Portal NippoBrasil - OnLine - 19 anos
Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024 - 8h36
Arquivo Edição 223 - 3 a 9 de setembro de 2003 - Especial - Portal NippoBrasil

Butô

Dança contemporânea japonesa, que mistura elementos do teatro e da mímica, é impossível de ser definida, nas palavras de um de seus próprios criadores, Kazuo Ohno


A dança é marcada por corpos pintados de branco, cabeças raspadas e posturas distorcidas

O butô nasceu de forma marginal no Japão, no período do pós-guerra, com Kazuo Ohno e Tatsumi Hijikata. Nessa época o país sofria uma invasão cultural por parte do ocidente e essa nova forma de expressão, chamada a princípio de danças das trevas- Ankoku butô - retomou antigas tradições japonesas. Segundo Kazuo Ono, o butô é uma das formas mais arrojadas de dança que expressa ao mesmo tempo tantas idéias, o que faz com que seja impossível defini-la: “Ela somente choca e surpreende”.

Sobre os mestres, Akira Kasai, que trabalhou com os dois, afirma: “O Kazuo Ohno liga sua própria experiência à dança, como se fosse uma autobiografia e usa bastante a improvisação. Já o Tatsumi Hijikata, mais do que com a coreografia ele se preocupa com a forma intrínseca do ser. Se existe espaço e tempo na dança, o mestre Ohno constrói uma imagem dentro do fluxo temporal e o Hijikata trabalha com a parte espacial”.

Yoshito Ohno, filho de Kazuo, que esteve no espetáculo Kinjiki de Hijikata - primeira apresentação de butô em 1959 - acrescenta: “A arte deve estar ligada à vida. Eu penso naquilo que é importante para a vida assim como para a morte, na dignidade da morte. Como dançarino de butô acredito que devemos conversar sobre a importância da vida e sobre o que o homem é”.

Para Mitsuru Sasaki, radicado na Alemanha, a dança deve ser pensada como um todo. “Existe um caminho livre entre cotidiano e não cotidiano e deve existir algo que extrapole o cotidiano, a fantasia, como na minha apresentação de Rubicão”. O espetáculo é uma dança-documentário sobre os japoneses comuns que vivem entre a comédia e a tragédia, no mergulho da economia da bolha rumo a recessão.

Renovaçôes e transformações

Mas o butô, que é marcado por corpos pintados de branco, movimentos lentos, postura contorcida e cabeças raspadas, passa por transformações e renovações que puderam ser apreciadas pelo público paulistano no evento “Vestígios do Butô” (veja mais apresentações no quadro da página ao lado).

Yukio Waguri, considerado o último discípulo de Hijikata, fala sobre as mudanças: “A nossa geração já começou com o butô, não havia a desconstrução. Nos anos 60 os artistas se rebelaram contra a dança moderna, já nos anos 70, mais do que destruir era importante construir”.

Yoshito Ohno também afirma que seu trabalho passa por mudanças: “Agora estou com a cabeça raspada e para as apresentações no Brasil vou pintar meu corpo de branco, mas estou pensando em mudar de cor. Talvez pinte de uma cor só, como uma estátua budista de madeira”.

De acordo com ele, o branco simboliza a morte, porque no Japão quando a pessoa morre é vestida de branco. “A idéia é se colocar ao lado da morte e ver o mundo. Esse foi o caminho traçado pelo Hijikata. O branco é profundo e importante, mas parece que só a forma fica em evidência, mas, na verdade, é a essência que é importante”, conclui Yoshito.


A Cia Tamanduá vai participar da Bienal de Quioto

No Brasil
Takao Kusuno, falecido em 2001, que foi o responsável pela introdução do butô no Brasil não gostava de rótulos, dizia que fazia dança-teatro. Aqui procurou trabalhar com nossa realidade. “Ele não veio trazer a filosofia do butô, mas veio observar as pessoas daqui.”, conta Ismael Ivo que se considera filho artístico de Kusuno.

Na época, ele conta que usava o cabelo no estilo black power e Kusuno sugeriu que ele cortasse: “Não foi um pedido, só uma sugestão. Mas não era uma preocupação estética, através desse processo descobri um novo Ismael. Foi como nos rituais de passagem. Foi um batismo que me fez descobrir um outro corpo, um outro movimento”, conta.

Ivo, que é radicado na Alemanha há mais de 20 anos, acredita no butô como universalização da linguagem do corpo: “O Takao Kusuno nunca disse que eu deveria dançar butô e sim que eu tinha que entender meu corpo e meu movimento que vinha de uma força interior”.

Para a mostra Vestígios do Butô, Ivo remontou o espetáculo As galinhas, do qual participou há 23 anos. “Foi o meu batismo artístico. Kusuno fala da inveja que uma galinha sente das outras aves por não poder voar, uma metáfora dos homens reprimidos”, explica o dançarino.

 

Direto para o Japão

Em outubro, a Cia. Tamanduá, fundada por Takao Kusuno, em 1995, vai participar como convidada da Bienal de Quioto. “Apesar de sermos um grupo grande, doze pessoas, estamos tranqüilos no que diz respeito à apresentação no Japão”, conta Emilie Sugai, uma das integrantes do grupo.

Um pouquinho do Brasil será mostrado no terra do butô: “O Takao ensinou cada um dos dançarinos a olhar para seu próprio universo. Nos incentivou a procurar nossas origens, a olhar para o Brasil, para sua realidade. Vamos mostrar isso lá”, conta Emilie

Eles vão apresentar os dois últimos espetáculos dirigidos por Kusuno: O Olho do Tamanduá e Quimera - O Anjo Vai Voando. O primeiro fala sobre a população indígena e o Quimera, segundo Emilie, é um questionamento sobre a vida, trata da condição do homem numa situação limite, da fragilidade do homem em face à vida.

 
 Busca
 Especial
Especial - Nippo-Brasil - 02/03/2019
• A partir de 1º de maio de 2019 começa a era REIWA no Japão
Especial - Nippo-Brasil - 14/05/2018
• Escola OEN, fiel à filosofia japonesa desde a sua origem
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 311
• Gairaigo: as palavras estrangeiras na língua japonesa
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 304
• Provérbios do Japão:
sabedoria através dos tempos
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 302
• Hanami, uma bela tradição japonesa
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 301
• Simbologia japonesa: os animais
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 300
• Simbologia japonesa:
as flores e as árvores
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 281
• Você sabe o que significa seu sobrenome?
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 279
• Oriente-se para fazer ginástica!
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 271
• Bonsai, a natureza em miniatura
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 267
• Cassio Taniguchi: “ser nikkei dá uma credibilidade social muito grande na política”
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 265
• Imigrantes japoneses imigração
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 264
• Ikebana, preciosa herança da imigração
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 263
• A derrubada de um paradigma
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 262
• Estilistas nikkeis invadem a moda brasileira
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 260
• Domingos Tsuji – Cigarro e álcool são os vilões do câncer de laringe
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 259
• Mulheres conquistam as artes marciais
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 258
• Onde estão nossos museus da imigração?
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 257
• Kasumi Yamashita: “é importante recordar as histórias dos imigrantes”
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 256
• Mudança especial após os 40 anos
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 255
• A invasão nikkei nas artes
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 254
• O sedentarismo é o inimigo número 1 da saúde pública
Especial - Nippo-Brasil - Arquivo Edição 253
• Desvendando os
seres da mitologia japonesa
Especial - Nippo-Brasil 252
• Depressão: é possível reverter o quadro
Especial - Nippo-Brasil 251
• Marcos Hiroshi Kawahara: O ilustrador das ‘bandejas’ do Mc Donald´s
Especial - Nippo-Brasil 247
• Helena Deyama
Especial - Nippo-Brasil 243
• Sonhar é preciso. Não importa qual seja o sonho...
Especial - Nippo-Brasil 242
• Izumi Yamagata: Uma vida dedicada aos deficientes
Especial - Nippo-Brasil 240
• Samurais modernos
Especial - Nippo-Brasil 236
• Bruxas modernas
Especial - Nippo-Brasil 234
• Orquídeas: Paixão dos japoneses
Especial - Nippo-Brasil 233
• Tomie Ohtake
Especial - Nippo-Brasil 230
• Naomi Munakata: Uma regente em “estado de alfa”
Especial - Nippo-Brasil 229
• Relíquias com histórias pra contar
Especial - Nippo-Brasil 227
• Brinquedos tradicionais japoneses
Especial - Nippo-Brasil 226
• Hashi: o talher oriental
Especial - Nippo-Brasil 225
• Michie Akama
Especial - Nippo-Brasil 223
• Butô
Especial - Nippo-Brasil 222
• As formas e cores de Ruy Ohtake
Especial - Nippo-Brasil 215
• Kataná: a preciosa lâmina samurai
Especial - Nippo-Brasil 213
• Noborigama
Especial - Nippo-Brasil 212
• Terapias Alternativas
Especial - Nippo-Brasil 211
• Sakura
Especial - Nippo-Brasil 208
• Viagem pela fé
Especial - Nippo-Brasil 199
• Longe da poluição e do estresse da cidade grande
Especial - Nippo-Brasil 198
• Idades marcantes da cultura japonesa
Especial - Nippo-Brasil 194
• Por dentro das datas comemorativas no Japão
Especial - Nippo-Brasil 192
• Compradores compulsivos
Especial - Nippo-Brasil 187
• Rituais de Ano Novo Japonês
Especial - Nippo-Brasil 186
• Bonenkai - Fechar o ano com chave de ouro
Especial - Nippo-Brasil 180
• Danças Japonesas
Especial - Nippo-Brasil 177
• Viciados em Jogos
Especial - Nippo-Brasil 171
• Jardim Japonês: Um cantinho para meditar
Especial - Nippo-Brasil 170
• Alimentos: eles curam?
Especial - Nippo-Brasil 169
• Wadaiko: o estilo japonês de tocar taiko
Especial - Nippo-Brasil 168
• Saque: A bebida milenar japonesa
Especial - Nippo-Brasil 167
• Que bicho é seu pai no Horóscopo Oriental?
Especial - Nippo-Brasil 163
• Watsu uma terapia de lavar a alma
Especial - Nippo-Brasil 161
• Kumon, o método japonês de ensino individualizado: lições para a vida toda
Especial - Nippo-Brasil 155
• Banho de Ofurô: cores e sabores de um ritual milenar
Especial - Nippo-Brasil 154
• Agrade à sua mãe
Especial - Nippo-Brasil 150
• Jogos Japoneses: Shogui e Gô
Especial - Nippo-Brasil
• + 10 Provérbios Japoneses
Especial - Nippo-Brasil
• Kaburimono (literalmente, aquilo que se põe na cabeça)
Especial - Nippo-Brasil
• Conheça alguns amuletos e preces orientais
Especial - Nippo-Brasil
• Shichifukujin, as sete divindades
Especial - Nippo-Brasil
• Daruma: sinônimo de sucesso
Especial - Nippo-Brasil
• A história da Hello Kitty
Especial - Nippo-Brasil
• A história e a tradição do Maneki Nekô no Japão


A empresa responsável pela publicação da mídia eletrônica www.nippo.com.br não é detentora de nenhuma agência de turismo e/ou de contratação de decasségui, escolas de línguas/informática, fábricas ou produtos diversos com nomes similares e/ou de outros segmentos.

O conteúdo dos anúncios é de responsabilidade exclusiva do anunciante. Antes de fechar qualquer negócio ou compra, verifique antes a sua idoneidade. Veja algumas dicas aqui.

© Copyright 1992 - 2022 - NippoBrasil - Todos os direitos reservados