(Por
Claudio Seto)
SOB
O SIGNO DO RATO
Na terceira prova, o deus -Tempestade levou o jovem para um imenso
campo. Lá chegando, Suzano-o vergou seu poderoso arco e
atirou a flecha bem distante, ordenando a Ookuni que fosse buscá-la.
Ele correu em direção para onde a flecha foi arremessada,
porém como o campo era repleto de alto capinzal, a dificuldade
de encontrar era enorme. Enquanto Ookuni procurava, inesperadamente
como um raio, o deus-Tempestade ateou fogo no capim. Uma grande
labareda levantou e propagou o fogo ajudado pelo forte vento assoprado
pelo deus-Tempestade. Em fração de segundos Ookuni
se viu rodeado pelas chamas que vinha fechando em círculo.
Correu de um lado para outro mas não havia como sair.
Nesse
momento de desespero um rato chegou junto ao seus pés e
recitou uma advinhação: - O que é, o que
é ? : Por fora é quente, por dentro é morno.
Embora
o círculo de fogo já estivesse bem perto, Ookuni
ficou intrigado com a pergunta e tentou pensar numa resposta.
Vendo que o rato tinha desaparecido, pisou com força no
montinho de terra fofa onde o animalzinho estava. O chão
cedeu e Ookuni caiu numa caverna. Nesse instante o fogo passou
sobre a superfície e o jovem pode até sentir o calor,
sem se queimar.
Enquanto
se recuperava do susto, apareceu o rato com a flecha na boca e
disse:
- Parabéns, você matou a charada. Seu prêmio
é uma flecha.
No
palácio a princesa Susseri estava chorando certo de que
seu amado fora dizimado pelo fogo. Suzano-o no Mikoto tentava
consolar a filha, dizendo que se ele não conseguiu escapar
daquela prova era sinal de que não era digno de ser seu
marido. Nisso, Ookuni entrou folgadamente pela porta com a flecha
na mão e entregou para o deus-Tempestade.
Suzano-o
reconheceu. - És um grande homem!
SOB
O SIGNO DO MACACO
Ookuni e Susseri ficaram satisfeitos pensando que estavam terminadas
as provas. Porém foram surpreendidos com a ordem de Suzano-o,
que disse que ia tirar uma soneca e que Ookuni deveria, enquanto
isso, matar uns bichinhos que estavam se criando em sua longa
cabeleira. Era mais um desafio, pois os tais bichinhos nada mais
era que os insetos nojentos chamado mukade (lacraias).
Enquanto
Suzano-o dirigia-se para seu quarto para dormir, a princesa Susseri,
confidenciou ao seu amado, que seu pai já não o
estava submetendo a provas. O deus-Tempestade pensava ter encontrado
alguém a sua altura e estava iniciando o jogo do
macaco. De agora em diante, a coragem não era levado
em conta, só a astúcia contava. Assim, Susseri entregou
a Ookuni uma fruta de muku (a palavra faz um trocadilho com o
nome da fruta) e um pouco de barro vermelho, explicando que ele
deveria morder a fruta e cuspir junto com o barro vermelho que
pareceria sangue, fazendo seu pai pensar que ele estava mordendo
o nojento mukade.
Suzano-o
estava fingindo que dormia e Ookuni mexia seu cabelo com um pau
e dava uma mordida na fruta e cuspia o barro vermelho. O deus-Tempestade
ficou satisfeito com o estratagema, e se divertia pois não
existia nenhum mukade na sua cabeça. Considerou que o jogo
do macaco começou de forma interessante e ardilosa:
quem pensava que estava enganando estava sendo enganado. Assim,
acabou pegando no sono pensando em um novo truque para o seu jogo
no dia seguinte.
Assim
que Suzano-o começou a roncar Ookuni pensou com seus botões:
-Se o bicho é venenoso como dizem, porque ele não
se preocupa que morda a sua cabeça?
-Assim percebeu que estava sendo enganado e resolveu dar o troco
iniciando ele um novo jogo. Amarrou os longos e desalinhados cabelos
de Suzano-o num pilar e resolveu fugir com sua filha e seus tesouros
celestes.
Apanhou
o arco e a flecha e a harpa sagrada (koto) que Suzano-o tinha
ganhado da deusa-Sol (Amaterassu Omikami). A noite estava mais
escura que outras noites. Quando o casal deixava sorrateiramente
o palácio, a corda da harpa encostou no canto da porta
e despertou o deus-Tempestade. Tentou levantar com um só
impulso mas caiu sentado devido as amaras do cabelo. Teve que
reconhecer mais uma vez a astúcia do jovem Ookuni.
Desvencilhou-se
das amarras e deu com a porta que não abria porque o casal
tinha encostado uma enorme pedra. Quando finalmente conseguiu
sair, ordenou ao vento que lhe trouxesse o som harpa provocado
pela correria do casal.
Quando
avistou o casal, eles já estavam no morro que fazia divisa
com o território vizinho. Surpreendido com a astúcia
de tão queridas criaturas foi generoso e permitiu que o
par mantivesse o tesouro furtado, abençoando a união.
Ainda por cima deu ao genro o direito de governar uma província.
Assim Okuni passou a ser chamado Okuni Nushi no Mikoto e tornaria-se
o sucessor de Suzano-o.
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