(Por
Claudio Seto)
No
período Heian (794 a 1192) existiu um tsuwamono (guerreiro)
de nome Watanabe no Tsuna, que se tornou célebre pelos
seus feitos temerários. O episódio mais conhecido
referente as suas façanhas foi quando enfrentou um oní
(demônio), que estava assombrando o portal de Rashomon na
entrada de Heian Kyo (hoje Quioto), então capital do Japão.
Durante
séculos essa história foi considerada verdadeira,
já que Watanabe no Tsuna foi um personagem real e sua história
contada em relatos oficiais e não em contos de ficção.
Porém, com a ocidentalização do Japão
a partir do período Meiji (1868 a 1912), todas histórias
que apareciam os oni (demônios) foram consideradas lendas,
pois, conforme os intelectuais da época, perante
o mundo, é um fato vergonhoso para o povo japonês,
continuar acreditando em seres imaginários como os oni.
Atualmente,
com a aceitação de que os oni eram na realidade
navegadores vikings, histórias como o Demônio no
Portal de Rashomon, ou Oeyama no Shutendoji podem perfeitamente
serem aceitas como verdadeiras, uma vez que de fantástico
na narrativa são as presenças dos oni.
Consta
que Watanabe era do tipo valentão. Quando soube que com
medo de um ser demoníaco que ali se instalou, ninguém
se atrevia passar à noite pelo portal, ele resolveu por
fim à questão, liquidando o alienígena num
ataque surpresa.
Vestindo
uma armadura de guerra (yoroi), o capacete (kabutô), e as
espadas, foi ao local e escreveu seu nome numa tabuleta para provar
que lá esteve. Em seguida ficou de plantão junto
ao pilar do portal de Rashomon à espera do oní.
O tempo estava chuvoso e frio, mesmo assim ele aguardou penosamente
durante várias horas, sem que nada de anormal acontecesse.
O silêncio da noite era quebrado pelo vento que fazia assobiar
as folhas do matsu (pinheiro) e de quando em quando pelo pio da
coruja.
Quando
chegou a hora do Boi (de 1 as 3 horas), cansado que tanto esperar,
Watanabe deu um breve cochilo. De repente, foi acordado com um
forte safanão no capacete, que só não voou
longe porque estava bem amarrado no seu queixo. A escuridão
e o susto impediram que ele percebesse o que estava acontecendo,
porém guiado pelo seu instinto guerreiro, puxou imediatamente
da espada e, revidou atacando com cega violência e o vulto
que caiu sobre ele. O silêncio foi quebrado então,
por um grito terrível de dor. O oní saiu na disparada
e desapareceu no breu da noite.
Enquanto
Watanabe no Tsuna se recuperava do susto, notou caído no
chão, um enorme braço decepado pela sua espada.
A história
continua, contando que o Oní mutilado, recuperou mais tarde
seu braço, graças a uma artimanha. Teria o demônio,
disfarçado-se de uma velha empregada da família
Watanabe e entrado na casa do samurai para retirar seu braço.
Watanabe
no Tsuna é um dos cinco samurais que integrou a equipe
de Minamoto no Yorimitsu (ou Raiko), na caçada ao oni gigante
Shutendoji. Nessa ocasião, além do famoso Raiko,
Watanabe contou com a companhia de outro renomado caçador
de oni: Sakata no Kintoki.
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