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Orgânico por natureza

Ming Liu*

Aquecimento global, movimento verde, novas fontes de energia renováveis, responsabilidade socioambiental, transgênicos e orgânicos são temas nos quais o Brasil aparece em destaque. O setor dos orgânicos é um desses exemplos que, nos últimos dez anos, tem demonstrado grande desenvolvimento, despertado, primeiramente, pela consciência de seus integrantes na cadeia produtiva e, em seguida, pelo interesse e demanda do mercado externo, que cresce em escala exponencial.

A busca do conceito de orgânicos não se restringe apenas a de "produto livre de química, pesticidas, hormônios, antibióticos, radiação e outros tratamentos feitos e produzidos pelo homem". Hoje, a busca vai também para o pensamento filosófico do desenvolvimento da cadeia produtiva, pelo qual o tratamento das pessoas, animais e do meio ambiente é fator determinante para sua certificação e aceitação junto ao consumidor final.

O grande desafio do setor está em como fazer esse trabalho em escala global, quebrando os paradigmas do pensamento purista e entrando para o comércio externo, com a manutenção de todos os benefícios que podem ser gerados na cadeia produtiva local. Atualmente, o país é o sexto maior em extensão de área destinada à produção orgânica e é conhecido como o grande provedor de grãos, cereais, óleos, frutas, produtos de origem animal, como mel e carnes. Além do mais, tem dimensões territoriais vantajosas, biodiversidade presente em todas elas, clima bem temperado nas quatro estações, livre de qualquer desastre meteorológico grave e, principalmente, é trabalhado por um povo que tem cultura diversificada e aberta aos mercados específicos.

Justamente com o objetivo disseminar a capacidade de transformar orgânicos em produtos com a marca e a cara do Brasil e de promover a exportação, o Projeto organicsBrasil foi criado há mais de dois anos. Ele se destina aos agricultores e processadores de orgânicos que possuem Certificação Internacional e visa a preparar os demais para o mercado.

Diversos programas estão em andamento no País, apesar de ainda não possuírem uma legislação específica. Atualmente, o Ministério da Agricultura trabalha para a regulamentação do setor e as ações são efetivadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, dentro do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – que beneficia centenas de agricultores familiares, capacitando-os para produzir alimentos saudáveis e de alto valor agregado. Além disso, o Ministério do Desenvolvimento, por meio da Apex-Brasil, iniciou, em 2005, um Projeto Setorial exclusivamente para promoção dos produtos no mercado externo.

Do lado do setor privado, já encontramos grandes e médias empresas que possuem produtos desenvolvidos adotando alguns conceitos inovadores no seu processo, como a linha de fabricação livre de carbono, a restrição ao uso de produtos de origens animais, o reforço do relacionamento das pessoas, o bem-estar e a saúde educacional.

Atualmente, abrangemos entre 700 e mil empresas e pequenos produtores certificados para vender orgânicos no mercado internacional. Existem entre 6 mil e 10 mil pequenos produtores com alguma certificação local, que ainda não são reconhecidos para a comercialização no exterior.

Daqui para frente, o mercado nacional terá que investir na conscientização dos consumidores, buscando a valorização ética do produto e a produção em escala sem perder seus fundamentos para competir no mercado global, que, constantemente, reconhece o Brasil como um dos principais fornecedores mundiais.




*É coordenador do Projeto organicsBrasil, formado em Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e com mestrado em Ciência de Grãos em KSU-USA
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