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Arquivo Edição 259 - 26 maio a 1 de junho de 2004 - Especial - Portal NippoBrasil
 

Estilistas nikkeis invadem a moda brasileira

Conhecidos ou não, eles estão fazendo sucesso no badalado mundo fashion no Brasil. Mas eles querem muito mais e mostram que têm muito talento

 

Arquivo Jornal Nippo-Brasil

O cenário fashion brasileiro se orientalizou e não é tendência de moda passageira. Trata-se de estilistas nikkeis que estão se destacando ao misturar a herança cultural às artes plásticas e gráficas, sempre acompanhando a tecnologia nos seus trabalhos. O resultado é uma moda vanguardista reconhecida no Brasil e no exterior.

Nomes como Jum Nakao, 38, Érika Ikezili, 27, Rogério Hideki, 36, e Eduardo Inagaki, 25, fazem parte dessa cara da moda. Todos já desfilaram com suas próprias marcas na Casa de Criadores, evento que é uma vitrine de novos estilistas para o mercado e ponte para ganhar as grandes semanas de moda do País. A caçula dessa turma é Catarina Gushiken, 22, à frente da equipe de estilistas da Cavalera, grife do empresário e deputado estadual Alberto Hiar, o Turco Loco. Ele também é sócio da V.Rom, de Hideki e Vitor Santos.

Conseguir lançar a própria marca não é nada fácil. O mercado é disputado e restrito. “É preciso esforço, talento, sorte e, principalmente, coragem para começar”, afirma Walter Rodrigues, um dos estilistas mais renomados da moda feminina, inclusive de alta costura.

Todas essas qualidades não faltaram a Eduardo Inagaki. Quando ainda cursava o segundo colegial em Bastos, interior de São Paulo, procurou Rodrigues para mostrar seus croquis. O estilista gostou do que viu e, terminado o ensino médio, Inagaki veio a São Paulo cursar uma faculdade e trabalhar no ateliê de Rodrigues, onde ficou por dois anos. “O Eduardo tem um enorme talento, desenha muito bem e é um batalhador”, elogia.

Formado em desenho de moda pela Faculdade Santa Marcelina, Eduardo Inagaki faz uma moda de detalhes pesados e contrastantes para conquistar principalmente o público feminino. O estilista tem ainda uma parceria com a Arezzo, que desenvolve os calçados de seus desfiles. A inspiração japonesa aparece nitidamente nas roupas do Verão 2005. “Nesta coleção, usei como referências os uniformes do kendô e da marinha japonesa”, afirma Inagaki.

O estilista fez a sua primeira exportação para Tóquio em abril deste ano e deve continuar na próxima estação. O convite surgiu depois que donos de um showroom no Japão vieram ao Brasil, em junho do ano passado, e se interessaram pelo seu trabalho. Três meses depois, convidaram o estilista a fazer parte desse showroom no qual outras lojas encomendaram suas roupas. Inagaki já exporta peças para os Estados Unidos e está de olho no mercado francês.

O jovem estilista tem planos de seguir, a partir de agora, por uma linha mais feminina. “A minha proposta é criar roupas, principalmente vestidos, para mulheres femininas de estilo contemporâneo e urbano”, comenta Inagaki. Se depender de apoio e torcida, pode contar com Walter Rodrigues. “Tento acompanhar o trabalho dele e fico orgulhoso das coisas que vejo”, diz.


Origem do japonismo

A expressão japonismo foi criada em 1872 pelo colecionador de arte e crítico francês Phillipe Burty, em referência à obsessão da época por gravuras japonesas que influenciaram pintores iluministas, estilistas e a decoração da alta sociedade francesa. Com a abertura dos portos do arquipélago, em 1850, houve um aumento de estrangeiros no país. Repórteres, ensaístas e fotógrafos enviavam suas impressões para a Europa de uma cultura que estivera inacessível durante mais de 250 anos.

Em 1867, aconteceu em Paris uma exposição que apresentava a cultura japonesa e incluía os ukiyoe (pinturas da vida social da Era Edo reproduzidas em xilogravuras). Foram essas gravuras que atraíram particularmente o interesse de artistas e intelectuais. Consta que Félix Bracquemond iniciou a moda da arte japonesa quando encontrou uma cópia dos desenhos de Hokusai – Mangá – em 1856, num caixote na loja do pintor de gravuras Delâtre, e começou a fazer cópias a partir desse álbum.

Vincent van Gogh era um admirador dos artistas japoneses de ukiyoe. Ficou fascinado pela forma com que compunham a figura e a paisagem. O retrato do negociante de arte Julien Tanguy, pintado em 1887, mostra o negociante parisiense tendo por detrás uma série de gravuras japonesas. Mais tarde, Van Gogh recuperou alguns dos motivos das gravuras para as suas paisagens e tipos regionais.

No mundo fashion, o termo japonismo é usado para designar um estilo de moda lançado por estilistas japoneses, radicados em Paris, que traduziram a tradição em modernidade, na década de 80. Issey Miyake, Kenzo, Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo introduziram o desconstrutivismo, as formas geométricas, modelagens amplas (lembrando um quimono), volumes, texturas e estampas que viraram referência.


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SONHO - Hideki ganhou elogios na SP Fashion Week e quer conhecer o Japão

Nem sempre ter feito uma faculdade de moda, tão comum hoje, é sinônimo de sucesso para uma grife. Rogério Hideki assina, junto com seu sócio Vitor Santos, as roupas da V.Rom. A entrada de Hideki no mundo fashion aconteceu depois de trancar a faculdade de publicidade no terceiro ano. Começou na São Paulo Alpargatas e de lá partiu para a Zoomp, onde foi coordenador de programação visual da marca por quase dez anos. “Fiz a escola da vida”, brinca o estilista e designer.

A marca é voltada para o público jovem masculino que busca roupas de corte clássico, atualizadas em novas combinações e tecidos. Por essa busca por novas tramas, os estilistas contam com o patrocínio da Rhodia Poliamida, por meio da marca Amni. Desde 2002, também é um dos participantes mais elogiados da São Paulo Fashion Week, maior evento da área no Brasil.

“A dupla faz roupas bem acabadas e usa uma cartela de cores sofisticada, com um resultado estético moderno, pop, meio mangá”, afirma a crítica de moda e apresentadora do programa GNT Fashion, Lilian Pacce. A moda assinada por Rogério Hideki e Vitor Santos pode ser conferida nos modelos usados pelos integrantes do grupo Ira! no seu DVD de músicas acústicas.

No mercado há cinco anos, é considerada por especialistas de moda como uma das novas grifes que mais crescem em qualidade. Glória Kalil, em entrevista à revista GQ italiana, citou a V.Rom como uma das etiquetas mais inovadoras que estão conquistando espaço nos Estados Unidos e Europa, ao lado de Alexandre Herchcovitch, Cavalera e Sommer. Em Londres, já existe uma representação da V.Rom. Glória também enfatizou a importância da diversidade cultural e étnica do País, que formam um patrimônio humano e criativo único.

As embalagens da marca e seus grafismos refletem outra marca da influência nipônica. “É um olhar, um viés, que lembra essa cultura”, diz Hideki. Mas ele espera que não fique só nisso. “Nosso sonho, meu e do Vítor, é passar uma temporada no Japão para fazer pesquisas”, diz Hideki, que já teve a oportunidade de conhecer pessoalmente Yohji Yamamoto, um de seus estilistas favoritos.


Você vai ouvir falar


MODA - Catarina, sobrinha do ministro Gushiken, acredita na liberdade de estilo

Catarina Gushiken, 22, é a estilista-chefe da marca Cavalera há duas coleções, mas começou na empresa há seis anos, quando cursava o colegial técnico em desenho. A sobrinha do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do Governo, Luiz Gushiken, divide-se entre a faculdade de moda, trabalhos de ilustração – sua paixão – e a própria Cavalera.

O pé no Oriente aparece nas formas, traços e cores do seu trabalho, mas ela acredita que é na vida que ela predomina. “É no comportamento, no dia-a-dia que isso transparece”, acredita Catarina, cujo avô é issei. Catarina não dispensa a leitura das revistas de moda de vanguarda do Japão, como a Non-No e a Fruits. Dos estilistas clássicos, ela aponta Issey Miyake como sua referência, pela mistura de arte com moda.

A estilista acredita na liberdade de estilo. “Não só nesta coleção de inverno usamos essa referência, mas a atitude das pessoas, em qualquer época, deve ser de ousar mais”, ressalta. Como exemplo, Catarina cita os jovens do Japão que misturam cores e padronagens, sem a preocupação de combiná-las.

Os nikkeis também já têm quórum na equipe de criação da Cavalera. Atualmente, são seis deles. A grife faz sucesso com suas referências a ícones do mundo pop traduzidas com bom humor para a moda streetwear.


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GRIFE - Jum, ex-Zoomp, passou pelo estúdio do estilista japonês Issey Miyake, em 1988

Hideki e Catarina são unânimes ao elogiar o trabalho do estilista Jum Nakao. O estilista funde as artes plásticas, tão caras a Catarina, e as artes gráficas, inspiração e formação de Hideki, no seu trabalho. Em uma rua tranqüila da Vila Mariana, funciona sua nova loja, junto ao ateliê. Lá, acontece toda a pesquisa que resulta nas coleções da marca que leva seu nome, em figurinos para peças publicitárias e projetos multimídia.

Numa parceria com estúdios de design, Nakao desenvolve books distribuídos durante seu desfile que já ganharam prêmios internacionais e citações em revistas de design. O estilista também participou, em janeiro deste ano, como único representante da moda, do projeto Imagética, mostra que reuniu artistas multimídia.

Sua passagem pelo estúdio de Issey Miyake no Japão, em 1988, é uma influência até hoje e o trabalho de Nakao é reconhecido pela imprensa especializada por imprimir a influência japonesa em suas roupas e acessórios. “Ele tem uma alma japonesa que aparece no seu trabalho”, diz Lilian Pacce. “A impressão que eu tenho é que ele se preocupa com as tradições do país, sai em busca delas”, completa. Além disso, na infância, o estilista teve um grande contato com a cultura japonesa, inclusive estudando a língua.

O interesse por inovações tecnológicas é outra marca do trabalho de Jum Nakao. Na época em que estava à frente da loja do Hotel Lycra, realizou pesquisas sobre as várias e possíveis combinações de fios com elastano. “O lado de exploração comercial no meu trabalho é baixo, mas ela aparece nas consultorias que forneço”, afirma Nakao. “Priorizo a criatividade”, completa. O estilista prepara-se para fechar parcerias internacionais em breve.

Depois de ter seu talento reconhecido em vários eventos de moda, Nakao trabalhou como gerente de estilo da Zoomp até ser convidado a participar da São Paulo Fashion Week, onde desfila sua marca própria. Pelo seu perfil vanguardista, foi convidado para cuidar da loja do Hotel Lycra, onde ficou até o final do ano passado.

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