Foto rara de uma roda em Salvador dirigida por mestre Pastinha
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João Pequeno e João Grande em
performance famosa na década de 50
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História
Entre as manifestações mais evidentes da cultura
africana durante o período escravagista da história
brasileira, estava a capoeira, uma espécie de brincadeira
feita, na maioria das vezes, dois a dois, como forma de distração
que se transformaria numa defesa pessoal.
De
raízes africanas, a Capoeira Angola foi introduzida no
Brasil pelos escravos, que a cultivavam como dança perante
os brancos recriminadores. O objetivo era não perder a
identidade cultural e ao mesmo tempo exercitar disfarçadamente
técnicas de resistência à opressão,
tanto no aspecto físico ou espiritual.
Atualmente
a Capoeira Angola caracteriza-se como um exercício de liberação
das opressões do dia-a-dia urbano como o stress e o sedentarismo.
A capoeira também se apresenta como uma linha educadora
no sentido de que o praticante se volta mais para os valores humanos,
através da prática do pensamento coletivo e da disciplina
de trabalho em grupo, proporcionando, assim, uma maior integração
do indivíduo na sociedade. Costuma-se dizer que na prática
da Capoeira Angola os praticantes jogam um com o outro e não
um contra o outro. Com a ausência de violência
e competição, a integração do grupo
é cada vez mais ressaltada.
Neste
sentido, acredita-se que com a prática da Capoeira Angola,
além do desenvolvimento físico e psíquico
proporcionado, é possível evidenciar o resgate da
cultura afro-brasileira e a revalorização das raízes
ancestrais do miscigenado povo brasileiro.
Mestre
Pastinha
Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, descendente de
pai espanhol e mãe baiana, nasceu em 1889 na cidade de
Salvador-BA. O princípio de sua vida na roda de capoeiragem
aconteceu quando tinha 8 anos, sendo seu mestre o africano Benedito,
que ao vê-lo apanhar de um garoto mais velho, resolveu ensinar-lhe
os segredos técnicos e filosóficos da Angola. O
resultado apareceu logo; Pastinha nunca mais foi derrotado e continuou
a praticar mesmo enquanto serviu na Marinha de Guerra do Brasil
por um período de oito anos.
Saindo
da Marinha em 1910, inicia sua fase de professor de capoeira,
codificando os golpes e movimentos, criando uma metodologia de
ensino. Pastinha aconselhava que o mais importante era ter calma
no jogo - quanto mais calma melhor para o capoerista; a
capoeira é o pai e a mãe de todas as lutas do Brasil,
dizia ele. Conhecedor dos fundamentos e dos truques na capoeiragem,
cantava, tocava os instrumentos e ensinava como um verdadeiro
mestre.
Seu
primeiro aluno foi Raimundo Aberê, este se tornou um exímio
capoeirista, conhecido em toda Bahia, sendo seguido por outros
de renome como os mestres João Pequeno e João Grande,
o último atualmente residindo em Nova York onde ministra
aulas da capoeira Angola em sua famosa academia.
Mestre
Pastinha inaugurou sua primeira escola no Largo do Cruzeiro do
São Francisco em Salvador. Pastinha dizia: A capoeira
tem o seu dicionário. Ele ensinava que somente a
prática e a vivência eram os verdadeiros professores
da capoeira. Mestre Pastinha era uma pessoa rica em conhecimento
e seu saber transcendia as rodas de capoeira. Viveu intensamente
seus longos anos dedicados à capoeira Angola, mantendo
em sua escola a originalidade da eficiência da luta. Ele
contribuiu categoricamente com o seu talento e dedicação
à capoeira para que a sociedade percebesse a capoeiragem
como uma formidável e rica luta-arte-dança.
Fundou
em 1941 o Centro Esportivo de Capoeira Angola no largo do Pelourinho
e atraiu milhares de pessoas que ficavam impressionadas com as
cantorias, o som dos instrumentos típicos (berimbaus, pandeiros
e agogôs) e principalmente, com os jogos descontraídos
e técnicos.
Mestre
Pastinha morreu esquecido em um quarto decadente no bairro Pelourinho
em Salvador e sua importância histórica e carismática
só foi reconhecida na última década, sendo
sua memória cultivada em todas as academias de capoeira
Angola e por todos os seus praticantes.
Mestre Pastinha (1889 - 1981)
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Curiosidades
da Capoeira Angola
Os alunos de Mestre Pastinha usavam calça preta,
camisa amarela e jogavam calçados. As cores do uniforme
eram a homenagem que Pastinha fazia ao time de seu coração,
o Ipiranga, que usava as mesmas cores.
Jogar
calçado é uma tradição, que o grupo
Angoleiros do Sertão, do Mestre Claúdio, conserva
até hoje. As cores do unifome é que mudam. Para
representar o sertão da Bahia, local onde nasceu o grupo,
usa-se calça marrom e camiseta branca.
Mestre
Pastinha falava: quando eu jogo até pensam que o
velho está bêbado, porque eu fico mole e desengonçado,
parecendo que vou cair. Mas, ninguém ainda me botou no
chão e nem vai botar. Ainda dizia ele: Capoeira
é pra homem, menino, velho e mulher, não aprende
quem não quer.
Pastinha
sempre explicou que na Capoeira Angola não é preciso
bater no adversário. O mais interessante é mostrar
que você não bateu porque não quis. Somente
mostrar os golpes ao adversário é muito mais inteligente
e eficiente do que aplicá-los. Desta forma é que
os negros conseguiam disfarçar a luta em dança dentro
da roda de capoeira..
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