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Os imigrantes japoneses no Alto Tietê

Márcio Nakano*

A região do Alto Tietê, com ênfase a Mogi das Cruzes, é pólo histórico dos imigrantes japoneses. Os municípios de Biritiba Mirim, Guararema, Salesópolis, Suzano, Santa Isabel e Arujá, também registram grande número de descendentes nipônicos. Na sua grande maioria, vieram do Japão entre as décadas de 20 e 40, quando se instalaram nos grandes cafezais da noroeste paulista e, dali, debandaram para outras regiões do Estado de São Paulo.

Mogi das Cruzes foi uma das paradas. E eterna. O Sindicato Rural de Mogi é o Sindicato Patronal dos Produtores Rurais da região. Na sua maioria, são proprietários de glebas de terras entre 1 e 5 alqueires, onde cultivam produtos de forma intensiva.

Contabilizamos mais de 5 mil propriedades, 1,2 mil associados filiados, e dedicamos nosso dia-a-dia a levar informações e suporte de toda natureza a esses produtores. Os filhos de japoneses já estão na quarta geração. O começo não foi fácil. Aliás, até hoje está difícil ser produtor de agricultura intensiva.

É ainda comum, em nossa região, descendentes de japoneses da faixa dos 80 anos dizerem que têm aversão de comer abóbora. Afinal, é o que comiam no dia-a-dia nos cafezais paulistas. O certo é que, com o tempo, adquiriram terras por esses lados e começaram a cultivá-las. Só sabiam fazer isso.

Na terra, era comum o pai e a mãe laborarem desde o sol raiar até a total escuridão do fim da tarde. O filho mais velho, ao completar seus 7 ou 8 anos, já estava na roça. Assim foi que este, em muitos casos, não teve acesso os estudos; era necessário ajudar os pais para que seus irmãos menores pudessem freqüentar a escola.

A gratidão desses filhos, que puderam estudar e hoje são profissionais liberais, comerciantes e empresários, reflete com intensidade na velhice de seus pais. Na falta dos pais, é o filho mais velho que toma o seu lugar de forma natural. Assim é que não se encontra demanda extra, ou judicial, na partilha dos bens dos pais, é extremamente comum, até hoje, o patrimônio dos pais reverterem a este filho mais velho. Trata-se de gratidão dos irmãos menores.

Atualmente, com a concepção de empresa rural, contratação de empregados, tecnologia aplicada à lavoura, investimentos e parcerias, os costumes vêm mudando. Em uma próxima oportunidade, falarei da situação caótica por que passam os produtores tradicionais. Muitos, inclusive, tornaram-se dekasseguis para pagar suas dívidas.


*É advogado e diretor jurídico do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes
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