(Arquivo
Jornal NippoBrasil)
A
origem do saquê é cercada de lendas. A mais famosa
data do século 8 e tem como protagonista um pescador fracassado
da ilha de Okinawa. Com a falta de sorte, ou empenho, no mar,
passava o dia na praia observando a natureza. Notou que um pardal
sumia e voltava para o ninho levando grãos de arroz no
bico. Curioso, decidiu subir as pedras e notou que no local em
que o pássaro depositava o grão havia um líquido
pastoso. Resolveu experimentar. Para sua surpresa, o líquido
era saboroso e levemente alcoólico. A explicação
científica para o fenômeno é que, em contato
com a saliva do pardal, mais as condições de ambiente
e temperatura do ninho, o arroz fermentava. O vagabundo pescador
viu na bebida uma possibilidade econômica e passou a vender
o líquido. Com o tempo, tornou-se um dos comerciantes mais
ricos da ilha. A versão oficial não tem o mesmo
charme. Por volta do ano 700, monges do templo Aska, em Nara,
perceberam que quando o arroz azedava formava-se um líquido
de sabor agradável. Passou a ser consumido, primeiro, no
santuário e foi se espalhando por todo o país. Hoje,
o saquê é a bebida mais popular do Japão e
consumida nos quatro cantos do mundo, além de ser também
utilizada na culinária.
A
entrada de saquê no País
No
Brasil o saquê, ou vinho de arroz, chegou na bagagem dos
primeiros imigrantes japoneses, no navio Kasato Maru, em 1908.
Importar a bebida, no entanto, era muito caro e os pioneiros não
se acostumavam com a cachaça brasileira. Em 1935, Hisaya
Iwasaki abriu a primeira fábrica de saquê no País,
a Tozan, que produz até hoje o saquê Kirin. Em 1975,
a Sakura, conhecida marca de molho de soja e outros alimentos
orientais, entrou no mercado. Decidimos completar a linha
com o saquê. Pretendemos conquistar fatia considerável
do mercado, diz Miriam Hatanaka, gerente de marketing da
Sakura. O nosso objetivo é produzir um saquê
brasileiro, adaptado às condições locais,
como a disponibilidade de matéria-prima (arroz) e água,
com pesquisas constantes na adaptação ao paladar
brasileiro, completa.
A procura
por saquês importados também tem aumentado. Segundo
Kimie Kunieda, do departamento comercial da importadora Tradbras,
só neste ano a empresa trouxe 12 mil garrafas da marca
Hakushika, cerca de 30% mais que no mesmo período do ano
passado. Os pedidos têm aumentado. Além dos
restaurantes e das lojas de produtos japoneses, as grandes redes
de supermercado estão comprando, conta.
Os
restaurantes também têm inovado para atender o público
brasileiro. O saquê tradicional é servido em temperatura
ambiente. Mas no Brasil a procura é maior pela bebida gelada
com sal na borda do massu (copo quadrado de madeira) ou pela caipirinha
de saquê feita com kiwi (receita na página ao lado).
A forma como servimos pode causar estranheza aos japoneses
tradicionais, mas faz muito sucesso, diz o gerente do Mitsuyoshi,
Fausto Narimatsu.
Os
brasileiros adoram a bebida
O jornalista
Kaká Marques é um desses fãs incondicionais
do saquê. Junto com a namorada, Paola Novaes, vai pelo menos
uma vez por semana em algum restaurante japonês. Sempre
busco coisas novas, gosto de experimentar. Com o tempo você
vai apurando o seu paladar. Hoje eu conheço os diferentes
tipos de saquê, afirma. Mas antes de se tornar um
expert no assunto, Kaká passou por maus bocados. Foi
na primeira vez que comprei saquê no mercado. Em casa vim
a saber que era um saquê para tempero, conta.
O ritual
e a tradição são outros chamarizes. Alberto
Bartels é um viciado em cultura japonesa desde a infância
na cidade de Londrina. O primeiro contato com o saquê foi
por meio do pai de uma antiga namorada nikkei. O saquê
é uma bebida que permeia o destilado e o fermentado. Tem
sabor e suavidade. Além do que exige o ritual, o ambiente
e o massu, diz. Alberto procura passar a sua paixão
para os outros. Na última vez em que esteve em um restaurante,
levou o amigo Carlos Sicone, que está em sua terceira incursão
pelo universo do vinho de arroz. Pelo entusiasmo parece que o
manjar dos deuses orientais conquistou-o definitivamente. É
uma bebida leve e saborosa. Tomar saquê acompanhando a culinária
japonesa é uma coisa fantástica, completa.
|

Curiosidades
Estado
de coma
A província com o maior número de produtoras
de saquê é Hyogo, com 103 fabricantes. A região
disputa com Niigata (102 produtoras) a liderança no mercado
da bebida.
Bons
de gargalo
Um japonês ingere, em média, 6,6 litros de álcool
por ano. O país está em 28º no ranking dos
beberrões mundiais. O Brasil é 39º (4,2 litros).
O campeão é Luxemburgo (12,2 litros).
O
mais caro
O saquê Ginjo, da produtora Kamozuru, com garrafa feita
pelo artista plástico Hajime Kato, atingiu o preço
de 10 milhões de ienes (R$ 246 mil). Somente 15 unidades
foram produzidas.
Mata-leão
O saquê mais forte é o Donan, da marca Maifuna,
com incríveis 60% de teor alcoólico. A bebida é
típica da província de Okinawa.
Versão
brasileira
Caipirinha
de Saquê
3 doses de saquê
1 kiwi fatiado
1 e ½ colher (sobremesa) de açúcar
2 pedras de gelo
Preparo:
em um copo baixo, corte o kiwi em fatias, acrescente o açúcar
e com um socador amasse bem a fruta
Coloque
o gelo, o saquê e mexa com um palito. Pronto, sirva-se!
|