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Arquivo Edição 225 - 24 a 30 de setembro de 2003 - Especial - Portal NippoBrasil

Michie Akama

Uma vida dedicada a educação, essa poderia ser a definição mais simplista para descrever a vida e obra de Michie Akama, que na última semana comemorou seu centésimo aniversário. A incansável imigrante chegou ao Brasil na primeira metade do século passado e fundou a mais famosa escola para moças da comunidade nikkei


Agora, o sonho da professora é ver seu Centro Educacional transformar-se em universidade


A educadora foi homenageada pela USP em 2001


Michie (ao centro, sentada) quando dava aulas no Japão


A escola funcionou por quase 50 anos ensinando japonês e corte e costura

 

Em 1930, a professora Michie Akama e seu marido Jiuji alcançavam a costa brasileira a bordo do Montevideo Maru. Vindos da província de Miyagui, o casal, como a grande maioria dos imigrantes, foi levado para as lavouras de café, na cidade de Cafelândia, interior de São Paulo.

Após três anos vivendo numa fazenda, a professora mudou-se para a capital do Estado e fundou a Escola Feminina de Corte e Costura de São Paulo (São Paulo Saiho Jogakuin), no bairro da Liberdade. Começava a história de dedicação em prol do ensino e das relações entre Brasil-Japão.


Antiga sede da Escola Particular Akama

Na primeira fase, a Saiho Jogakuin, escola para moças em regime de internato, oferecia aulas de etiqueta, culinária, música e educação física. E, logo implantou o ensino do idioma japonês para atender as necessidades da comunidade nikkei -na época era o único curso de nível médio, reconhecido, existente no País.

Porém, para atender as especificações foi necessário que a professora importasse o material didático do arquipélago e também contratasse profissionais japoneses com formação superior para lecionar em sua escola.

Na época, as pessoas que quisessem adquirir uma educação mais refinada, precisavam buscá-la nos grandes centros urbanos da época. Como a maioria dos japoneses estavam concentrados nas cidades interioranas, as famílias mais abastadas enviavam suas filhas para a escola da professora Michie.

Em 1937, foi dado um passo importante para a complementação da formação das moças, a inclusão do ensino de português na grade curricular da Escola Particular Akama São Paulo, novo nome adotado pela instituição.

A partir disso, várias internas da Escola Akama obtiveram certificado de magistério, habilitadas na modalidade de corte e costura. Das moças que se formaram, muitas retornaram a suas cidades-natais para abrir escolas de corte e costura (veja quadro).

Sempre em busca de inovações, Michie enriqueceu o curso com aulas de cultura, como a pintura e o tanká (poesia), e mais do que isso, em 1950 foi criado o curso supletivo para o nível secundário.

A Fundação Instituto Educacional Dona Michie Akama foi inaugurada em 1958, visando crescer e adequar-se dentro da nova realidade, a integração com a sociedade brasileira.

A construção do prédio atual, na Vila Clementino, teve início em 1965 e no começo da década de 70 foi inaugurado o Centro Educacional Pioneiro. Nesta nova fase, a instituição foi aberta para meninos e começava a focar como objetivo principal o ensino infantil e fundamental, nos moldes regulares.

Aos poucos, as aulas de corte e costura foram dando espaço para a educação moderna, e hoje, o centro tem mais de 900 alunos matriculados. Entre as novidades mais recentes está a disponibilização do ensino médio, que formará sua primeira turma no final deste ano -mais um presente para comemorar os cem anos da educadora.

Segundo Regina Akama, coordenadora de comunicação do instituto, o sonho de Michie era poder ver a escola oferecer a formação para seus alunos desde o maternal até o 3º colegial. “Há três anos esse desejo foi alcançado, agora a educadora quer ir mais longe, ver o Centro Educacional Pioneiro transformar-se numa universidade”, revela.

Além do impressionante trabalho desenvolvido ao longo dos mais de 70 anos a frente das instituições de ensino, a educadora publicou três obras, “Boas Maneiras na Vida Brasileira” e outros dois livros de memórias.

Ao longo de sua carreira, a professora teve reconhecida, em várias ocasiões, sua luta e esforço pela integração dos dois povos e suas culturas. Entre as graças recebidas estão a comenda Zuihooshoo (Tesouro Sagrado) de 5º grau pelo governo japonês, em 1978; a Ordem do Ipiranga pelo governo do Estado, em 1983; e homenagem prestada pela Universidade de São Paulo (USP), em 2001.

 
As ex-alunas

Sumie Toyoda

Natural de São Caetano do Sul, Grande São Paulo, Sumie Toyoda, 76 anos, era uma das poucas moças que tinha o privilégio de poder voltar toda semana para casa, pois morava perto, “a sensei não gostava muito disso, ela era rígida, mas uma excelente professora”, comenta.

Sumie estudava no Bunkyo, mas após o início da segunda grande guerra, foi obrigada a mudar de escola. “Durante a guerra todos os lugares onde ensinavam japonês foram fechados, como a Akama Gakuen funcionava como escola de corte e costura, foi a única que continuou em atividade”, lembra.

De acordo com a ex-aluna, apesar de não ser muito fã dos estudos, as lições aprendidas foram valiosas, principalmente, nas épocas difíceis que sua família enfrentou, “costurei roupas para toda a família, meu irmão, filhos, sobrinhos”, recorda.

 


Sumiko Akioshi Yamazaki

A mãe de Tizuka Yamazaki, dona Sumiko, hoje com 79 anos, deixou o sítio dos pais em Mairiporã no início da Segunda Guerra Mundial para estudar corte e costura, e japonês na Escola Akama. “Naquela época a mulher precisava saber costurar para poder casar, se fosse formada pela Akama sensei (professora) melhor ainda”, recorda com humor.

Após dois anos na escola, a aluna tornou-se professora do curso de corte e costura, e lá permaneceu até seu casamento, em 1949.

A escola ganhou prestígio através do País, prova disso era o grande número de moças que vinham do interior ou de outros estados, “famílias do Mato Grosso enviavam suas filhas para passar dois anos aprendendo com a Akama e depois desse tempo, elas retornavam a suas cidades para casar”, finaliza.

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