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Arquivo Edição 259 - 26 maio a 1 de junho de 2004 - Especial - Portal NippoBrasil
 

A derrubada de um paradigma

O nissei Seiji Ishikawa, da YKK do Brasil, é o primeiro nipo-brasileiro a ser nomeado diretor da matriz de uma multinacional japonesa

Arquivo Jornal Nippo-Brasil

Há pouco mais de dois meses, a multinacional japonesa YKK Corporation – líder mundial na produção de zíperes – escreveu um capítulo à parte na história das relações Brasil–Japão. Isso porque, no dia 1º de abril, o presidente Tadahiro Yoshida nomeou Seiji Ishikawa, 56, para o cargo de diretor vice-presidente da matriz. Nada de mais, se ele não fosse brasileiro, filho de imigrantes japoneses, caso até então inusitado em empresas nipônicas.

Presidente da YKK do Brasil desde 1994, Ishikawa foi o primeiro nissei a assumir um cargo executivo no arquipélago, segundo a Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil, órgão no qual também ocupa uma das cadeiras da vice-presidência. Bacharel em ciências contábeis pela Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo (Facesp), em 1973, o nikkei passou a compor o quadro da YKK dois anos depois de sua formatura, como gerente de contabilidade. Coincidência ou não, a empresa iniciava naquele ano suas atividades no País. “Participei de toda a operação de fundação da fábrica, da montagem da empresa, e atravessei com elas todas as dificuldades”, orgulha-se Seiji. “Por isso, hoje costumo diser que não sei se sou mais eu ou se sou mais YKK”, brinca.

A escalada rumo ao inédito posto no Japão – que, por questões estratégicas, é exercido de sua própria sala, no prédio da filial brasileira, no bairro paulistano do Itaim Bibi – teve início em 1961, quando, ainda jovem, começou como auxiliar de escritório no Palácio dos Brinquedos, na Rua 25 de Março. De lá, Ishikawa transferiu-se para o Banco do Estado de São Paulo (Banespa), após aprovação em concurso público, enquanto ainda fazia faculdade. Já formado, ingressou no Grupo Safra como assessor contábil. Só depois foi contratado pela YKK.

Prestes a completar três décadas no grupo – no qual, no Brasil, também já exerceu as funções de gerente-administrativo (82), diretor-administrativo financeiro (86), diretor-superintendente (87), diretor vice-presidente (89) e coordenador da América do Sul (2000) –, Seiji Ishikawa, com ar de workaholic, garante não estar pensando em aposentadoria. Principalmente agora. “Hoje não tenho data definida [para a aposentadoria]. Mas penso que, quando for deixar a empresa, quero deixá-la numa posição confortável, para que o sucessor consiga gerenciá-la de maneira mais tranqüila”, adianta.

Natural de Marília (SP), o novo executivo da YKK Corporation passou por Adamantina com os pais, Takaji e Toshiko Ishikawa, antes de chegar à capital, sozinho, aos 12 anos. Aos 27, casou-se com Misuzu Shinobara, com quem tem três filhos – Patrícia, Fábio e Ricardo –, todos administradores de empresa.

Seiji Ishikawa, que também é presidente de honra do São Paulo Beisebol e Softbol Clube, tem raízes fincadas na cultura nipônica. Prova disso é que, além de ter fluência no idioma, nos momentos de lazer costuma ouvir kayoukyoku (música popular japonesa). “De outras músicas internacionais ou brasileiras, eu prefiro as românticas”, admite. Difícil, porém, é conciliar o prazer da vida pessoal à nova rotina profissional.

Não bastassem o desafio de fazer crescer em 10% o faturamento do grupo no Brasil, elevando-o dos R$ 195 milhões registrados em 2003 para R$ 210 milhões ao final deste ano, e a responsabilidade de seguir à frente das cinco divisões da YKK no País – fastening (zíperes, botões e quicklon, um tipo de velcro); produtos arquitetônicos; granitos e mármores; mecânica; e agropecuária – e de seus mil funcionários, o nissei passará a viajar de quatro a cinco vezes ao ano para o Japão, o dobro do que estava acostumado. Isso além das duas ocasiões em que terá de se deslocar para os Estados Unidos, onde participará de reuniões com outros executivos da matriz. “Mas tudo isso é uma alegria, já que vou poder contribuir com alguma coisa para a empresa”, conclui.


"Acredito que cada vez mais, nas empresas, os profissionais são mais profissionais. Então, a exigência é maior"

Confira os principais trechos da entrevista que Seiji Ishikawa concedeu ao NB:

Nippo-Brasil: Para o senhor, o que significa ser o primeiro nissei a assumir um cargo executivo na matriz de uma multinacional japonesa?
Seiji Ishikawa:
Foi uma grande surpresa para mim, e logicamente que hoje eu sinto que, apesar de surpresa, a gente pode contribuir com alguma coisa, principalmente porque a economia do mundo está mudando muito.

NB: Mesmo não sendo japonês, o senhor já havia pensado na possibilidade de tornar-se executivo da matriz?
SI:
Em 1994, quando passei para a presidência da YKK do Brasil, existiam poucos nisseis [executivos em empresas japonesas]. E, para ser presidente da empresa japonesa no Brasil, as pessoas já diziam que era muito difícil. Em 2000, também passei a coordenar o bloco América do Sul. E, para ser sincero, achei que isso era o final. Nem cheguei a pensar que um dia eu poderia ser diretor da matriz.

NB: Quais foram as principais recomendações feitas pelo presidente da YKK Corporation ao senhor, já como diretor vice-presidente da matriz?
SI:
As únicas coisas que ele [Tadahiro Yoshida, presidente da YKK Corporation] citou foram que eu teria total liberdade para me pronunciar a respeito da direção que a YKK deverá tomar daqui para a frente, e que eu deveria ter o máximo de informações sobre as Américas e de como esse continente deverá se comportar.

NB: Então é por isso que, apesar da promoção, o senhor continua no País?
SI:
Sim, já que, estando aqui, as informações estão mais próximas e são mais rápidas, certas e reais. Tem algumas coisas que as viagens atrapalham.

NB: Na sua opinião, quais características pessoais o auxiliaram a chegar ao posto?
SI:
Acho que uma das grandes coisas foi a comunicação. Quando você consegue se comunicar na mesma língua, facilita. Outro ponto-chave que eu tenho dito, quase que em tom de brincadeira, é que a dificuldade do Brasil nesses últimos 30 anos, com desvalorização de dólar, inflação alta e troca de moeda, é de difícil compreensão para uma pessoa que está no Japão. Foi quando na dificuldade eu tive possibilidade de agir rápido, a empresa começou a depositar confiança em mim. Por isso, costumo brincar dizendo que, se o Brasil fosse um País certinho, direitinho, talvez hoje eu não seria presidente, porque não precisaria. (risos)

NB: O senhor acredita que hoje os japoneses confiam mais nos executivos brasileiros?
SI:
Acredito que cada vez mais, nas empresas, os profissionais são mais profissionais. Então, a exigência é maior. Mas o que eu sinto é há uma abertura, sim. E os próprios japoneses estão sentindo que esse é o caminho mais fácil de ser bem-sucedido no País.

NB: Sua promoção pode representar a abertura definitiva do mercado nipônico para executivos nikkeis do Brasil?
SI:
Acredito que sim. Em 94, quando eu assumi a presidência [da YKK do Brasil], também foi um caso assim, quase que primeiro. Na época, senti que era uma experiência. Lembro-me que, quando eu fiz meu discurso, na época, disse que minha vontade de trabalhar se dobrava porque eu teria de servir de exemplo. Se eu fosse malsucedido, fecharia a porta. E, graças a Deus, estou aqui há dez anos. Agora, mais uma vez, sinto a mesma coisa. Acho que é uma abertura, e a gente tem de procurar dar certo, porque hoje vejo que já existem mais alguns presidentes e diretores [nisseis]. E não só nisseis; há também não descendentes. Então, o que vale mesmo é a capacidade profissional. Não sei o timing disso, mas é uma abertura, e acredito que isso terá continuidade, para que uma segunda ou terceira pessoa possa aparecer.

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