(Por
Claudio Seto)
Durante
muitos anos os mais temidos comandantes militares japoneses foram
Takeda Harunobu, daimyô (feudatário) de Kai, e provavelmente
um dos mais ferozes generais do sangrento Sengoku Jidai (Período
dos Países em Guerra 1573 a 1576), em que o Japão
virou um campo de batalha entre feudos que compunham a nação.
Aos trinta anos, Takeda Harunobu raspou a cabeça, tornou-se
um monge zen, intitulando-se Arcebispo Shinguen .
Estudante dedicado e pensador, foi um mestre do ludíbrio
e um excelente general de campanha. Não dava qualquer lugar
a ética na sua luta pelo poder, considerando o assassinato
como um processo perfeitamente legítimo para se livrar
dos rivais.
Takeda
Shinguen, o incrível arcebispo, cujo equipamento de campanha
incluía três panelões, onde cozia criminosos,
mandara bordar os seus estandartes de combate com frases de Sonshi
(veja nota), o famoso Furinkazan:
Célere
como o vento
Majestosamente calmo como a floresta
Saqueador como o fogo
Firme como a montanha.
O
seu contemporâneo e freqüente antagonista, Uesugui
Kenshin, feudatário de Echigo, era também um monge
zen, que cedo aprendera os clássicos militares chineses.
Parafraseando Sonshi, recomendava aos seus seguidores:
Quem
se agarra à vida, morre; quem desafia a morte, vive.
Aquele que hesita em dar a vida abraçando a morte não
são guerreiros autênticos.
A
preferência de Shinguen e Kenshin pela diferentes frases
de Sonshi revelava o caráter e o modo de agir de cada um.
Takeda Shinguen agia como o vento (fu), a floresta (rin) e o fogo
(ka), mas na base se mantinha imóvel como a montanha (zan).
Uesugui Kenshin desafiava a morte e seu estilo preferido era atacar
o inimigo de modo fulminante.
Batalha
de Kawanagajima
O rio
Tikuma nasce em Kobushi Dake, uma grande serra que avança
por três territórios: Koshi, Bushi e Shinshi. Suas
águas correm em direção a Shinshi (atual
província de Nagano) onde o rio se bifurca formando uma
grande ilha fluvial (Kawanagajima). Esse local seria mais uma
ilha entre tantas outras que existem no Japão, não
fosse as famosas batalhas travadas no período Sengoku entre
dois grandes generais: Takeda Shinguen e Uesugui Kenshin.
Em
22 de julho de 1555 (55 anos depois do descobrimento do Brasil),
houve o primeiro confronto entre esses dois feudatários
em Kawanagajima. Kenshin acampou com sua tropa de 8 mil homens
em uma das margens, enquanto que Shinguen, ficou na outra com
20 mil homens. Foram 27 dias de observação mútua
no jogo de guerra, de uma guerra ainda não declarada, cujas
manobras de tropas, de ambos os lados, eram demonstrações
de forças e ameaças mútuas de ataque.
No
vigésimo sétimo dia de observação,
Kenshin mandou um mensageiro atravessar a ilha levando seu recado:
- Ficar
só observando não dá graça. Proponho
um confronto de forças para decidir o impasse.
- Se quer uma decisão, ataque! respondeu Shinguen,
imóvel como uma montanha.
Dito
e feito. Uesugui Kenshin atacou com um grupo de samurais iniciando
uma batalha de estratégias. Nenhum dos dois enviava todo
seu contigente, mas dividiam em pequenos grupos de investidas
sucessivas e a ilha fluvial virou um tabuleiro de lutas, onde
ataques e conta-ataques aconteciam de todos os lados.
Era
um jogo de guerra em que as partes esperavam o enfraquecimento
do adversário, para no momento exato atacar em massa. Porém
como os dois generais se guiavam pelo Sonshi, a situação
se alastrou e não chegava o momento oportuno e decisivo
por eles almejado.
Um
terceiro feudatário, general Imagawa Yoshimoto, posicionou
sua poderosa tropa num monte das proximidade e se deliciava observando
as manobras guerreiras - como um perú que assiste
o jogo de shogui (xadrez japonês). A certa altura dos acontecimentos,
o general Yoshimoto resolveu interferir na luta, sugerindo que
cessassem as hostilidades, porque não ia dar em nada, já
que as forças e as estratégias estavam muito equilibradas.
Imagawa
Yoshimoto era parente do shogun Ashikaga, que na época
governava o Japão, portanto, além de suas posses
e contingente militar, tinha as costas quentes capaz
de reunir em pouco tempo, o apoio de um fabuloso exército.
Shinguen
e Kenshin sabiam que Imagawa, na verdade, procurava motivo para
acabar com os dois e tomar posse de seus feudos. Estava claro
que naquela batalha, Shinguen ou Kenshin, qualquer um que vencesse,
seria esmagado por Imagawa, que aproveitando-se do cansaço
e baixas das tropas combatentes, atacaria impiedosamente com seu
exército, alegando-se ofendido por não darem ouvidos
ao seu conselho.
Porém,
para surpresa de Imagawa, os comandantes Shinguen e Kenshin aceitaram
o termo batalha empatada sugerida por ele, e retiraram
suas tropas.
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