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Arquivo Edição 259 - 26 maio a 1 de junho de 2004 - Especial - Portal NippoBrasil
 

Domingos Tsuji – Cigarro e álcool
são os vilões do câncer de laringe

Doença atinge cerca de 15 mil brasileiros por ano, segundo Domingos Tsuji, presidente da Associação Brasileira de Laringologia e Voz (ABLV)


EM BAIXA – “O problema de saúde no Brasil é crônico e ninguém nega isso”, afirma Tsuji

 


• Nome: Domingos Hiroshi Tsuji
• Data de nascimento: 9 de outubro de 1960
• Local: Marialva (PR)

Bate-pronto
• Medicina:
dedicação
• Saúde: atitudes saudáveis individuais
• Voz: comunicação
• Sonho: ser infalível com o paciente

Arquivo Jornal Nippo-Brasil

Conscientizar a população sobre os problemas vocais e preveni-la contra doenças. Esses são dois dos objetivos do otorrinolaringologista Domingos Hiroshi Tsuji, presidente da Associação Brasileira de Laringologia e Voz (ABLV).

O desafio é grande. Estima-se que, só no Brasil, o câncer de laringe – uma das principais doenças do trato respiratório – afeta aproximadamente 15 mil pessoas por ano. Destes, 50% resultam em morte.

Como se não bastasse, o Brasil ainda é o segundo no ranking dos países com maior incidência de câncer de laringe, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para tentar reverter esse quadro, desde 1999, a ABLV realiza uma campanha para detectar as doenças provocadas pela má utilização da voz. No ano passado, cerca de 45 mil brasileiros foram avaliados, sendo que 25% deles apresentaram problemas de laringe. Há dois anos, uma conquista: a entidade conseguiu instituir, não só no País, mas também internacionalmente, o Dia Mundial da Voz, comemorado em 16 de abril, com o intuito de esclarecer a importância e os principais cuidados para evitar problemas.

“Estamos no sexto ano da campanha. Com certeza, a consciência hoje é maior que em 99, mas não está em índices satisfatórios”, garante Tsuji.

A laringe é um órgão que está em constante movimento e separa a via respiratória da via digestiva. Exatamente por esse motivo, sofre “agressões” das duas vias, o que facilita o surgimento de doenças e inflamações.

Os “profissionais da voz” – como cantores, professores e feirantes – são os mais atingidos pelas doenças que acometem a laringe. De acordo com a ABLV, mais de 70% da população ativa tem na voz seu instrumento de trabalho, mesmo que ela não seja o foco de suas atividades. Os professores são alguns dos mais prejudicados. “Cerca de 70% deles já apresentaram problemas de voz. É um índice bastante alto. Desses, uma pequena porcentagem, cerca de 2%, está afastada do trabalho”, revela o otorrinolaringologista.

Domingos Tsuji tem um currículo de peso. Formou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em 1985. Fez residência médica em Otorrinolaringologia no Hospital das Clínicas de São Paulo, onde, desde 93, é contratado como médico-assistente. Nos anos de 88 e 89, fez estágio de especialização em Laringologia na Universidade de Keio, em Tóquio, no Japão, como bolsista da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica).

Entre 91 e 93, trabalhou no Hospital Universitário da USP (HCFMUSP) e no Hospital Nipo-Brasileiro. Em 97, fez doutorado em Otorrinolaringologia e, cinco anos depois, fez Livre Docência, ambas pela USP. Em 96, foi premiado pelo melhor trabalho na área de Laringologia no 33º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia, além de receber menções honrosas nos anos de 2001 e 2002.

Segundo ele, a paixão pela área surgiu por acaso. “Graças ao estágio que fiz no Japão, pude estudar a aplicação da endoscopia na área da laringologia. A partir daí, vi a necessidade que o Brasil tem de equipamentos e a falta de conhecimento básico. Realmente me apaixonei pela profissão, estudei muito no Japão e fui aceito no Hospital das Clínicas, onde pude aplicar toda a tecnologia e os novos conhecimentos que adquiri por lá”, conta.

No ano passado, Tsuji assumiu a presidência da ABLV, e deverá deixar o cargo em outubro de 2005. “A associação tem o objetivo primordial de congregar os otorrinolaringologistas do Brasil e desenvolver para essa sociedade atividades que sirvam, principalmente, para a formação acadêmica e científica desses profissionais”, explica. Atualmente, a ABLV tem cerca de 3 mil médicos associados.

Em entrevista ao NB, Tsuji revela os fatores que influenciam no aparecimento das doenças da voz e os cuidados que as pessoas devem ter para ter uma saúde vocal melhor.


NB – Quais os motivos que levam o Brasil a apresentar altos índices de câncer de laringe, sendo o 2º no ranking mundial, de acordo com a OMS?
DT –
O índice de morte decorrente do câncer de laringe é muito grande, porque os pacientes que procuram o médico já vêm em estágio avançado da doença. E isso acontece justamente porque eles não têm informação. Para se ter uma idéia, esse mesmo câncer, que no Brasil mata cerca de 50% das pessoas, teria quase 100% de chances de cura se fosse detectado no começo. Entre as doenças da cabeça e do pescoço, essa é a que tem o maior índice de curabilidade.

NB – Qual o perfil das pessoas que contraem a doença?
DT –
Algumas pessoas têm uma predisposição para ter a doença. E os principais vilões para quem tem essa predisposição são o álcool e o fumo. O cigarro tem dezenas, se não centenas, de substâncias que são capazes de estimular a gênese do câncer. Ele aumenta de 10 a 14 vezes a possibiliade de ela ter um câncer. Agora, se acrescentar a isso o álcool, essa possibilidade dobra. Há pessoas que não fumam e desenvolvem a doença. Isso significa que elas também têm uma predisposição a ter. O refluxo do ácido do estômago também contribui. Ele provoca uma irritação química, que gera uma inflação crônica que, por sua vez, significa a reciclagem de células. Quando se formam muitas células novas, as chances de surgir uma célula cancerígena aumenta. Graças a Deus, na área de laringologia e voz, a maioria dos problemas que surgem não são câncer, são doenças inflamatórias que acontecem e que são absolutamente benignas. Muitos dos problemas vocais são decorrentes de um uso inadequado da voz. Se você aprender a usar a voz de forma a ter o desempenho que você quer, mas sem forçar a voz, você terá uma saúde vocal melhor. E para você saber se está ou não usando direito a voz, você precisa ter uma orientação.

NB – E quais os tratamentos indicados para as pessoas que têm câncer de laringe?
DT –
A maioria das condições dos estágios de câncer de laringe, eu diria, quase todos, nem merecem tratamento. Mas podemos dividi-lo em três linhas básicas. Uma é o tratamento cirúrgico. A outra é a radioterapia. Dependendo do estágio em que a doença está, ainda é possível fazer a junção das duas. De uns cinco a dez anos para cá, a quimioterapia também tem sido aplicada com sucesso juntamente com a radioterapia. Mas cada situação é uma situação.

NB – O que as pessoas devem fazer para ter uma saúde vocal melhor?
DT –
Se é um profissional que usa a voz para trablhar, o que chamamos de “voz profissional”, todos, na minha opinião, mereceriam uma avaliação e uma orientação fonoaudiológica. Já uma pessoa comum pode, ela mesma, tomar alguns cuidados, como não fumar, não tomar bebidas alcoólicas em excesso, não comer comidas gordurosas ou ácidas, que prejudicam o estômago, tomar bastante água, pois o líquido lubrifica o organismo, e as cordas vocais, nessas condições, trabalham melhor. Além disso, ter o cuidado com a voz: não gritar, não falar em excesso por um período prolongado, procurar não forçar a voz durante uma crise alérgica ou com resfriado, pois as cordas já estão inflamadas. Tudo o que gera esforço na voz não é bom.

NB – Quais os desafios que o Brasil tem pela frente, no que diz respeito à prevenção das doenças vocais?
DT –
A melhor forma de diminuir um problema populacional é a divulgação. Campanhas como as nossas são muito interessantes, mas, se tivessem o apoio governamental, e não só estadual e municipal, acho que aumentaria muito a conscientização da população. Na verdade, o problema de saúde no Brasil é crônico e ninguém nega isso. É preciso, também, melhorar os postos de atendimento médico. Existem profissionais excelentes no Brasil e ninguém precisa ir pro exterior para ter um atendimento médico adequado. Temos hospitais que são de ponta, são os melhores do mundo. Mas é uma minoria que tem acesso.

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