(Por Antonio
Carlos Pannunzio*)
Confrontando
os dados do Censo Demográfico de 2000 com a Contagem da População,
efetuada em 2007, o IBGE constatou que, naqueles sete anos, a população
brasileira passou de 170 para 184 milhões de pessoas. Os números
demonstraram uma queda acelerada no ritmo do crescimento populacional.
No fim da contagem, havia 3 milhões de brasileiros a menos do que
nas projeções construídas a partir do Censo. Foi
uma boa notícia: preocupado até agora em ampliar o número
de equipamentos de educação e saúde, o país
começa a ter possibilidade de concentrar investimentos na melhoria
da qualidade daqueles e de outros serviços essenciais.
Se o crescimento
da população do país como um todo se desacelerou,
a Folha de S. Paulo, em reportagem publicada dia 7, constata que em 1.747
municípios brasileiros a população diminuiu. Esse
esvaziamento de 32% da nossa rede de cidades preocupa pelo fato em si
e pelas conseqüências que produzirá sobre os municípios
nos quais a população vem crescendo em ritmo muito veloz.
Veja-se o caso
de Sorocaba. Sua população, pelos números do IBGE,
passou de 493 mil habitantes em 2000 para 559 mil em 2007, o que significa
um aumento de 13%. Esse crescimento a uma taxa 62% maior que a média
nacional foi ditado principalmente pelo bom desempenho da economia local,
mas tem muito a ver com o esvaziamento dos municípios agrícolas.
A reportagem
da Folha observa que, na região Sul, a população
caiu em 54% dos municípios do Paraná e do Rio Grande do
Sul e em 37% dos municípios catarinenses. Em São Paulo,
afetou 23% deles, em particular os do Vale do Ribeira, a área mais
pobre do Estado. Coisa parecida provavelmente ocorreu em muitos municípios
do sudoeste paulista.
Essas perdas
de população estão ocorrendo por motivos que em nada
se diferenciam daqueles que o demógrafo José Francisco de
Camargo apontava, em 1960, em seu livro Êxodo rural no Brasil: esvaziamento
do campo pela mecanização intensiva das culturas, processo
que tende a se acelerar, nos dias de hoje, com a expansão da cultura
da cana.
A contar de
1967 e 1978, sucessivos governos de São Paulo buscaram uma solução
integrada para conter a expansão demográfica na Grande São
Paulo e o êxodo rural no interior. Na administração
de Paulo Egydio Martins (1975/1978), que deu ênfase ao fortalecimento
da rede de cidades médias, o documento inicial da equipe responsável
pelo programa colocou na mesa uma afirmação surpreendente:
não é a cidade que atrai, é o campo que expulsa.
Trinta anos
depois, milhares de famílias sem condições mínimas
de inserção em atividades urbanas altamente especializadas
continuam a trocar as áreas rurais pelas cidades. Não assistidas
em suas áreas de origem, elas transferem às prefeituras
dos municípios em que se fixam uma tarefa muito onerosa, de complexa
realização e êxito duvidoso e tornam-se protagonistas
de pungentes dramas pessoais e familiares com os quais não temos
sabido lidar.
|