(Por Ágide
Meneguette*)
O aumento mundial
nos preços das commodities agropecuárias é um fenômeno
que vai durar algum tempo. Não se trata apenas do incremento da
demanda por alimentos e rações por parte dos países
emergentes da Ásia, do uso do milho para fabricação
de etanol nos Estados Unidos, mas igualmente do aumento generalizado no
custo de produção sementes, fertilizantes, agroquímicos
e combustíveis e transporte em escala planetária.
Segundo especialistas
na área, os preços dos produtos agropecuários, que
vinham se mantendo baixos nas últimas décadas, apenas se
ajustaram e só retrocederão com uma nova revolução
no setor. Essa revolução já está ocorrendo
e, infelizmente, o Brasil coloca-se à sua margem e, desta forma,
deixa passar uma extraordinária oportunidade para se firmar como
o grande celeiro do mundo.
Estive recentemente
no Meio Oeste dos Estados Unidos, visitando indústrias de etanol,
federações de produtores rurais, o mais moderno laboratório
de pesquisas agrícolas do mundo, e conversei com especialistas
em comercialização de produtos agrícolas. O que vi
é a preparação para um novo grande salto na tecnologia
da produção agrícola para o qual nosso país
não está institucionalmente preparado.
Fábricas
que produzem 200 milhões de litros de etanol com apenas 32 trabalhadores
e ainda fornecem o resíduo do milho utilizado 100 mil toneladas
anuais para ração animal são o padrão
industrial norte-americano. É verdade que substancial parte do
milho produzido naquele país está sendo utilizado como matéria-prima
para fabricar combustível. Mas isso está sendo solucionado
pela pesquisa. O maior laboratório da Monsanto, em Saint Louis,
Missouri, está desenvolvendo variedades de milho transgênica
que vão permitir rendimento de 28 toneladas por hectare, mais que
o dobro do produzido atualmente naquele país e seis vezes mais
que a produtividade média brasileira.
Essas novas
variedades poderiam logo vir para o Brasil, não fosse as posições
radicais daqueles que abominam o desenvolvimento da agropecuária
e demonizam as sementes transgênicas. Os Estados Unidos estão
se preparando para enfrentar a escassez do produto com essa nova tecnologia.
Eles vão aumentar a produção de etanol com custos
menores e retomar a sua posição no mercado mundial.
A imensa brecha
que se abriu no mercado mundial de milho, soja, álcool, carnes
e outros produtos, poderia facilmente ser tomada pelo Brasil se houvesse
vontade política de eliminar todas as barreiras que existem, inclusive
as de natureza política, para a adoção das novas
tecnologias, não apenas a do milho mais produtivo, mas do resistente
à seca (lembrando a recorrência do fenômeno na Região
Sul), a da soja com maior teor de óleo, inclusive ômega 3,
só para mencionar dois dos produtos de interesse do Paraná
e base para a produção de leite, carnes de aves e suínos
em pequenas propriedades. Na mesma área, hoje utilizada para produzir
no verão oito milhões de toneladas de milho no Paraná,
com as novas variedades transgênicas, seria possível produzir
até 30 milhões toneladas.
Mas se o Paraná,
por um desses milagres, pudesse adotar as novas variedades nos próximos
anos, enfrentaria um outro problema sério: não teria como
escoar uma produção dessa magnitude. Não temos ferrovias,
nem portos e nem rodovias para suportar uma avalanche desse tamanho.
O Brasil e
o Paraná, em particular, têm uma oportunidade fantástica,
mas para aproveitá-la é preciso deixar o preconceito obscurantista
de lado e investir maciçamente em sua infra-estrutura. O século
XXI pode ser nosso mas, para isso, é preciso muita aplicação.
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