(Ilustração:
caligrafia da Profª. Hisae Sagara, do Templo Busshinji)
Viver
com espírito e corpo sãos... Algo que todo ser humano
deseja para desfrutar ao máximo sua vida. Considerar que
nosso espírito seja algo independente de nosso corpo está
além da verdade. Corpo e espírito são inseparáveis.
Um não existe sem o outro, e esta interdependência
é que torna possível nossa plena existência
que vive o agora. Corpo e espírito... espírito e
corpo... independentemente da ordem, fundem-se num todo.
Quando
se diz que o budismo é uma religião na qual se busca
a elevação e o aprendizado do espírito, a
conotação espírito torna-se passível
de ser associada simplesmente a um estado psicológico no
qual tudo se resolve no âmbito emocional. Entretanto, a
verdade é que espírito e corpo não são
partes distintas, e a busca do equilíbrio desta coexistência
se faz necessária sempre. Se de alguma forma nosso espírito
se transforma, conseqüentemente nosso corpo também
estará passando por alguma transformação.
Se de alguma forma tornamo-nos negligentes em nossa prática,
o acúmulo resultará em desleixo tanto espiritual
como do próprio corpo físico. Espírito e
corpo íntegros, isto sim, é a verdadeira essência
do ensinamento budista.
O espírito
das pessoas é, ao mesmo tempo, a fusão e o acúmulo
de todos os atos e experiências vivenciadas até o
eu presente. É a conseqüência e
o resultado de todo o passado de cada um de nós. Logicamente,
passado é passado, e hoje vivemos o presente em que não
mais existe o passado. Embora esses dois tempos sejam distintos,
é certo que o eu do presente não existiria
sem o eu do passado. Atos passados refletem-se no
dia-a-dia que vivenciamos hoje, e, por mais que tentemos, não
nos é possível ocultá-los. Sentimentos de
ódio, pensamentos e palavras ruins podem se perder e aparentemente
se apagar no momento junto ao passado, mas devemos estar cientes
de que tudo isso também faz parte do eu presente.
Quem já não passou pela situação Que
gafe... mas deixa pra lá, vou simplesmente apagar e esquecer...
? Todos temos algo que tentamos apagar ou guardar a sete chaves,
mas, por mais que tentemos e até consigamos ocultar nossos
erros passados do conhecimento alheio, não conseguiremos
nunca ocultá-los de nós mesmos. Dentre os ensinamentos
de Buda Shakyamuni, aprendemos que devemos evitar falar mal dos
outros assim como não devemos mentir, senão, dessa
forma, estaremos ferindo não só os sentimentos daqueles
que estão a nossa volta, mas também a nós
mesmos. Deixar crescer o eu que fala mal de outros,
que mente e, além de tudo, tenta ludibriar para ocultar
os próprios erros é algo terrivelmente arriscado.
Aquele passado pode simplesmente vir à tona a qualquer
momento, mostrando sua verdadeira face impulsionada por uma simples
circunstância na qual nos deparamos no presente.
Quando
falamos em presente, consideramos também que este inclui
o futuro. É facilmente compreensível que o presente
é resultado do passado. Entretanto, muitas vezes nos esquecemos
que o futuro será o resultado do que praticamos no presente.
O futuro existe no presente porque acreditamos num futuro que,
inconscientemente, tentamos construir no presente que vivenciamos,
no presente que nos é possível simplesmente viver.
Os
ideais a serem alcançados e o desejo veemente de cada um
de realizá-los são capazes de transformar o eu
presente, ou seja, o amanhã está presente no hoje.
Os votos de Buda por meio de seus ensinamentos trazem consigo
um significado importante no sentido de enobrecermos nosso espírito
para sermos dignos de um futuro igualmente nobre.
Passado...
Futuro... O nosso espírito presente é a materialização
de nosso passado e nosso futuro. Cada segundo do nosso presente
momento é ao mesmo tempo passado e futuro...
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