difícil. Mas não desistimos
e lutamos bravamente até conseguir chegar no ponto mais
alto do monte. De lá pudemos avistar o takara no ki (planta
tesouro) em um penhasco íngreme. E com um esforço
sobre-humano, conseguimos colher essa maravilha e plantar na bandeja
de bonsai.
-Puxa
quanta bravura ! admirou o velho Taketori Se mais ninguém
conseguir cumprir a tarefa, sua Alteza será o escolhido.
Nesse
momento o diálogo foi interrompido por um grupo de artesãos
que confeccionaram a árvore do tesouro. Eles alegavam que
ainda não haviam recebido o pagamento prometido e exigiam
que o príncipe tomasse providências.
Descoberta
a farsa, o príncipe saiu correndo superenvergonhado. Então,
Hime pediu que seu pai pagasse o trabalho dos artesãos.
Assim o segundo concorrente à mão da princesa foi
eliminado.
Kaguya
Hime, continua e será divida em 3 partes
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