(Por Roberto
Rodrigues*)
Talvez
a internet possa ser comparada à roda, em termos de mudança
de paradigma para o comportamento humano. A invenção da
roda revolucionou as relações humanas, aproximou as pessoas,
acelerou as relações comerciais. Mudou o mundo. Diz-se que
não se inventa a roda duas vezes. Pois a internet é a segunda
invenção da roda. O mundo vai mudar de novo.
A imediata
comunicação, as facilidades negociais, o volume de informações,
enfim, tudo o que a internet viabiliza marca uma nova era para a humanidade.
É difícil imaginar o limite para isso e especula-se muito
sobre o papel das instituições de representação
setorial. Quem vai representar quem? Com que legitimidade? Para quê?
As pessoas
poderão resolver tudo a partir de sua máquina: comprar e
vender qualquer coisa, pesquisar, estudar, conversar, namorar, votar.
Fala-se também no risco do isolamento individual, o que contraria
a tendência gregória do ser humano. Tudo é especulação
inquietante, mas o cooperativismo em geral e o agropecuário em
particular precisam atentar para o novo fenômeno.
Um agricultor
poderá, de sua casa, comprar adubo em Budapeste, trator em Los
Angeles ou sementes em Rosário. Poderá vender sua produção
para comprador de qualquer país do mundo. Poderá ter acesso
a crédito ou seguro, poderá contratar gerentes ou contadores,
tudo pelo computador. Poderá ter assessoria jurídica e financeira,
enfim, o céu é o limite.
Onde ficam
as cooperativas neste cenário? É certo que o gerente comercial
que fazia cotações com envelopes lacrados está liquidado.
As informações de mercado ou de clima estão ao alcance
de cada indivíduo, embora, é claro, a imensa maioria dos
produtores ainda não disponha de computador. Mas, logo, todos o
terão. Vai ser barato. Todos se ligarão à internet,
cedo ou tarde.
Qual o papel
das cooperativas, se cada produtor poderá comprar e vender em mercados
transparentes, com informações democráticas e abertas
a todos? Elas terão que se ocupar da logística. Uma coisa
será o produtor comprar o adubo em Vancouver, outra coisa será
esse adubo chegar à fazenda em condições e tempo
hábeis; outra coisa será pagar pelo adubo, ou dar as garantias
para seu pagamento.
A entrega da
produção, sua certificação e rastreabilidade
precisarão ser monitoradas por uma poderosa rede de logística.
Esse será um papel novo para as cooperativas e talvez seu grande
papel. É possível que, se elas não o assumirem, muitas
desapareçam. Será um processo complexo e delicado, que passará
pelo treinamento de recursos humanos para o novo mundo, e em que serão
fundamentais as alianças estratégicas entre os diversos
segmentos das cadeias produtivas. A integração entre os
diferentes ramos do cooperativismo também será indispensável.
Um gigantesco
desafio se imporá: construir a monumental rede de informações
em níveis nacional e mundial que crie a base para
a montagem da Central de Comércio do Cooperativismo. Com uma grande
rede de e-commerce, as cooperativas agropecuárias, ligadas às
de crédito, consumo, etc., poderão ampliar sua participação
nos mercados, locais ou mundiais, justificando sua importância perante
os associados, agregando valor à sua produção, servindo-os.
Eis aí
uma tarefa extraordinária. E o sistema co-operativo precisa enfrentá-lo,
do contrário, como já é recorrente na internet, alguém
o fará em seu lugar. E então, se os serviços não
mais serão primazia das cooperativas: para que elas existirão?
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