(Por
Claudio Seto)
Em
Ashi Hara no Mizuho no Kuni (País dos Juncos e dos Campos
das Espigas de Arroz- hoje Japão) viviam dois príncipes
irmãos, filhos de Hassuseiri no Mikoto (Divindade Espiga
Madura), netos de Ninigui no Mikoto, e tataranetos de Amaterassu
Omikami, a Augusta Deusa Sol. O mais velho se chamava Hohoderi
no Mikoto e o mais novo Hoori no Mikoto.
Hohodemi
por ser um excelente caçador era conhecido também
como Yama no Satihiko no Mikoto (Divino Jovem da Montanha) e Hoori
por ser um fino pescador era conhecido por Umi no Satihiko no
Mikoto (Divino Jovem do Mar). Um dia o mais velho propôs
ao mais novo:
- Que
tal fazermos uma troca? Durante um dia inteiro você fica
nas montanhas caçando com meu arco e flecha e eu fico no
mar pescando com sua linha e anzol.
O outro
aceitou a proposta e ficou combinado que já no dia seguinte
fariam a troca. Na manhã seguinte Hohodemi, o pescador,
subiu a montanha com o arco e flecha do irmão, enquanto
Hoori, o caçador, foi em direção ao mar.
Lá chegando, sentou-se sobre uma pedra e passou o dia tentando
pescar algum peixe mas não foi bem sucedido. Entediado
de ficar o dia inteiro parado, mal o sol começou a cair,
ele voltou para a aldeia e devolveu a vara para o irmão.
Igualmente
sem sucesso, o pescador voltou da caça e mau humorado por
não ter conseguido usar o arco e a flecha com habilidade.
Ao receber sua vara de volta percebeu que estava sem anzol.
- Que
é isso? Você perdeu meu anzol. Como vou pescar desse
jeito? Só devolvo seu arco e as flechas quando trouxer
o anzol de volta. Trate de voltar onde estava pescando e procure-o.
- Algum
peixe deve ter levado, como posso encontrar um anzol no imenso
mar?
- O problema é seu, eu quero meu anzol de volta.
Hoori
voltou ao local onde passou o dia pescando e vasculhou por toda
área para ver se não estava enroscado em algum ramo
de capim, mas nada encontrou. Voltando à aldeia, com o
coração partido entregou sua espada para que o ferreiro
derretesse e fizesse milhares de anzóis. Alguns dias depois,
levou os anzóis e deu para o irmão.
- Esses
anzóis não são meus. Eu quero apenas o meu
anzol, não aceito outros. Trate de procurar no fundo do
mar, pois é lá que deve estar.
O
PALÁCIO DO MAR
Desolado,
Hoori caminhava pela praia sem saber o que fazer. Olhou para a
imensidão do mar e gritou desesperado:
- Por favor me ajude!
- Disse
alguma coisa – perguntou uma voz atrás de Hoori.
Quando o jovem se virou para trás deu de cara com um ancião
de longa barba e cabelos brancos. Hoori contou o que o afligia
e o ancião se dispôs a ajudá-lo.
Os
dois cortaram bambu, amarraram as varas lado a lado, uma nas outras
construíram uma jangada.
- Suba
e navegue até o alto mar. Lá onde as ondas se separam
existe um caminho. Siga por ela até encontrar um palácio.
É a morada de Shiyozuchi no Kami, o Deus do Mar. Ao lado
do portão principal existe um poço e uma árvore.
Você deve subir na árvore e ficar esperando que venha
atendê-lo.
A jangada
de bambu foi arrastada para o alto mar e Hoori corajosamente deixou-se
levar. Horas depois o mar se abriu em duas partes e um caminho
de areia descortinou à sua frente. Seguindo por ela chegou
no portão de um belo palácio. Como descrevera o
velhinho, havia um poço e uma árvore ao lado do
portão. O jovem subiu na árvore e ficou esperando
que alguém abrisse o portão.
Pouco
depois, uma bela ninfa apareceu com um vasilhame nas mãos.
Quando olhou para dentro do poço viu a imagem de Hoori
refletido no espelho d’água e levou um grande susto.
Correndo foi avisar Toyotama Hime (Princesa Alma Luxuriante),
que havia um homem no fundo do poço.
A princesa
e seu pai Shiyozuchi no Kami e as ninfas correram ao portão
e viram Hoori em cima da árvore. Quando o Deus do Mar viu
o moço logo o reconheceu:
- Ora,
é o neto de Ninigui no Mikoto, a divindade que veio de
Takama no Hara (Alta Planície Celeste).
Pelo
fato de ser descendente de Amaterassu Omikami, a Augusta Deusa
Sol, o jovem príncipe foi recebido com grande pompa. Muitas
festas com maravilhosos banquetes acompanhados de músicas
e danças aconteciam sem parar. Hoori não percebeu
o tempo passar pois vivia numa atmosfera de sonho e encantamento.
Ele se apaixonou pela princesa Toyotama e se casaram. Hoori era
intensamente feliz e assim num piscar de olhos três anos
se passaram.
Um
dia, em meio a uma conversa, Hoori lembrou da razão que
o fizera vir até o Palácio do Mar (também
conhecido como Palácio do Dragão).
- Esqueci do anzol, meu irmão deve estar desesperado.
Percebendo
que seu marido ficou muito preocupado, a princesa Toyotama, se
dispôs à ajudá-lo. Hoori então contou
toda história dizendo que veio com a finalidade de procurar
o anzol do irmão.
Quando
a princesa relatou à seu pai, o Deus do Mar convocou todos
os peixes a comparecerem em sua presença. Todas as espécies
de peixes se fizeram presente em torno do palácio e Shiyozuchi
no Kami perguntou:
- Sabe de alguém que se engasgou com um anzol há
3 anos nesta região?
- Sim, responderam os peixes.
- Foi
o guloso Pargo. Faz tempo que ele vive se queixando de dor na
garganta.
Em seguida o pargo se apresentou e o Deus do Mar examinou sua
garganta. Como disseram o anzol esta vá ali espetado. Shiyozuchi
retirou cuidadosamente e entregou ao genro. Hoori agradeceu a
hospitalidade ao Deus do Mar e despediu-se dele.
- Foi
um imenso prazer receber a sua visita. Gostaria que você
não fosse, mas não posso retê-lo por mais
tempo, pois sei que no império de seu pai está acontecendo
coisas muito graves e sua presença se faz necessária.
Só quero pedir que cuide bem da minha filha.
Em seguida estendendo uma pérola gigante disse:
- Você
poderá passar por momentos difíceis, por isso aceite
este tama (bola de cristal) como talismã. Ela se chama
Jóia da Maré Alta quando você aperta com a
mão direita. As águas do mar sobem com toda sua
fúria capaz de arrastar consigo todos os seus inimigos.
E quando você apertar este tama com a mão esquerda,
passa a ser denominada “Jóia da Maré Baixa”,
e as águas voltarão tranqüilamente ao seu leito
sem deixar traços algum de sua passagem.
Continua... |