(Por Francisco
Graziano Neto*)
Fábio
Jorge, pequeno agricultor, anda famoso na região de Valença
(RJ). Ele tira 95 litros de leite por dia, ordenhando cinco vacas. Mais
ainda: realiza o prodígio da produção com apenas
0,5 hectare de terra, tamanho de um campo de futebol. Um fenômeno.
Com apoio de
José Rogério, veterinário, o ousado produtor revolucionou
o seu sítio. Há um ano, ele participa de um projeto sobre
gerenciamento de propriedades, parceria entre Embrapa, Federação
da Agricultura e prefeitura.
O exemplo ajuda
na reflexão sobre como enfrentar a tremenda crise que se abate
sobre a economia, atingindo fortemente o setor agrícola. Desde
o ano passado, antes do plantio da atual safra, já se percebia
recuo do crédito rural, comprimindo as aquisições
de insumos. Com menor uso de tecnologia, a estimativa mais recente do
governo indica uma queda de 6,1% na safra de grãos.
A restrição
do financiamento encontrou os produtores apertados no caixa. Por essas
e outras, aumenta o endividamento agrícola.
A crise mundial
chega para encontrar fragilizada a agricultura nacional. Muitas incertezas
rondam o campo. Frigoríficos solicitam concordata, derrubando a
pecuária. Os preços internacionais estão fracos.
Aparecem calotes nas exportações. Ninguém arrisca
dizer como será o próximo plantio, com reflexos negativos
em 2010.
Nesse turbulento
cenário, pergunta-se: o que vai acontecer com o agricultor? Para
muitos, certamente, vai aumentar o desânimo, elevar o pessimismo.
Alguns, desgraçadamente, vão quebrar. Outros, entretanto,
se manterão altivos e otimistas. Passada a crise aguda, irão
progredir. Quem estará nessa?
Um roteiro
do progresso começa com cinco questões. Enfrentá-las
será fundamental para superar a crise, preparando-se para prosperar
no campo.
Primeiro, escaparão
da quebradeira aqueles que mantiverem atitude pró-ativa. Sabe-se
que, por pior que sejam os problemas, as adversidades sempre criam novas
oportunidades.
Segundo, vai
seguir em frente quem tiver a humildade de aprender. As crises carregam
boas lições. Com vacas gordas, a turma relaxa, gasta dinheiro
à toa, descuida do negócio. Mas, quando as vacas emagrecem,
sobrevive apenas quem tem competência.
Em terceiro,
esse apuro poderá ajudar a romper definitivamente com o individualismo,
traço negativo da mentalidade rural. A dureza da situação
impõe seguir a cartilha do associativismo e do cooperativismo.
Grande parte dos agricultores, aliás, já descobriu que,
sozinho, isolado, quebra a cara no mercado.
Em quarto lugar,
cada momento difícil que afeta a agricultura ressalta a importância
do profissionalismo. Acabou o tempo de ser amador, agricultor quebra-galho,
gigolô da terra. Investir em tecnologia e melhorar a gestão
da propriedade se torna obrigatório. A competição
produtiva exige produtividade e qualidade.
Finalmente,
vai prosperar no campo, passada a vicissitude da conjuntura, quem adotar
práticas conservacionistas e trabalhar na agenda da sustentabilidade.
Os agricultores de amanhã serão amigos, não adversários,
do meio ambiente. Cuidarão de proteger as florestas, a água,
o solo, a biodiversidade, a paisagem da natureza. Novas tecnologias, boas
práticas agrícolas misturada com gestão ambiental.
|