Junji Abe*
Os primeiros
imigrantes japoneses desembarcaram em Santos em 1908. Uma década
depois, chegariam em Mogi das Cruzes. Trataram de cultivar pequenas porções,
otimizando o uso do solo com até cinco variedades de hortaliças
para colher o ano inteiro.
Trabalhavam
como arrendatários e, com a receita das lavouras, adquiriam as
terras. Começava, assim, uma revolução na agricultura
mogiana que, até então, se limitava ao modelo europeu da
monocultura em grandes áreas de cultivo.
Não
fosse a insensibilidade do governo, o cultivo de hortaliças em
pequenas áreas, dirigido ao mercado interno, poderia ter sido o
projeto-piloto nacional de reforma agrária pacífica, auto-sustentável
e eficiente no combate à miséria. Entretanto, as autoridades
só tinham olhos para as commodities café, algodão,
soja e outras que exploravam o trabalho de bóias-frias. O paradoxo
é que, para esses produtos de exportação, sempre
houve crédito acessível, garantia de preços mínimos,
seguro contra perdas e outros benefícios.
Já os
agricultores, como os de Mogi, abasteciam os lares brasileiros sem amparo
de qualquer política agrícola. Enfrentavam condições
climáticas adversas, ataques de pragas e a própria característica
dos produtos perecíveis e sazonais, que têm preços
regulados pela lei da oferta e procura.
Entre os anos
30 e 80, a atividade agrícola local concentrava-se no cultivo de
hortaliças, fruticultura e na avicultura. Esta última, porém,
sucumbiu ao alto custo do milho, principal insumo para as granjas que
tiveram de se aproximar dos milharais no interior. Já no início
da década de 80, viria a introdução da correção
monetária nos financiamentos e o naufrágio do Plano Cruzado,
responsáveis pela exportação de mão-de-obra
(dekasseguis). Às vésperas da década de 90, mais
de 8 mil pessoas deixaram as plantações para trabalhar no
Japão.
A redução
da área plantada em função de barragens, do crescimento
urbano desordenado e dos revezes econômicos não calaram a
voz agrícola de Mogi. Ao contrário, evidenciaram o dinamismo
e a extraordinária capacidade de adaptação dos nossos
agricultores. Vivi essas transformações como produtor.
Como se vê,
os produtores resistiram às dificuldades com força de vontade,
talento, ousadia e o mérito do associativismo. Destaca-se a atuação
do Sindicato Rural, que se empenha em profissionalizar o agricultor, fortalecer
as cadeias produtivas, valorizar o agronegócio e otimizar os canais
de comercialização.
A prefeitura
ampliou as ações conjuntas com o Sindicato Rural, universidades,
Sebrae e entidades representativas da indústria e comércio,
que culminaram com a implantação da Incubadora Tecnológica
e cursos de capacitação, programas de qualidade, como o
selo AgroAlt, e parcerias visando a agregar valor aos produtos.
Somado à
dedicação e ao esforço de cada um dos produtores,
esse trabalho justifica a notoriedade da agricultura mogiana no cenário
nacional. Mogi é a maior produtora de orquídeas, cogumelos,
nêsperas e caquis. Também é o único município
brasileiro a realizar, anualmente, três grandes eventos agrícolas
Akimatsuri, no bairro da Porteira Preta; Festa do Caqui e das Flores,
no Itapeti; e Furusato, no Cocuera , com média de público
entre 30 mil e 50 mil pessoas. São fatos que honram a memória
dos pioneiros na atividade agrícola e revigoram o fôlego
dos bravos sobreviventes de hoje.
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