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Arquivo Edição 242 - 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2004 - Especial - Portal NippoBrasil

Izumi Yamagata: Uma vida dedicada aos deficientes

Uma das fundadores da Casa da Esperança Kibô no Iê, a voluntária
foi também pioneira na musicoterapia no País

Arquivo NippoBrasil - Fotos: Divulgação

No final do ano passado, no dia 10 de novembro, a dedicação de Izumi Yamagata às crianças deficientes foi reconhecida pelo município com a outorga do título de Cidadão Paulistano pela Câmara Municipal de São Paulo. Mas, mesmo com a homenagem, a voluntária japonesa de 80 anos, 54 deles vividos no Brasil, não deixou de lado a humildade e, para todos que a parabenizavam, dizia: “Ainda não sei porque me escolheram. São tantas pessoas que ajudam a instituição...”

Mas não são todas as pessoas que têm uma história como a de Izumi Yamagata. Nascida no Japão em 1923, a então jovem senhora de 26 anos chegou ao Brasil com seu marido. Em 1963, foi uma das quatro fundadoras da Casa da Esperança Kibo No Iê, uma das principais instituições da comunidade e que trata de crianças com deficiência mental. Durante 40 anos se dedicou aos internos, sempre como diretora, cargo que deixou somente em 2000.

Em 1985, conheceu os benefícios da musicoterapia e os implantou na entidade, tornando-se uma das pioneiras do uso desta terapia em deficientes.

Como foi que a sra. iniciou seu trabalho junto ao Kibo No Iê?
Quando vim ao Brasil, fui morar no Rio de Janeiro. Quando tive o Léo, meu quinto filho – ela tem seis filhos e sete netos - decidi que seria melhor educá-lo conforme os costumes japoneses, então nos mudamos para São Paulo. Um dia, quando fui buscar meu filho na escola japonesa, o professor Munekata, um grande amigo de Koko Ichikawa, a idealizadora do Kibô no Iê, me perguntou se eu tinha alguns lápis de cera usados para doar. Fiquei confusa e perguntei qual a utilidade deles e ele me respondeu que era para os internos de uma casa para deficientes físicos e mentais. Fui conhecer o trabalho e decidi ajudá-los.

Como era o seu trabalho no início da criação da entidade?
Eu procurava pessoas, conhecidas e amigas, que pudessem fazer doações para que as crianças tivessem o que comer. Fiz isso por algum tempo até que Koko Ichikawa me chamou para ser diretora do Kibô no Iê. Isso foi em 1963 e só deixei o cargo em 2000.

E como sua família conviveu com seu trabalho na entidade?
Eles ajudaram muito. Meu marido sempre esteve ao meu lado. Minha filha deixava de sair muitas vezes para ficar me ajudando a fazer bolachas para as crianças internas. Eles nunca reclamaram de que sua mãe ficava um pouco ausente devido ao trabalho no Kibô no Iê. Tenho muito orgulho de meus filhos e de meu marido.

Como está a situação do Kibô no Iê atualmente?
Temos cerca de 80 internos adultos, todos com defi-ciência mental e uma grande maioria com deficiência física. Eles vivem na entidade, na maioria dos casos, por toda a vida, pois a sua reintegração à sociedade é praticamente impossível. Inicialmente, pelo grau de deficiência mental. Depois, pela situação dos pais que, além de não ter estrutura para receber o interno, acabam por envelhecer e falecer, deixando-o totalmente dependente da entidade.

Já sentiu tristeza em seu trabalho com as crianças?
Sim. Como foram muitos anos de trabalho, já senti muito a morte de alguns internos. Sempre que chegava à instituição e recebia a notícia do falecimento de algum deles, sentia uma imensa tristeza.


No final de 2003 o trabalho de Izumi foi homenageada e ela recebeu o título de cidadã paulistana

Como a sra. implantou a musicoterapia na entidade?
Na minha juventude, o estudo era muito difícil devido aos tempos de guerra em que vivia o Japão. Mas mesmo assim consegui fazer um curso de musicoterapia com o professor Takehiro Akaboshi, idealizador do método que leva seu nome (leia mais no quadro ao lado). Apresentei os benefícios da terapia para Koko Ichikawa e ela gostou muito. Depois disso começamos a utilizá-la na entidade.

Qual fato foi mais marcante em todos esses anos?
Já passaram muitas crianças no Kibô no Iê e eu tenho muito amor por todas elas, mas um caso foi especial. Uma garota que ficou cega, muda, surda e sem movimentos em seu corpo devido a um acidente doméstico foi encaminhada para nós. Durante as aulas de musicoterapia, ela era colocada ao lado do amplificador para sentir as vibrações dos sons. Mais tarde, em uma das aulas, notamos que ela estava acompanhando a música com a língua (movimentando para cima e para baixo). Choramos de emoção por ter conseguido sensibilizá-la. Vendo essa menina, nós tivemos certeza que deveríamos continuar com a terapia.

 

Musicoterapia
Método reabilita corpo e mente

O chamado método Akaboshi é desenvolvido para promover a liberação do estresse e o retardamento do envelhecimento por meio da música. Em termos físicos, tocar um instrumento pode estimular a utilização de músculos e articulações pouco movimentados no cotidiano. São escolhidos instrumentos que estimulem a extremidade dos dedos, a flexibilidade dos pulsos. Os voluntários usam imagens contidas nas letras e melodias das músicas para promover movimento corporal.

Já com a prática da respiração abdominal e torácica na preparação para o canto, aumenta-se a capacidade pulmonar. A técnica é a de cantar em voz alta, selecionando músicas e tonalidades adequadas a cada voz. O método também incentiva o acompanhamento do ritmo do canto com as mãos, chocalhos e percussões.

A musicoterapia no método Akaboshi é ativa, porque os participantes tocam, movimentam o corpo e treinam a vocalização. O trabalho é feito em grupo, o que estimula a consciência do outro e a socialização na infância. Na relação com pessoas idosas, é buscado o resgate da memória com músicas nostálgicas.

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