(Por João
Guilherme Sabino Ometto*)
O sucesso
de um país na conquista do desenvolvimento depende, entre numerosos
fatores, de sua capacidade de pesquisa e inovação, combinada
com a quebra de paradigmas e o advento de processos produtivos cada vez
mais eficazes para os distintos setores de atividade. Tal reflexão
é pertinente para o Brasil neste momento em que o mundo debate
o risco para a segurança alimentar devido à utilização
crescente de áreas agricultáveis para culturas destinadas
aos biocombustíveis.
Em nosso país,
a discussão deve avançar para um estágio mais elevado.
Todo mundo, inclusive os organismos multilaterais, já reconheceram
que possuímos a maior área agricultável, que podemos
atender toda a demanda de etanol e biodiesel sem reduzir um hectare sequer
nas culturas voltadas aos alimentos e que temos solo, água, tecnologia
e clima adequados.
Dirimidas as
dúvidas sobre esses óbvios indicadores, é importante
avançarmos na análise de um conceito obsoleto, que continua
permeando as discussões sobre o tema no País e até
atrapalhando a disseminação de alguns processos importantes.
Trata-se do propalado antagonismo entre o agronegócio, mais voltado
à produção em escala de commodities e biocombustíveis,
e a agricultura familiar.
Há numerosas
e bem-sucedidas experiências que evidenciam quanto é viável
compatibilizar as duas vertentes. Na África do Sul, por exemplo,
num projeto conjunto, o Departamento de Agricultura e Negócios
do Meio Ambiente e a Associação da Estação
Experimental do Açúcar realizam com sucesso a cultura combinada
de cana-de-açúcar, repolho e batata-doce.
É possível,
com tecnologia adequada, manejo correto das plantações e
respeito à sazonalidade e às potencialidades da terra, compatibilizar
diferentes culturas. Em termos técnicos, duas espécies distintas
podem ser cultivadas em carreiras intercaladas, ou uma plantação
é feita após a colheita da outra. Obviamente, cada caso
deve ser estudado com critério, levando-se em consideração
todas as variáveis agronômicas.
No Brasil,
também há experimentos bem-sucedidos. No interior paulista,
há dois casos que merecem atenção. O primeiro refere-se
aos assentamentos fundiários Monte Alegre, em Motuca. Por lá,
estabeleceu-se parceria entre os produtores e a agroindústria para
a plantação de cana destinada à produção
de açúcar e álcool.
O segundo exemplo
encontra-se em Pradópolis. Em assentamento denominado Horto Guarany,
metade da superfície é ocupada pela produção
de cana-de-açúcar e os outros 50%, dedicados à cultura
de alimentos. Criou-se, num requinte de estrutura, uma associação
agrícola dos pequenos produtores rurais para organizar o regime
de trabalho.
Ambos os exemplos
têm em comum a participação de autoridades estaduais,
municipais e a comunidade. É um somatório de esforços
que culminou com a melhoria da renda e com a qualidade da vida das famílias
de agricultores assentados.
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