(Por
Claudio Seto)
As
façanhas da divindade terrestre Ookuni Nushi no Mikoto
parecem representar uma combinação de mitos de origens
diversas e pertencentes a diferentes regiões do Japão.
Dois temas principais dominam as aventuras deste personagem mítico:
o das várias provas a que a divindade foi obrigada a submeter-se
para alcançar uma posição de poder, e o do
amor entre ele e sua esposa número um, Susseri Hime, a
filha de Suzano-o no Mikoto (deus-Tempestade), e suas outras esposas;
estes temas muitas vezes são expressos sob forma de canções.
Essas lendas, que foram interpretadas como reflexos dos antigos
rituais que acompanhavam a iniciação à masculinidade
e ritos associados à ascensão ao poder.
Foi
na península de Izumo (atual província de Shimane)
que o mito colocou névoa na realidade. Reino de Suzano-o
no Mikoto, o deus Tempestade, ali aconteceram vários episódios
relatados nos livros míticos. Ookuni era o mais jovem entre
vários irmãos.
SOB
O SIGNO DO JAVALI
Embora
muito inteligente, era do tipo folgado e muito gentil com todos.
Sua personalidade não se enquadrava ao molde do tempo em
que todos andavam com espada na cintura e pelos atos de valentia
se media o valor de um homem. Isso o tornava rejeitado pelos seus
irmãos que tinham como traços de personalidade,
declarar rompantes de bravuras.
Certo
dia foram caçar pela redondeza e ficou combinado que os
irmãos tocariam o javali montanha a baixo e Ookuni ficaria
no sopé, para pegar o animal a unha. Conforme combinado
o jovem ficou esperando. Passado um tempo, algo desceu rolando
na ribanceira e Ookuni postou-se a frente, agarrando-o com os
dois braços. Era uma grande pedra, que aquecida ao fogo,
ficara vermelha como um javali. Ookuni além de rolar junto
com a pedra que lhe fraturou alguns ossos, saiu todo chamuscado
com queimaduras em todo corpo.
SOB
O SIGNO DA SERPENTE
Preocupado com a ingenuidade do filho caçula,
sua mãe o convenceu a ir até o palácio de
Suzano-o no Mikoto, divindade local, para pedir conselho. Lá
chegando, Ookuni se apaixonou por Susseri Hime, a princesa filha
do deus-Tempestade e prometeu a ela que se o pai não desse
consentimento, os dois fugiriam para se casar.
Suzano-o
se simpatizou com o jovem Ookuni, considerando bondoso e gentil,
porém, para um homem, essas qualidades não eram
o suficiente. Era preciso ser também forte e corajoso.
E para testá-lo nesses aspectos, revolveu submete-lo a
prova, colocando-o para dormir num quarto cheio de serpentes venenosas.
Ookuni até pelo seu caráter despreocupado, aceitou
o desafio sem demonstrar medo, pensando que se tratava de um blefe
do deus-Tempestade.
Quando
dirigia-se para o quarto, a princesa Susseri, deu-lhe um lenço
dizendo que era feito de um tecido que as serpentes detestavam.
Caso elas se aproximassem, bastava balançar três
vezes que elas se afastariam. Ookuni deitou desconfiado, porém
acabou pegando no sono devido o dia cansativo que tivera. No meio
da noite foi despertado por alguma coisa que arrastava sobre sua
barriga. Ao abrir os olhos, viu com espanto que estava rodeado
de serpentes e uma sobre seu corpo já preparava para dar
o bote. Ele que estava com o lenço da sua amada na mão,
então balançou três vezes e as cobras foram
se afastando até voltar as suas tocas.
Na
manhã seguinte, Suzano-o foi espiá-lo no quarto
e se surpreendeu ao vê-lo em sono profundo, dormindo como
uma criança.
Na
noite seguinte, Suzano-o mandou o jovem dormir no quarto das abelhas
selvagens. Novamente a princesa lhe entregou outro lenço.
E graças a esse lenço que espantava todo tipo de
inseto venenoso, Ookuni dormiu bem.
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