Por Paulo Guilherme
Wadt*
Têm
sido comum discursos a favor de uma agricultura ecológica, com
a eliminação do uso de fertilizantes industriais, como se
estes produtos industrializados fossem um veneno químico que, se
aplicados no solo, contribuiriam para a degradação ambiental.
Essa visão ignora que as plantas não se alimentam de produtos
orgânicos, mas de sais minerais (nutrientes adicionados sob a forma
de fertilizantes industriais ou liberados no solo a partir de fontes orgânicas
ou minerais), água e energia luminosa.
A degradação
ambiental ocorre de várias formas: poluição, desmatamento,
perda da biodiversidade. Na Amazônia, tem ocorrido em um ritmo maior
que o do crescimento da própria economia regional. Essa degradação
resulta da conversão de áreas florestais em agricultura
de subsistência, seguida pelo abandono da área cultivada
ou sua conversão em sistemas de pastagens de baixa capacidade de
suporte.
Na Amazônia
brasileira, por muito tempo, atribuiu-se esse processo à baixa
fertilidade de seus solos (Neossolos Quartzarênicos, Plintossolos
Háplicos, entre outros); porém, mesmo em regiões
da Amazônia com solos férteis, como os Luvissolos do estado
do Acre, este processo repete-se de forma indiscriminada. Por exemplo,
estima-se que em poucos anos a extensão de áreas degradadas
somente no Acre crescerá dos atuais 700 mil para mais de 1 milhão
de hectares, sendo grande parte dela em solos de alta fertilidade.
Parte do problema
está no nível tecnológico da agricultura familiar,
que não permite a utilização de fertilizantes minerais,
tornando-a dependente da derrubada da floresta nativa para obter produtividades
razoáveis nos primeiros anos. Entretanto, esse baixo nível
tecnológico, representado pela inadequada densidade de plantas,
a não utilização de práticas conservacionistas
e a ausência de fertilizantes resultam em pobre cobertura do solo
pela vegetação e sua grande exposição a agentes
erosivos.
Por outro
lado, analisando os números da agricultura brasileira nos últimos
13 anos (1990 a 2003) percebe-se que, enquanto a produção
de grãos aumentou 110%, a área plantada no mesmo período
subiu apenas 20%. Já sabemos que isso se explica pela maior produtividade
das lavouras.
A informação
importante é que, no mesmo período, o consumo de fertilizantes
aumentou 170% (Anda, 2004). Se não fosse por isso, o aumento na
extensão das áreas degradadas seria provavelmente o maior
de todos esses números.
Resta a pergunta:
a quem interessa que se perpetue essa tradicional agricultura migratória
na Amazônia, baseada no modelo de derrubada e queima, que a transforma
numa das grandes responsáveis pelo desmatamento e pelo elevado
nível de pecuarização, observado nos projetos de
assentamento?
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