(Por
Claudio Seto)
A
Caminho do
Segundo Combate
Seis anos se passaram até um novo embate entre
os samurais de Shinguen e Kenshin. Nesse intervalo, Uesugui Kenshin
invadiu o feudo de Etyu (atual província de Toyama) e Takeda
Shinguen guerreou contra o feudo de Shimano. Ambos saíram
vitoriosos e aumentaram de modo considerável seus territórios,
assim como seus exércitos.
Em
agosto de 1561, Kenshin voltou a região da ilha fluvial
(Kawanagajima) com um exército de 13 mil homens. Montou
seu acampamento no monte Sadyo e ficou tocando kotô (instrumento
musical de corda) enquanto esperava seu adversário.
Shinguen
trazendo um exército de 20 mil homens se instalou no monte
Tyaussu, de onde ficou observando a grande ilha fluvial. Dias
depois, construiu um forte e começou a traçar estratégias
de combate, baseada na posição e acidentes geográficos
do local.
Depois
de muito estudo ficou pronto o plano de combate que consistia
basicamente em dividir o exército em dois batalhões.
O primeiro de 12 mil homens que daria a volta e invadiria por
trás o acampamento de Kenshin, obrigando seu exército
descer em retirada para a ilha fluvial. Nessa ocasião,
o segundo batalhão com 8 mil homens, que já estaria
posicionado na ilha, faria a barreira, encurralando o inimigo.
O
jogo de paciência
A experiência do primeiro confronto e a observação
das conquistas de seu adversário ensinaram a Uesugui Kenshin
que não adianta tentar remover a montanha.
Takeda Shinguen vencia suas guerras sempre no contra-ataque. Praticante
dos tratados de Sonshi, Shinguen havia criado fama de ser firme
e imóvel como a montanha.
Kenshin
então, resolveu agir exatamente ao contrário do
primeiro confronto. Ficou a espera da iniciativa do adversário.
Para preencher o tempo, meditava tocando kotô praticamente
todos os dias.
O tempo
foi passando e Keshin não demonstrava nenhuma pressa. Seus
subordinados acostumados à pratica de ataques ferozes e
fulminantes, começaram a ficar preocupados com a falta
de ação. Chegaram a propor ataque imediato com alegação
de que a ração só daria para mais dez dias.
A resposta
zen de Kenshin foi tocar kotô e dizer calmamente: vamos
espera a montanha se mover.
Uesugui
Kenshin na verdade estava praticando sua arte da guerra. Posicionou-se
no monte e desafiou Shinguen para o combate exatamente naquele
verão, porque sabia que seu adversário não
podia ficar por muito tempo acampado deixando desguarnecido seu
castelo.
Então
Shinguen que sempre jogou na retaguarda se viu obrigado a tomar
a iniciativa do combate. Conforme o plano traçado, um batalhão
de 12 mil homens deixou o forte em direção do monte
Sadyo para atingir a retaguarda do exército de Kenshin.
Três dias depois, quando esse batalhão chegou ao
acampamento dos adversários, ao invés de encontrá-los
pronto para o combate estava abandonado.
Aconteceu
que Kenshin quando soube através de seus batedores, que
o exército de Shinguen estava se movimentando, ordenou:
Preparem-se para a luta. A montanha se moveu! Em seguida
desceu com seus 13 mil homens, protegidos da visão dos
Takeda por uma densa neblina. Chegaram a ilha fluvial um dia antes
dos inimigos.
Quando
Takeda chegou à ilha com seu segundo batalhão de
8 mil homens, e estavam se posicionando para esperar o retirante
exército adversário, foi surpreendido pelo ataque
em massa dos samurais de Kenshin, que saíram do nevoeiro,
como raios e trovões que rasgavam impetuosamente as nuvens.

Um
floco de neve sobre fogão quente
Uesugui Kenshin e Takeda Shinguen, ambos seguidores
do zen, embora estivessem em campos opostos, mostraram um nível
surpreendente de cavalheirismo e cortesia um com o outro.
Kenshin
vestido com a armadura preta e um capacete preto ornado com uma
estrela, e coberta com pano branco de monge-guerreiro, atravessou
o cerco montado num vistoso cavalo malhado, o campo de batalha,
gritando enquanto brania ferozmente sua espada:
Onde
está você Shinguen?
Shinguen
estava calmamente sentado numa banqueta cercado por 30 homens,
vestido uma túnica vermelha de monge, um capacete ornado
com chifres estilizados e pelos de kiku, animal do Tibete de vistosa
pele.
Kenshin
furou o cerco e avançou com seu cavalo para cima de Shinguen
e pronto para desferir um forte golpe vertical sobre a cabeça
do arcebispo, exclamando: O que você me diz agora?
Shinguen
calmamente respondeu, enquanto desviava a espada com sua ventarola
de ferro (gunpai), usada para comandar batalhas: Um floco
de neve sobre o fogão quente.
Kenshin investiu rapidamente um novo golpe de espada.
Shinguen
tornou a se defender com o gunpai, que quebrou ao aparar o segundo
golpe e atingiu seu ombro. A impressão que Kenshin teve
foi de que tinha atingido o adversário em cheio. Realmente
o golpe teria sido fatal se no exato momento da investida de Kenshin,
o oficial Hara Ossumi no Kami (literalmente Hara o superior de
Ossumi), não tivesse espetado com a lança o traseiro
do cavalo. O animal empinou ao ser atingido, tirando a eficiência
do golpe da espada de Kenshin. Na seqüência, o cavalo
ferido pulou para dentro do rio, poupando assim a vida do Arcebispo
Shinguen.
A
sangrenta batalha durou até o início da tarde. Shinguen
tinha dividido sua tropa em 12 pelotões de ataques alternados,
porém 10 grupos foram sumariamente derrotados pelo bloco
de 13 mil homens de Kenshin. No total 3 mil homens de Takeda Shinguen
morreram no campo de batalha, inclusive seu irmão Takeda
Nobushigue.
Derrotados
e carregando seus feridos, a tropa de Shinguen recuou para o castelo
de Kai. Uesugui Kenshin saiu gritando vitória, certo de
que exterminara os adversários. Porém, Shinguen,
ainda tinha 12 mil homens do primeiro batalhão que ficaram
procurando os inimigos no monte Sadyo. Todos estavam certos de
que haveria um novo confronto. Takeda Shinguen visava a ocupar
a capital Quioto, a fim de assumir as rédeas do governo
militar do Japão. Seu exército chegou a entrar na
capital após destruir diversos adversários ou competidores
com o mesmo objetivo. Mas antes de derrubar o shogun Ashikaga,
em abril de 1573, morreu repentinamente de ataque cardíaco.
Existem versões que diz que Shinguen foi atingido por arma
de fogo. Dois poderosos senhores de guerra, Oda Nobunaga e Tokugawa
Ieyassu, tinham se aliado para derrotar Takeda.
Sua
morte foi ocultada por vários dias, pelo conselho feudal,
que usaram um kagemusha (sósia) para que Oda Nobunaga não
soubesse do ocorrido.
Porém,
seu filho Takeda Katsuyori acabou assumindo o poder e atacou Oda
Nobunaga, esquecendo-se da lição do pai de que a
montanha não se move. Na batalha de Nagashino, Oda
empregou contra a cavalaria dos Takeda, uma nova tática
revolucionária. Soldados armados com mosquetes em cerca
de 3.500 bocas de fogo, inaugurando um novo sistema de guerra,
no qual a arma de fogo desempenha papel decisivo. Foi o fim do
clã Takeda.
Cinco
ano depois, Uesugui Kenshin também morreu, terminado uma
das maiores rivalidades da história japonesa.
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