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Arquivo NippoBrasil - Edição 060 - 6 a 12 de julho de 2000
 
Ono no Komachi

(Por Claudio Seto)

Pouco conhecida no Brasil, mas tão cultuada quanto Bashô no Japão, a poeta Ono no Komati (ou Komachi) que destacou-se no século IX foi a primeira mulher a tornar-se celebridade na literatura japonesa. Sua contemporânea, a poeta lady Ise, consorte do Imperador Uda, tornou-se também conhecida, mas não chegou a fama de Lady Komati (850 d.C. ). Depois dela, outras escritoras como Murasaki Shikibu (978-1016 -autora de Guenji Monogatari - A História de Guenji) e Sei Shonagon que escreveu Makura no Shoki (Confissões ao Travesseiro, no ano 1000), também ganharam fama.

No início do século XI, o poeta e crítico Fujiwara no Kinto compilou uma lista de 36 poetas ilustres desde a época da mais antiga antologia de poemas japoneses, o Manyoshu, até aos seus dias. Entre as mulheres desta lista, Ono no Komati e Lady Ise estão em destaque.

Os versos de Komati podem ser encontrados, nas mais famosas antologias poéticas do Japão, como no Kokin Wakashu (Antologia de Poemas Antigos e Modernos), que reúne 1.100 poemas do estilo tanka, compilado em vinte volumes por ordem do imperador Daigo em 905. No prefácio desta obra, o editor Ki no Tsurayuki, expressa o ideal permanente na literatura japonesa, a primazia da emoção sobre o intelecto:

“A poesia do Japão tem suas raízes no coração humano e floresce nas inúmeras folhas de palavras. Porque os seres humanos possuem os interesses mais variados, é na poesia que eles encontravam a expressão para as meditações do seu coração sob forma de imagens surgindo aos seus olhos e de sons entrando-lhes pelos ouvidos. Ouvir o pássaro cantar entre as flores e o sapo nas águas frescas? Haverá algum ser humano que não se sinta levado a cantar? É a poesia que sem qualquer esforço move os céus e a terra, agita os sentimentos dos deuses e dos espíritos imperceptíveis à vista, suaviza as relações entre os homens e as mulheres, acalma os corações dos guerreiros ferozes.”

Em Kokin Wakashu as poesias de Komati demonstram grande profundidade e intensidade emocional:

Hito ni awamu
tsuki no naki yowa
omoiote
Mume hashiri hini
kokoro yakeori

em noite sem lua
sem poder encontra-lo
queimo em desejos
as chamas do meu peito
meu coração consome

Outro tanka de Komati nessa mesma obra:

Wabinureba
mi-o ukigussa no
ne-o taete
Sassou mizu areba
inamu tozo omou

tal flor sem raízes
vagando na solidão
meu corpo flutua
ao convite das águas
deixarei me levar

Komati também marca presença com seus poemas no Shinkokinshu (Nova Antologia de Poemas Antigos e Modernos), a oitava obra do gênero comissionada pelo poder imperial. Datada de 1205 e compilada por Fujiwara no Teika (ou Sadaiye 1162-1241), é o que há de mais representativo da época e se situa no plano de destaque no quadro da tradição local.


Ono no Imoko, o iniciador do ikebana no Japão

Outra antologia famosa, o Hyakuin Isshu (Jogo dos 100 poemas e 100 poetas), que surgiu no ano 1235, compilada por Tika, trazendo obras de diversas épocas, um poema de Komati, está registrado. Numa outra versão desse jogo cultural, o Ogura Hyakunin Isshu, apresenta o seguinte tanka (poema de verso com 5,7,5 e 7,7, sílabas):

hana no irô wa
utsuri ni kerina
itazurani
wagami yoni furu
nagamesse shimani

cuja versão seria aproximadamente assim:

enquanto vejo,
a flor perde a cor
com facilidade
Num piscar de olhos,
a vida passa

Nesse poema, Ono no Komati, faz um comparativo entre flor e a beleza da mulher, mostrando que o tempo não perdoa a beleza aparente. Possivelmente é uma resposta para seus inúmeros admiradores, pois ela ficou conhecida como a mulher mais bela do Japão antigo. Queria Lady Komati que seus cortejadores admirassem não a sua beleza física, mas a beleza da sua poesia. Consta que ela recebia cartas de várias parte do país, pois a fama de ser bonita, cantada por cancioneiros andarilhos, atravessou as fronteiras feudais. A poeta Komati nunca respondeu essas cartas propondo casamento, nem mesmo os versos com declaração de amor (koigumi) vindos das mais altas personalidades da época.

Na segunda metade do século IX, se destaca como poeta o bispo budista Henjô (816-90), Narihira Arikawa (825-80), Yasuhide Funya, o monge Kisen, a poetisa Ono no Komachi e Kuronushi Ohtomo, que posteriormente foram cognominados Os Seis Gênios do Waka”. Waka é a poesia tradicional do Japão, hoje conhecida por tanka.

 

NOTAS:
Ono no Komati, era descendente do imperador Bidatsu e sobrinha do calígrafo e iniciador do ikebana no Japão, Ono no Imoko (Senmu). Foi também uma das antepassadas de Yoko Ono. O fato de ter sangue azul explica porque Yoko estudou no colégio de nobres no Japão, na mesma escola e época do atual imperador. No Brasil provavelmente a única pessoa que tem Ono no Komati em sua árvore genealógica é o arquiteto Luiz Hayakawa, presidente da URBS de Curitiba.

 
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