Shunji
Nishimura chegou ao Brasil na década de 1930 e deu ao mundo
a primeira colheitadeira de café
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A
máquina que revolucionou a colheita de
café surgiu no final dos anos 70
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(Fotos: Cedidas)
Na década
de 1930, o imigrante Shunji Nishimura era apenas um entre os milhares
de japoneses a trabalhar na colheita de café no interior de São
Paulo. Baixo e frágil fisicamente, porém, ele não
conseguia acompanhar o ritmo pesado de seus companheiros de trabalho.
Para compensar a pouca estatura, ele resolveu improvisar uma ferramenta
para facilitar seu trabalho. Nishimura não sabia, mas acabava de
dar início a uma trajetória que mudaria a agricultura mundial.
O japonês, que faleceu aos 99 anos, no dia 23 de abril, é
o fundador da Jacto, uma empresa que fatura R$ 1 bilhão anuais,
e o inventor da primeira colheitadeira de café do mundo.
Diria
que o legado do sr. Nishimura foi de crucial importância para o
crescimento e sobrevivência do setor industrial na cafeicultura.
As máquinas que viabilizaram a cafeicultura para áreas extensivas
mecanizadas contribuíram para que o Brasil permanecesse no ranking
como o maior produtor de café do mundo, avalia Washington
Rodrigues, presidente da Ipanema Coffees, uma das maiores produtoras de
cafés especiais do planeta e que foi parceira no projeto de criação
da colheitadeira.
O executivo
lembra ainda que, sem a tecnologia da Jacto, o custo da produção
do café seria impraticável sem o repasse de preços
ao consumidor. Não é apenas uma questão de
aumentar a produtividade, mas de reduzir do custo em função
do alto rendimento de colheita. Enquanto uma pessoa colhe 250 litros,
uma máquina colhe em média 4.000 litros de café em
uma hora (32 mil litros em oito horas), equivalente a 130 pessoas por
dia. Com elas (as colheitadeiras), podemos trabalhar mais, antecipar o
ciclo de colheita, trabalhar três turnos, alterações
que seriam impossíveis para a solução de colheita
manual, afirma.
Dificuldades
Mas o caminho
para chegar à fundação de uma empresa bilionária
foi muito longe de ser fácil. Após abandonar a lavoura de
café na década de 1930, Nishimura passou anos de emprego
e emprego trabalhou como garçom no Rio de Janeiro e mecânico
em São Paulo até que resolveu ir à estação
da Luz e tomar um trem até o destino final. Foi parar em Pompeia,
a quase 500 quilômetros da capital.
Lá,
resolveu usar seus conhecimentos como técnico mecânico e
colocou uma placa na porta de casa: Conserta-se tudo. De consertos
em consertos, Nishimura acabou desenvolvendo em sua oficina projetos próprios
e novamente a agricultura apareceu em sua vida. Em 1948, o japonês
começou a produzir polvilhadeiras que pudessem ser colocadas nas
costas do operador. A oficina transformou-se em fábrica e surgiu
a indústria Máquinas Agrícolas Jacto Ltda., oficializada
em novembro de 1949. O nome foi inspirado na fumaça deixada no
ar pelos aviões a jato.
As polvilhadeiras
evoluíram para modelos costais mais leves e surgiram os primeiros
modelos montados em tratores, destinados às grandes culturas de
algodão e café. A evolução foi acompanhando
as mudanças nas características dos inseticidas e defensivos
agrícolas e as transformações da agricultura brasileira.
Em 1966, a Jacto começou a fabricar pulverizadores manuais com
reservatório de plástico.
Mas não
era suficiente. Nishimura não deixava de pensar em um meio de otimizar
a colheita, em especial a do café, cultura na qual ele teve seu
primeiro emprego no Brasil. Em 1979, após seis anos de pesquisa
e desenvolvimento, a Jacto apresentou a primeira colheitadeira de café
do planeta. O sucesso foi imediato. Hoje, a empresa exporta para mais
de 90 países e é responsável pela geração
de cerca de 3.000 empregos.
Educação
Ainda
hoje, a colheitadeira da Jacto é referência no mercado
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Com o sucesso
da empresa, Nishimura passou a adotar medidas estratégicas em sua
estrutura. Desmembrou setores da companhia e formou algumas empresas-satélites.
Por exemplo, o departamento de fabricação de recipientes
plásticos virou a Unipac, que atende à Jacto e a terceiros.
O setor de pequenos pulverizadores da empresa-mãe transformou-se
na Brudden. Essas transformações permitiram que o japonês
pudesse se dedicar a uma de suas paixões: o ensino de técnicas
agrícolas.
Para isso,
ele criou a Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia (FNST)
e depois vieram o Colégio e o Colégio Técnico Shunji
Nishimura, a Escola Profissionalizante Chieko Nishimura e o Museu da Jacto.
Nas escolas profissionalizantes da FNST, os alunos estudam as técnicas
agrícolas na prática. Com apenas uma folga por semana, os
aprendizes trabalham duro e aprendem desde de como tirar leite até
artes marciais. Após três anos, são formados técnicos
que sabem fazer doces, conservas, adubos, hortas, contabilidade, lavoura,
análise de solo, criação animal e manutenção
de máquinas. Tal qual era o senhor Nishimura.
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